Nova sede da Cisco em Nova York aponta como será o futuro do trabalho

Que pistas os novos formatos das mesas de reunião nos trazem sobre as formas de trabalhar no futuro

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Phil Simon 5 minutos de leitura

Mesas de reunião costumam ser sempre muito parecidas. Mas quando eu estava na fase de pesquisas para o meu novo livro, uma de formato diferente chamou minha atenção. Arrisco dizer que essa mesa é um excelente ponto de partida para entendermos e para nos prepararmos para formas de trabalhar do futuro.

Aposto que ninguém descreveria a Cisco – um conglomerado de tecnologia de comunicação digital – como uma empresa “sexy”. John Chambers, ex-presidente executivo e CEO, disse uma vez que a companhia é responsável pelo “encanamento” que faz a internet funcionar.

A liderança da Cisco está determinada a evitar que trabalhadores remotos e híbridos sejam vistos como menos importantes.

Roteadores, modems, switches e outros tipos de hardware não se encaixavam na definição de “empolgante” dos clientes. Mas não se engane: e-mails, sites e redes wi-fi não funcionariam sem produtos como os da Cisco.

Como a tecnologia está incorporada ao DNA da empresa, era de se esperar que seu novo escritório em Nova York fosse totalmente equipado com os mais modernos dispositivos. O espaço de quase 5,5 mil metros quadrados serve como uma vitrine para os produtos e como um divulgador da perspectiva da Cisco de como será o futuro do trabalho (alerta de spoiler: o futuro é híbrido).

A antiga configuração dedicava 70% do espaço para baias e estações de trabalho individuais. Os outros 30% eram para trabalhos em equipe. Depois da reformulação, esses números se inverteram. Para que ir a um escritório se você está, basicamente, codificando, verificando seu e-mail ou fazendo outros tipos de trabalho que não são colaborativos?

Crédito: Andrey Popov/ iStock

A Cisco também instalou câmeras em todos os lugares. Assim, consegue monitorar a ocupação de cada andar a todo instante. Os dispositivos móveis dos funcionários e os pontos de acesso sem fio permitem que os gerentes saibam onde estão os funcionários e visitantes "anônimos".

A ausência de mesas e salas fixas torna o rastreamento desses dados especialmente importante. Os trabalhadores ficariam irritados (com razão) caso chegassem ao escritório para uma reunião e descobrissem na hora que não há espaço livre para realizá-la.

No final do ano passado, um perfil publicado no "The Wall Street Journal" trouxe alguns detalhes interessantes sobre o novo escritório, onde trabalham 1,7 mil pessoas. A Cisco

Apesar dos protestos de muitos CEOs, o trabalho remoto e híbrido veio para ficar. As pessoas apreciam demais a flexibilidade e a liberdade para abrir mão dela.

coleta cinco mil pontos de dados individuais por vez. A tecnologia também rastreia o número de participantes de uma reunião e de pessoas em uma determinada sala. Os sensores capturam a qualidade do ar, a temperatura e a umidade.

“Depois que o modelo híbrido chegou para ficar, temos observado uma ênfase maior em espaços de comodidade e de colaboração”, disse Juliette Poussot, diretora de design da Gensler ao "The Wall Street Journal". “As pessoas estão indo ao trabalho para ficar junto com outras pessoas, para fazer as coisas que não podem fazer quando trabalham em casa”.

A liderança sênior da Cisco está determinada a evitar que trabalhadores remotos e híbridos sejam vistos como menos importantes. O estrategista de tecnologia no local de trabalho da empresa, Mark Miller, chama esse princípio de combate ao preconceito contra os trabalhadores remotos de “igualdade digital”.

E ele começa com coisas simples, como o formato das mesas das salas de reunião. As retangulares geralmente dificultam que os participantes de uma reunião virtual vejam os outros e vice-versa. Mas observe um projeto da mesa de reuniões da Cisco:

Crédito: Cisco

Aqueles que se conectam de modo remoto conseguem facilmente ver quem está participando in loco e vice-versa. O ângulo da mesa foi projetado para ser capturado por câmeras na frente da sala e para garantir que todos tenham uma visão clara da tela frontal.

Além disso, os microfones estão estrategicamente posicionados para capturar as vozes dos participantes. Até mesmo o acabamento fosco da mesa foi projetado para ajudar a refletir a luz nos rostos das pessoas presentes no local.

A Cisco não é a única que está apostando todas as fichas no futuro híbrido do trabalho e que tem projetado seus escritórios segundo essa visão. Nenhum jovem jamais confundiria, por exemplo, os escritórios recém reformados da Adobe, da Marriott e da Amazon com os andares cheios de baias onde seus pais trabalhavam. 

As sedes corporativas redesenhadas são frequentemente menores, mais modernas, mais versáteis e, graças à nova tecnologia, muito mais acessíveis e igualitárias para trabalhadores remotos e híbridos.

Transformações de alta tecnologia como essas podem até não ser capazes de eliminar totalmente o preconceito contra funcionários que não comparecem fisicamente ao escritório, ou outros problemas espinhosos inerentes ao trabalho remoto e híbrido. No entanto, à medida que as empresas redesenham seus espaços, muitas delas estão se fazendo duas perguntas importantes:

- O novo layout melhorou a experiência dos trabalhadores remotos e híbridos?

- Essas mudanças estão preparando o terreno para melhorias futuras e para experiências bem-sucedidas?

As sedes corporativas redesenhadas são frequentemente menores, mais modernas, mais versáteis e, graças à nova tecnologia, muito mais acessíveis e igualitárias para trabalhadores remotos e híbridos.

Apesar dos protestos de muitos CEOs, o trabalho remoto e híbrido veio para ficar. As pessoas apreciam demais a flexibilidade e a liberdade para abrir mão dela. Pesquisas reforçam que os trabalhadores estão dispostos a brigar por essa conquista.

Fazer o trabalho assíncrono realmente funcionar não é fácil. É algo que exige mais do que discursos vazios como “nossos funcionários são nosso ativo mais importante”. Novas tecnologias são necessárias, mas não suficientes. Reimaginar pequenos detalhes do cotidiano do local de trabalho é o que minimiza a desconexão entre os funcionários virtuais e seus colegas presenciais.

A dispersão física é uma força poderosa e irreversível. Para minimizar os desafios associados a isso, é essencial fazer escolhas criteriosas sobre os espaços em que trabalhamos – e até sobre o formato das mesas em que nos sentamos.


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