Não dá mais para ignorar a solidão no trabalho. Este psicólogo explica por quê
Os efeitos emocionais e psicológicos da solidão têm consequências profundas tanto para os funcionários quanto para as empresas
A solidão – descrita como a sensação de que nossas necessidades sociais não estão sendo atendidas – é um problema preocupantemente comum, como mostram diversos estudos.
Uma pesquisa recente da Gallup, por exemplo, aponta que cerca de 20% dos adultos nos Estados Unidos se sentem solitários diariamente – o maior índice registrado nos últimos dois anos (o recorde histórico, de 25%, ocorreu durante o auge da pandemia de Covid-19).
Os efeitos negativos da solidão no desempenho profissional e na qualidade de vida são amplamente documentados. Veja o que a ciência tem a dizer sobre como esse sentimento pode prejudicar funcionários e gestores:
- A solidão reduz a criatividade, inibe comportamentos colaborativos e prejudica a construção de um ambiente de companheirismo no trabalho.
- Afeta a motivação para cultivar boas relações em equipe e a colaboração, prejudicando o desempenho nas tarefas e os relacionamentos.
- Diminui o envolvimento emocional com a organização, levando a níveis mais baixos de engajamento e aumentando os casos de “demissões silenciosas” (ou mesmo explícitas).
- Eleva o risco de burnout, o que, por sua vez, aumenta as chances de rotatividade, absenteísmo e problemas de bem-estar. Isso é particularmente preocupante em profissões que exigem empatia e contato direto com pessoas.
Em um mundo cada vez mais conectado, a solidão pode parecer contraditória, mas é muitas vezes resultado da dependência excessiva da comunicação digital. Quanto mais conectados estamos virtualmente, menos conexões significativas temos no mundo real.
A falta de vínculos sociais no trabalho agrava ainda mais o problema. Modelos híbridos, que reduzem o contato presencial, podem enfraquecer o senso de pertencimento e criar uma sensação de vazio na identidade profissional e pessoal.
O local de trabalho sempre foi mais do que um espaço para executar tarefas. É também um ambiente social onde buscamos reconhecimento, colaboração e aceitação.
Quando essas necessidades não são atendidas, o impacto vai além do indivíduo, afetando a segurança psicológica, a autoestima e a confiança entre colegas. Isso tem consequências diretas na saúde mental, na dinâmica das equipes, na cultura organizacional e no desempenho profissional.
as empresas precisam agir de forma estratégica para criar um ambiente mais conectado e acolhedor.
Além disso, os efeitos da solidão não estão restritos ao ambiente de trabalho. Eles impactam profundamente a saúde geral e a qualidade de vida.
Pessoas que se sentem solitárias têm quase cinco vezes mais chances de avaliar negativamente sua qualidade de vida, enfrentam um risco 29% maior de morte prematura e apresentam índices mais altos de transtornos como depressão e ansiedade. A solidão é duas vezes mais comum entre aqueles que já enfrentam problemas de saúde mental.
Dada a gravidade do problema, as empresas precisam agir de forma estratégica para criar um ambiente mais conectado e acolhedor. Algumas iniciativas incluem:
- Incentivar atividades sociais, como dinâmicas de integração, programas de mentoria e encontros informais; adotar estilos de liderança que valorizem empatia, apoio e comunicação aberta, como a liderança servidora.
- Oferecer programas de mindfulness e gestão de estresse para ajudar os funcionários a lidar melhor com os desafios emocionais; e incentivar uma cultura de abertura, na qual as pessoas se sintam confortáveis para falar sobre seus sentimentos de isolamento, ajudando a reduzir o estigma e promovendo um ambiente de trabalho mais saudável.
A solidão não é apenas um problema pessoal ou social – é uma crise que também afeta diretamente as empresas. Reconhecer a importância das conexões humanas e implementar medidas para incentivar o engajamento e a inclusão são passos essenciais para combater essa epidemia e criar uma força de trabalho mais saudável, motivada e produtiva.