Millennials são os que mais pedem demissão. E também os que mais trabalham

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Bettina Koblick 4 minutos de leitura

A Covid-19 mudou o mundo do trabalho, fazendo com que muitos refletissem sobre seus ambientes profissionais, sobre seus empregadores e sobre o que realmente importa em suas vidas. Uma grande onda de demissões voluntárias se seguiu ao início da pandemia e, conforme ela segue em andamento, a geração Milenium tem enfrentado dificuldades específicas, que acarretam custos emocionais e econômicos.   

Em 2022, a maioria dos millennials está no auge de suas carreiras, tendo acumulado poder de decisão em cargos de gestão e de liderança sênior. Mas como os recursos humanos no trabalho estão sobrecarregados, são os millennials que assumem grande parte da responsabilidade de garantir que a organização atinja seus objetivos de negócios. Na verdade, desde o início da onda de demissões, 83% dos millennials em todo o mundo precisaram assumir até seis novas tarefas que estavam fora das descrições do seu cargo. Isso porque muitos colegas de trabalho haviam pedido demissão.

As demissões voluntárias em massa estão causando um esgotamento também em massa entre os funcionários que resolveram ficar - e, até que as organizações encontrem o equilíbrio certo, a exaustão e os pedidos de demissão persistirão. A forma como trabalhamos não funciona mais e precisa ser corrigida. 

COMBATENDO O BURNOUT NA RAIZ

Um estudo da Indeed descobriu que quase 60% dos millennials sentia que o desgaste no local de trabalho havia se intensificado com essa leva de demissões. Mas as mulheres sentiram ainda mais os impactos negativos da sobrecarga, o que é particularmente problemático, porque elas ainda estão galgando uma equidade nos cargos de liderança. Para que uma empresa crie um ambiente de trabalho saudável e produtivo, ela precisa combater o esgotamento pela raiz, o que significa entender por que os funcionários se sentem esgotados e quais medidas podem ser tomadas para amenizar esse estado.

A conclusão é a seguinte: se o esperado é que os funcionários assumam mais responsabilidades, então os empregadores devem estar dispostos a fornecer benefícios que os compensem por isso. Muitas empresas começaram a testar semanas de trabalho de apenas quatro dias, ou permitiram que os funcionários trabalhassem permanentemente de casa. Os empregadores devem ir além, no entanto, e expandir os benefícios que melhoram o bem-estar de seus funcionários. Um estudo recente do LinkedIn também descobriu que os funcionários da geração Milenium e da geração Z são alguns dos mais fortes defensores de serviços de saúde mental gratuitos, que podem ajudar o trabalhador a se reorientar em tempos de muitas mudanças, a lidar com o estresse da instabilidade e a permanecer motivado.

As empresas também precisam desconstruir a ideia de que trabalhar de casa deveria equivaler a mais horas de trabalho. A mesma pesquisa do Indeed descobriu que mais da metade dos funcionários trabalha mais horas remotamente do que no escritório. As cargas crescentes de trabalho e as pressões contínuas tornaram mais difícil para o funcionário se “desconectar” totalmente. Essa mentalidade desatualizada acaba causando queda de produtividade e de eficiência, porque ela aumenta a tensão para os funcionários, que podem sentir que seu tempo não é valorizado.

Em contrapartida, muitos empregadores estão investindo em treinamento gerencial focado em empatia, com o objetivo de ajudar os trabalhadores a se sentirem apoiados, independentemente de sua função ou localização. Os empregadores também devem checar regularmente as equipes com pesquisas breves para entender como os trabalhadores se sentem sobre sua experiência, suas responsabilidades e seus gerentes. Essa é uma maneira eficaz de valorizar a transparência e pode ser a diferença entre reter ou perder talentos.

REDEFINIÇÃO DE “TRABALHO”

A onda de demissões tem sido tratada de forma menos pejorativa e mais justapela expressão “a onda de viradas na carreira” – as pessoas estão buscando novas oportunidades para um trabalho significativo. As pessoas não obtêm alegria ou senso de valor ao realizar as mesmas tarefas, repetidas vezes, que ocupam a maior parte de seu tempo a cada semana e impedem sua criatividade.

Assim como os computadores pessoais, os dispositivos móveis e o armazenamento em nuvem proporcionaram aos trabalhadores mais liberdade e eficiência, as tecnologias de automação estão aliviando esses trabalhadores das tarefas ordinárias e repetitivas que sobrecarregam seu dia de trabalho e causam desgaste. De fato, 73% dos millennials sentem que a maior parte do dia é consumida por tarefas monótonas, que podem ser automatizadas. Em ambientes onde os robôs de software conseguem realizar as tarefas repetitivas, os funcionários ganham mais tempo para o trabalho estratégico e criativo que alimenta sua paixão e impulsiona o negócio. Além disso, as ferramentas de automação ajudam as empresas a se tornarem mais centradas nas pessoas e mais envolventes para funcionários e clientes.

É essencial para as empresas que elas se adaptem à gestão, nesses tempos em que tantos funcionários pedem para sair do barco. Isso só será possível priorizando a saúde e o bem-estar dos funcionários, que tornam os negócios bem-sucedidos. Como quase metade dos millennials anseia por oportunidades de aprender novas habilidades no trabalho, as empresas precisam dedicar um tempo para entender as necessidades de seus funcionários, ampliar as opções de treinamentos e qualificações para eles e implementar tecnologias que sustentem o trabalho a longo prazo.


SOBRE A AUTORA

Bettina Koblick é chief people officer da desenvolvedora de softwares de automação UiPath. saiba mais