Não é falta de tempo: as redes sociais é que estão arruinando seu dia de trabalho
Pesquisa sugere que seu feed nas redes sociais podem estar influenciando seu humor e sua produtividade muito mais do que você imagina

Quando o trabalho começou a rarear para a jornalista freelancer Megan Carnegie, ela se viu pulando compulsivamente entre aplicativos e redes sociais. “LinkedIn, WhatsApp, e-mails – e isso era péssimo para minha concentração”, diz ela. “Eu estava ansiosa por conseguir trabalho.”
Por impulso, Carnegie entrou em uma loja de equipamentos de informática usados e comprou um celular antigo, um Nokia básico. Durante o expediente, usava o aparelho para chamadas; à noite, voltava ao smartphone. Sem acesso a aplicativos e com uma forma a menos de entrar na internet, a urgência e a ansiedade desapareceram.
Os efeitos das redes sociais na saúde mental têm sido um tema recorrente de debate em 2025. O best-seller do psicólogo social Jonathan Haidt, "A geração ansiosa", descreve os impactos sobre adolescentes, incluindo sua importante contribuição para a ansiedade e a depressão entre jovens adultos.
O que recebe menos atenção é como isso afeta as pessoas no trabalho. Mas um novo relatório começa a mostrar como o que vemos online pode infiltrar-se na vida profissional.
Um novo estudo da Universidade Rutgers, publicado no "Journal of Organizational Behavior", concluiu que o conteúdo visto nas redes sociais durante o trabalho pode influenciar o humor, a motivação e até a forma como alguém trata os colegas.
Os pesquisadores acompanharam 133 trabalhadores duas vezes por dia, ao longo de duas semanas. Pediram que descrevessem o post mais “saliente”, ou memorável, visto naquele dia, e depois como se sentiram e quão produtivos foram no trabalho.
Depois, o questionário foi repetido com 141 novos participantes, desta vez incluindo colegas de equipe, que também avaliavam o comportamento e a produtividade dos entrevistados.
Os pesquisadores dividiram os posts em quatro categorias: atraentes (fotos que chamam atenção), familiares (primeiro dia de aula dos filhos), polêmicos (política ou conteúdo provocativo) e de conquistas (promoções no trabalho). Em seguida, mediram como esses tipos de conteúdo influenciavam a autoconfiança, a ansiedade, a produtividade e o retraimento social dos funcionários.

Eles descobriram que posts sobre família ou amigos tendem a aumentar a confiança, enquanto desabafos políticos elevam a ansiedade e fazem as pessoas se retraírem. Já posts de conquistas podem estimular ou desmotivar, dependendo da personalidade de quem vê.
Os mais competitivos tendem a se sentir motivados por conteúdo ligado a realizações; quem não tem esse perfil costuma se sentir desanimado.
Os resultados indicam que alguns trabalhadores poderiam se beneficiar ao limitar o uso de redes sociais no expediente. Mas, para quem trabalha diretamente com elas, largar o hábito pode ser mais difícil.
A ESTRELA DO LINKEDIN QUE QUASE NÃO ROLA O FEED
Alison Taylor é autora e professora na Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York e escreve sobre ética corporativa. Apesar de ter sido chamada de “superusuária” do LinkedIn pelo "Financial Times", graças aos seus mais de 60 mil seguidores, ela passa pouquíssimo tempo na plataforma.

“Acordo, tomo um café, escrevo o post, não fico preocupada em deixá-lo perfeito, corrijo erros depois”, conta.
Taylor sabe que não deve alimentar trolls, mas adora um bom debate e às vezes não resiste a responder seguidores que cutucam demais. Embora volte algumas vezes ao longo do dia para comentar, ela entra e sai rapidamente. A distração não vale a pena.
Para quem precisa passar horas nas redes – como profissionais de RP, marketing e mídias sociais –, o estresse pode ser inevitável. Cerca de 77% das pessoas que trabalham com redes sociais estão esgotadas, segundo uma pesquisa com leitores feita por Rachel Karten, autora da newsletter Link na Bio.
Já existes aplicativos que bloqueiam o acesso a determinados apps por um período.
Nicholas Budler, que trabalha com relações públicas para empresas de tecnologia corporativa, passa o dia observando oportunidades para seus clientes. Quando o engajamento está alto, a sensação é boa, mas, quando não está, ele se pergunta se vale a pena gastar tanto tempo ali.
Ele costumava criar muitas estratégias de redes sociais para clientes, mas hoje faz cada vez menos. “Considero isso brain rot", afirma, em alusão à expressão escolhida como palavra do ano em 2024 pelo dicionário Oxford e que quer dizer algo como "apodrecimento do cérebro",
É PRECISO ABANDONAR HÁBITOS ARRAIGADOS
O uso frequente de redes sociais já foi associado a maior irritabilidade em adultos, além de depressão agravada. Alguns pesquisadores chegaram a propor o conceito de “metaestresse”, isto é, o estresse causado pelo próprio estresse das redes.
Mesmo assim, há quem esteja ganhando dinheiro para ajudar as pessoas a se afastarem dessas plataformas. Aplicativos como Freedom, AppBlock e SelfControl bloqueiam o acesso a determinados apps por períodos determinados; alguns não podem ser desativados até que zerar o tempo marcado no cronômetro.
Mas nem essas ferramentas bastam para reduzir hábitos profundamente arraigados. Budler é um usuário constante fora do trabalho, com contas no Instagram, no aplicativo de corrida Strava, na plataforma de leitura Goodreads e no TikTok – este último, segundo ele, o mais viciante.

Seu relatório mais recente de uso de tela no celular registrou pouco mais de 20 horas na última semana, sendo nove delas nas redes sociais.
Rebecca Greenbaum, coautora do estudo de Rutgers, não é contra as redes. “Acho que podem ser uma pausa divertida. Podem ser uma pausa útil. Podem adicionar um pouco de interesse ao dia de alguém”, diz.
Mas, para evitar a rolagem automática e sem pensar, ela sugere tratá-las como o intervalo para fumar dos anos 1980: levante da mesa, vá a outro lugar e limite o tempo.
É uma estratégia que funciona para Megan Carnegie. “Estou tentando ser mais intencional sobre como uso essas plataformas. O celular básico tem sido um bom exercício. Agora estou um pouco menos ansiosa com o trabalho.”