O futuro do trabalho será visual – e liderado pela geração Z

Eles cresceram com stories, figurinhas e gestos de deslizar. Agora estão transformando a maneira como nos comunicamos, colaboramos e criamos

jovem da geração Z tenta visualizar o futuro do trabalho
Créditos: enot-poloskun/ Rytis Bernotas/ Getty Images

Rob Giglio 4 minutos de leitura

Existe uma mudança acontecendo no ambiente de trabalho que vai muito além das discussões sobre home office, benefícios ou o que tem no café da empresa. A geração Z – que aprendeu a se expressar com imagens, vídeos curtos e mensagens visuais – está mudando, na prática, a maneira como o trabalho é feito.

Depois de analisar dados de 2.475 profissionais na nossa pesquisa mais recente, estou convencido de que eles estão moldando o futuro do trabalho.

A geração Z entende algo que muitas empresas ainda estão tentando acompanhar. Em um mundo abarrotado de informação, clareza é uma vantagem competitiva. E, hoje, essa clareza costuma vir do visual.

Ferramentas de trabalho costumam refletir comportamentos sociais – só que com um certo atraso. Foi assim quando a cultura do SMS abriu caminho para o Slack. Agora, o jeito visual da geração Z influencia diretamente a forma como colaboramos dentro das empresas.

A tecnologia não está puxando essa mudança. Ela está apenas tentando alcançar a maneira como as pessoas já se comunicam fora do trabalho. O resultado é a expectativa comum de que tudo precisa ser visual, colaborativo e intuitivo.

Entre os profissionais da geração Z que ouvimos, a maioria diz que trabalha melhor quando pode pensar e se expressar visualmente. Eles também acreditam que saber “pensar em imagens” os torna profissionais mais valiosos e mais preparados para o futuro.

Enquanto gerações mais velhas ainda olham para a inteligência artificial com certa cautela, a geração Z tende a enxergá-la como uma extensão natural da própria criatividade.

O problema é que muitos desses profissionais acabam sendo limitados por sistemas ultrapassados e ferramentas que não conversam entre si. Isso quebra o fluxo de trabalho. Não por acaso, mais da metade gostaria que suas empresas adotassem, de vez, uma abordagem visual como ponto de partida.

POR QUE A COMUNICAÇÃO VISUAL FUNCIONA

Nossa pesquisa em neurociência, feita em parceria com a Neuro-Insight, ajuda a explicar por que essa intuição da geração Z faz sentido.

O cérebro processa imagens de forma muito mais eficiente do que blocos de texto pouco atraentes. Conteúdos visuais ativam a memória muito mais rápido do que versões monótonas do mesmo material. Em testes controlados, apresentações bem construídas despertaram mais emoção e foram mais bem recebidas do que versões visualmente pobres.

O mesmo vale para documentos. Quando o design é melhor, as pessoas se envolvem mais e lembram do conteúdo por mais tempo. A emoção prende a atenção. E a atenção ajuda a lembrar.

Ilustração: Fast Company

Isso muda bastante coisa. Empresas que priorizam comunicação visual relatam conversas mais claras, menos ruído e mais alinhamento. Também percebem maior consistência de marca e diferenciação mais nítida.

Hoje, 89% dos líderes já dizem que saber se comunicar visualmente é uma habilidade essencial para cargos de liderança. A questão, portanto, não é se vale a pena se adaptar, mas o quão rápido conseguem desenvolver essa habilidade dentro de suas equipes.

Empresas que resistem a essa mudança pagam um preço. Nos Estados Unidos, companhias gastam cerca de US$ 65 mil por ano, por pessoa, com produção de conteúdo visual. Mesmo assim, mais de 90% dos líderes e de profissionais da geração Z continuam enfrentando obstáculos que os impedem de entregar seu melhor trabalho criativo.

O QUE LÍDERES PRECISAM FAZER AGORA

Para quem ocupa posições de liderança, a fluência visual da geração Z não é só uma questão de eficiência. Ela mexe com a motivação, a autonomia e a criatividade.

Quando perguntamos à geração Z o que mudaria se as empresas fossem mais visuais, as respostas foram claras: mais vontade de contribuir, mais liberdade para criar e mais segurança para compartilhar ideias.

Em um mundo abarrotado de informação, clareza é uma vantagem competitiva.

Esses profissionais querem usar IA, testar novas abordagens e criar experiências visuais que gerem resultados. As organizações que oferecem ferramentas adequadas, apoio real e confiança conseguem elevar o nível do trabalho como um todo.

Os profissionais da Geração Z querem liderar com IA, experimentar novas abordagens e criar experiências visuais que gerem resultados. As organizações que fornecerem os sistemas, o suporte e a confiança certos desbloquearão um trabalho melhor em todos os sentidos. Como fazer isso?

  • Analise suas ferramentas: peça aos chefes de departamento que façam um inventário das ferramentas visuais que utilizam atualmente. Se forem mais de quatro, você tem um centro de custos que pode precisar de consolidação.
  • Documente a ineficiência: mapeie todas as ferramentas visuais que suas equipes usam atualmente, identificando sobreposições e redundâncias. Apresente os dados para justificar a consolidação e alinhar marketing, TI e finanças quanto ao custo operacional da ineficiência.
  • Implemente um projeto piloto de 30 dias: teste ferramentas visuais com IA em fluxos de trabalho reais com KPIs de referência: tempo economizado, volume de produção e consistência da marca. Use os resultados para construir uma justificativa baseada em dados para o investimento, focando no desempenho em vez do potencial.
  • Promova um "sprint visual": escolha um processo legado – por exemplo, integração de novos funcionários, briefings de produtos ou comunicações internas – e peça às equipes que o redesenhem usando abordagens que priorizem o visual.

Hoje, quatro gerações dividem o mesmo ambiente de trabalho – e uma quinta, a geração Alpha, já está se aproximando. As empresas que souberem aproveitar a fluência visual, a familiaridade com IA e o impulso criativo da geração Z terão uma clara vantagem competitiva.


SOBRE O AUTOR

Rob Giglio é chief customer officer do Canva e ex-CMO da Docusign. saiba mais