Na busca para reter talentos, empresas oferecem benefícios aos pets

Plano de saúde veterinário, licença "PETernidade" e aplicativos para bem-estar animal: pacote de cuidados para pets vira benefício oferecido pelo RH

Crédito: Freepik

Camila de Lira 5 minutos de leitura

Os pets entraram de vez no radar do departamento de recursos humanos. Empresas acrescentam benefícios como assistência de saúde veterinária e licença "PETernidade" no que oferecem para seus colaboradores. Uma nova forma de reter talentos, a iniciativa reflete uma tendência nos lares: a família multiespécie.

O termo é usado para falar sobre as unidades familiares que incluem não apenas humanos, mas bichinhos como cães, gatos, aves e outros. O que é realidade para 93% dos donos de pet no país, segundo pesquisa recente feita pela Quaest. 

A expressão entrou na nova proposta do Código Civil brasileiro e também começa a fazer parte do vocabulário de negócios. Nestlé, P&G, Stefanini, Gerdau e Magalu foram algumas das companhias que acrescentaram planos de saúde veterinários em sua lista de benefícios para funcionários. No último ano, houve aumento de 160% na base de empresas que contratam os planos da Petlove.

A Petlove é a empresa com maior participação de mercado no segmento de assistência veterinária, que cresce no Brasil junto com o mercado de pets. Nada menos que sete em cada 10 brasileiros têm animais de estimação.

"O movimento da sociedade é maior do que qualquer outro. A empresa precisa olhar e compreender como responder a essas mudanças", diz o chefe de recursos humanos da companhia, Bruno Junqueira. 

Crédito: Marcelo Krasilcic/ Petlove

Na paulistana Môre, consultoria de design e estratégia digital, por exemplo, 72% dos funcionários são tutores de pets. Ao descobrir esse levantamento, a startup gestora de talentos de tecnologia e design percebeu que oferecer benefícios para os bichinhos faria sentido com o seu público de colaboradores. A empresa já tinha a licença PETernidade, que dá de dois a três dias de folga para quem adota um animal. 

O plano de saúde pet entrou na lista de benefícios extras oferecidos pela Môre este ano, no que a diretora de recursos humanos da empresa, Maria Regina César, chamou de "compromisso em cuidar não apenas dos colaboradores, como também dos membros não humanos de suas famílias". 

De acordo com Maria Regina, mais da metade dos funcionários optou por usar a assistência à saúde veterinária. "Entendemos que cuidar dos pets dos nossos funcionários contribui para a felicidade e estabilidade emocional de nossos times", diz.

"MÃE DE PET"

O amor pelos bichinhos é tanto que não é incomum os tutores se autointitularem mães e pais de pet. De acordo com o levantamento Radar Pet 2023, 24% dos donos de cães consideram o animal um "filho". Em 2018, eram 18%. 

Uma delas é Beatriz Henrique. A designer de produto na Môre se apresenta como "mãe" de Mia, uma vira-lata branca com manchas caramelo. A cachorrinha foi adotada durante a pandemia e se tornou o apoio emocional que Beatriz precisou para superar as crises de ansiedade e de pânico que teve durante os momentos mais duros da quarentena.

Mia: apoio emocional na quarentena (Crédito: Arquivo Pessoal)

Beatriz não foi a única que adotou um pet neste período. O número de animais domésticos em lares brasileiros cresceu 30% na pandemia e 23% dos tutores adquiriram seu primeiro pet durante o isolamento social, indica a Radar Pet 2021, organizada pela Comissão de Animais de Companhia (COMAC) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan) . 

No final do ano passado, foi a hora da Beatriz devolver o apoio de Mia. A cachorrinha foi diagnosticada com erliquiose, a grave doença do carrapato. Mia fez tratamentos que, em parte, foram bancados pelo plano de saúde veterinário oferecido pela Môre. "Para mim, o plano de saúde veterinário é mais do que diferencial, é um benefício que me faz querer ficar muitos anos na empresa", diz.

Nada menos que sete em cada 10 brasileiros têm animais de estimação.

Quase 6% das empresas com o selo da Great Place to Work – consultoria que analisa as melhores companhias para trabalhar – no país oferecem parceria com clínicas veterinárias e petshops; 10% dão descontos em lojas de produtos e serviços para animais. Para 46% dos gestores de RH dessas companhias, o plano veterinário é visto como benéfico.

Segundo pesquisa feita pela Nestlé, 41% dos funcionários millennials, por exemplo, escolheriam uma empresa pet-friendly em detrimento de outra que não lide com os animais. O indicador foi maior do que a quantidade de pessoas da mesma geração que consideram vantajoso ter um seguro-saúde da empresa.

BEM-ESTAR DE TODOS

Além da assistência de saúde e da licença, as companhias também oferecem serviços de cuidado com o bem-estar do pet. A startup gaúcha Flockr tem um aplicativo para monitorar a saúde e o dia a dia do animal doméstico. Com mais de 70 mil cadastros, o app está crescendo em público empresarial. 

Crédito: Marcelo Krasilcic/ Petlove

Companhias como a Gerdau, no Rio Grande do Sul, oferecem as áreas pagas do aplicativo para os colaboradores cuidarem da saúde de seus animais de estimação. "O pet já tem lugar no coração das pessoas. A empresa que oferece esse diferencial ganha na questão de vínculos com os funcionários", diz o CEO e fundador da Flockr, Matheus Frozzi Alberton. 

Há discussões avançadas na Câmara dos Deputados para alterar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de modo a incluir os planos de saúde para animais domésticos entre os benefícios fixos para funcionários. São ações propostas pelo Projeto de Lei 5636/23 que, no momento, está na Comissão de Trabalho na Câmara, com boas chances de passar.

Enquanto a população canina e felina brasileira cresce – são 149 milhões de bichinhos –, o caminho para as empresas será abraçar e reforçar os laços já criados entre humanos e pets.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais