Mulheres: lealdade a qualquer preço pode custar seu progresso profissional

A lealdade pode ajudar na hora de liderar e orientar outras pessoas, mas tende a impedir as mulheres de priorizar o crescimento da própria carreira

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Shanna Hocking 4 minutos de leitura

Nos últimos anos, os líderes têm reclamado da recente onda de pedidos de demissão e discutido várias estratégias para reter seus funcionários. Mas o que está faltando nessa conversa é honestidade de admitir que a lealdade a um trabalho geralmente tem um custo.

Um estudo recente da Duke University mostra que a lealdade dos funcionários pode levar à exploração e ao trabalho não remunerado. E, infelizmente, há motivos para acreditar que essa dinâmica afeta mais as mulheres do que os homens.

Você pode amar seu trabalho e, ainda assim, deixa-lo para trás, para crescer.

Uma pesquisa realizada em fevereiro constatou que quase dois terços das mulheres permaneceram em seus cargos nos últimos 12 meses. No entanto, apenas 68% delas acreditam que seus chefes realmente investem no crescimento de suas carreiras, em comparação com 75% dos homens.

Repetidas vezes, ouvi de clientes, alunos e amigos – principalmente mulheres – que elas considerariam seriamente permanecer em suas funções, mesmo que não estivessem satisfeitas ou fossem desafiadas, devido à lealdade à sua equipe.

É claro que a lealdade pode ser uma vantagem para liderar e orientar outras pessoas, mas também pode impedir as mulheres de priorizar o crescimento de sua própria carreira. Eu chamo isso de “penalização pela lealdade”.

LEALDADE NEM SEMPRE É RECOMPENSADA

O dilema interno que ocorre quando os líderes priorizam a equipe em detrimento de seu próprio avanço profissional não deve ser subestimado. Na minha experiência, a lealdade das mulheres líderes às suas equipe não tem a ver com ego ou com elas pensarem que são as únicas que podem fazer bem o trabalho.

Muitos líderes encontram propósito em seus esforços para fortalecer a cultura corporativa, alcançar metas mais altas e construir uma equipe (ou todas essas alternativas ao mesmo tempo). Grandes líderes desenvolvem fortes conexões com seus colegas e, em algum momento, o impulso para o sucesso se transforma em lealdade.

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A questão é que as mulheres geralmente sentem que precisam continuar em determinadas funções para proteger suas equipes de cenários difíceis, incluindo questões internas da empresa – como um líder sênior autoritário ou políticas que criam obstáculos ao seu sucesso.

Certamente, a lealdade tem benefícios. Por exemplo, os pesquisadores descobriram que ela pode aumentar o

Sua maior lealdade, no fim das contas, deve consigo mesma.

desempenho no trabalho. Além disso, quando a pessoa fica mais tempo na mesma empresa, ganha experiência que a torna mais confiante. Em alguns casos, ela pode ser lembrada para futuras oportunidades de crescimento justamente porque demonstrou dedicação contínua.

No entanto, permanecer leal a uma empresa até o fim pode atrapalhar a carreira. Mesmo nos melhores locais de trabalho, não há certezas de que uma empresa retribuirá o comprometimento, a dedicação e a lealdade do funcionário.

Nas recentes ondas de demissões no setor de tecnologia, centenas de milhares de pessoas foram dispensadas, incluindo funcionários de longa data, e as mulheres foram impactadas de forma desproporcional.

DUPLO VÍNCULO

Além disso, o valor que elas atribuem a permanecer em uma empresa muitas vezes as leva a ter medo de recomeçar em um lugar novo e a minimizar os desafios que estão enfrentando dentro da empresa. E mais: acredita-se que permanecer em um cargo por muito tempo seja uma das causas do aumento da diferença salarial entre homens e mulheres.

As próprias habilidades que as empresas esperam de líderes bem-sucedidas – nutrir, apoiar e colocar os outros em primeiro lugar – muitas vezes acabam se tornando o que as impede de evoluir.

É um exemplo do que a professora Joan C. Williams chama de “duplo vínculo”, ou seja, quando se espera que as mulheres se comportem de uma certa maneira mas acabam sendo penalizadas por isso.

Em vez de penalizar as mulheres por sua lealdade, temos que valorizar suas contribuições e ajudá-las a se valorizarem.

Vários estudos mostram que as empresas subestimam as mulheres e esperam que elas prefiram suas fortes relações de trabalho em detrimento do avanço na carreira. E, ao presumir que elas serão leais às suas funções, as empresas ficam menos propensas a proporcionar reconhecimento proativo, a se esforçar para reter funcionárias ou a oferecer aumentos e promoções.

Se você está pensando no próximo passo em sua carreira, entenda que lealdade não significa continuar onde está para sempre. Fique em um emprego por tempo suficiente para mostrar resultados significativos e continue apenas enquanto ainda estiver aprendendo e crescendo.

Sua maior lealdade, no fim das contas, deve consigo mesma. Você pode amar seu trabalho e, ainda assim, deixa-lo para trás, para crescer.

Embora as empresas possam acreditar que se beneficiam da permanência dos líderes em suas funções pelo maior tempo possível, impedir que alguém avance a ponto de ficar ressentido ou estagnado também pode causar problemas.

Em vez de penalizar as mulheres por sua lealdade, temos que começar a valorizar suas contribuições e ajudá-las a se valorizarem.


SOBRE A AUTORA

Shanna A. Hocking é consultora de liderança, consultora filantrópica e palestrante. saiba mais