Nos EUA, mulheres perdem espaço com o fim do trabalho remoto

Relatório McKinsey/Lean In mostra que retrocesso corporativo e estigma da flexibilidade travam o avanço feminino

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Grace Snelling 2 minutos de leitura

A consultoria McKinsey e a organização sem fins lucrativos Lean In divulgaram seu relatório anual Women in the Workplace, que analisa como as disparidades de gênero afetam as perspectivas profissionais das mulheres.

Infelizmente, os resultados deste ano mostram que as empresas estão recuando em seu compromisso com a equidade. E um dos reflexos disso é a crescente dificuldade para que mulheres trabalhem no esquema remoto.

Os resultados desta 11ª edição do relatório refletem um padrão mais amplo no setor corporativo dos EUA: um recuo nas iniciativas inclusivas em meio a uma administração federal que tem se empenhado em reduzir políticas de diversidade, equidade e inclusão.

Segundo o estudo, duas em cada 10 empresas dizem dar pouca ou nenhuma prioridade ao avanço profissional das mulheres, número que sobe para três em cada 10 quando se trata de mulheres não brancas.

Além disso, quase uma em cada seis empresas reduziu programas formais de mentoria ou descontinuou iniciativas de desenvolvimento de carreira voltadas especificamente para mulheres.

“Este ano, apenas metade das empresas está priorizando o avanço profissional das mulheres, parte de uma tendência de queda no compromisso com a diversidade de gênero”, afirma o relatório.

Um dos maiores obstáculos ao sucesso das mulheres no mercado de trabalho é que, na era do trabalho flexível, elas são penalizadas por optar pelo trabalho remoto – embora, ao mesmo tempo, continuem sendo cobradas para assumir a maior parte das tarefas domésticas.

TRATAMENTO DIFERENCIADO PARA HOMENS E MULHERES

A pesquisa indica que mulheres que trabalham remotamente a maior parte do tempo têm menos chance de ter um incentivador – alguém que impulsiona seu avanço na carreira – do que as que trabalham em regime presencial. Além disso, foram menos indicadas a promoção nos últimos dois anos.

Já entre os homens, o nível de incentivo e promoções permanece praticamente igual, independentemente do regime de trabalho. Quase metade (49%) dos homens que trabalham a maior parte do tempo de forma remota foram promovidos nos últimos dois anos, enquanto apenas 37% das mulheres na mesma situação tiveram o mesmo resultado.

funcionária em trabalho remoto vista através de vidro quebrado

Da mesma forma, 52% dos homens em esquema predominantemente remoto tinham um incentivador no trabalho, contra apenas 37% das mulheres. Mulheres que comparecem mais ao escritório veem essas porcentagens subir bastante, enquanto homens registram apenas um aumento marginal.

Para agravar esse cenário, as empresas nos EUA estão começando a reduzir as opções de trabalho flexível. O relatório aponta que uma em cada quatro empresas agora oferece menos oportunidades remotas ou híbridas.

duas em cada 10 empresas dizem dar pouca ou nenhuma prioridade ao avanço profissional das mulheres.

Isso é especialmente prejudicial para as mulheres que, apesar de serem mais penalizadas por trabalhar remotamente, continuam a carregar mais responsabilidades em casa. Em 2024, mulheres com parceiros foram três vezes mais propensas do que homens a assumir toda ou a maior parte da carga doméstica.

Este ano, quase 25% das mulheres em cargos iniciais ou de liderança que disseram não ter interesse em uma promoção alegaram que responsabilidades pessoais dificultam assumir mais trabalho; apenas 15% dos homens citaram o mesmo motivo.

“O estigma da flexibilidade é um dos maiores fatores que impedem o avanço das mulheres”, destaca o relatório. “Quando recorrem a arranjos flexíveis, colegas muitas vezes presumem que elas são menos engajadas e produtivas, enquanto o comprometimento dos homens é tomado como garantido.”


SOBRE A AUTORA

Grace Snelling é colaboradora da Fast Company e escreve sobre design de produto, branding, publicidade e temas relacionados à geração Z. saiba mais