O lado bom de um ambiente de trabalho disruptivo: passamos a escrever mais

Crédito: Csaba Balazs/ Unsplash

Martha B. Coven 4 minutos de leitura

A pandemia transformou os hábitos de trabalho de muita gente. Em meio às lutas para garantir cuidados infantis e uma conexão de internet confiável, experimentamos uma revolução em outro aspecto fundamental da vida profissional: a escrita.

Muitos trabalhos agora dependem de um malabarismo constante entre e-mails, mensagens do grupo de trabalho e mensagens de texto para manter os projetos em andamento. Novos colegas e clientes podem chegar até nós pela primeira vez por meio desses canais. Na hora de fechar um negócio, emojis estão substituindo o tradicional aperto de mão.

As famosas reclamações de que “essa reunião poderia ter sido um e-mail” estão começando a ser ouvidas. O fato de cada funcionário estar fazendo o seu próprio horário de trabalho significa menos reuniões e mais comunicação escrita e assíncrona. Também estamos investindo mais tempo em promover ideias e produtos nas mídias sociais, onde a qualidade do conteúdo escrito é fundamental.

A forma como você escreve pode afetar sua reputação profissional e a capacidade de fazer o seu trabalho. Mas, se uma boa redação é mais importante do que nunca, como garantir que a sua seja eficaz? 

TRÊS DICAS PARA ESCREVER COM CLAREZA

Primeiro, vá direto ao ponto. Na era digital, ser claro sobre a intenção e o argumento é fundamental. Você não pode esperar que as pessoas parem de passar o dedo sobre a timeline se não der a elas um bom motivo para isso. Então, faça sua mensagem se destacar logo de cara e use as linhas de assunto do e-mail com sabedoria. Escrever coisas como “Proposta” ou “A quem possa interessar” é um desperdício de espaço. Prefira algo específico como “Agenda de retiro – inscrição até sexta-feira”.

A forma como você escreve pode afetar sua reputação profissional e a capacidade de fazer o seu trabalho.

Em segundo lugar, pense no seu público. A escrita não vem acompanhada de expressões faciais. Claro que emojis e GIFs ocasionais podem ajudar, se apropriados ao seu ambiente de trabalho. Mas, mais importante, é escolher uma linguagem que faça o leitor prestar atenção.

Pense no que importa para ele, não para você. A menos que esteja rascunhando em um diário, o objetivo de escrever é conectar-se com os outros. Tome cuidado especialmente ao se comunicar com alguém que você nunca conheceu, para evitar ser mal interpretado.

E, finalmente, seja esperto ao usar o espaço da página ou da tela. Blocos longos de texto parecem chatos, então, faça parágrafos curtos. Observe como os jornalistas escrevem, com parágrafos nítidos que explicam claramente situações complexas. É isso que estamos nos esforçando para fazer no trabalho.

Se o tamanho for medido em páginas, em vez de parágrafos, use títulos que resumam seu ponto de vista sobre o tópico a ser debatido, para ajudar o leitor a navegar pelo documento. Por exemplo, em vez de um título como “Custos e benefícios de adicionar uma nova linha de produtos” (o que deixa o leitor no escuro sobre a sua conclusão), escreva: “Adicionar uma nova linha de produtos seria muito caro”.

Coloque títulos úteis em slides, bem como nos relatórios escritos. Um slide não deve ser um teste de inteligência; diga aos leitores qual é o objetivo do gráfico ou tabela e eles vão acompanhar com mais facilidade.

COMPLEMENTOS ÚTEIS E BONITOS

Ferramentas de formatação, como marcadores e texto em negrito, também tornam a escrita mais legível, se não exagerar. Mesmo em comunicações curtas, elas podem destacar pontos chave para que não passem despercebidos por um leitor que está passando os olhos por uma pilha de mensagens no final do dia.

Emojis e GIFs podem ajudar, mas o importante é escolher uma linguagem que faça o leitor prestar atenção.

Por fim, se você é propenso a erros de digitação ou de ortografia, a ascensão da escrita virtual é uma faca de dois gumes. Por um lado, as pessoas tendem a tolerar mais erros nas plataformas de mensagens. Elas passam uma sensação de casualidade e sabemos as pessoas digitam rapidamente, muitas vezes com dedos desajeitados em um dispositivo portátil.

Por outro lado, se você cometer repetidamente os mesmos erros, alguns leitores vão julgá-lo. Antes de clicar em enviar, vale a pena pedir a um colega que analise uma comunicação importante, como um longo e-mail para um cliente ou uma postagem interna sensível.

Embora o volume de redação no local de trabalho possa ter aumentado durante a pandemia, a necessidade de fazê-lo bem não é nova. Quase um século atrás, Winston Churchill implorava a sua equipe para escrever artigos mais curtos e que se resumissem aos “pontos essenciais”.

Muito antes da pandemia, a Amazon desenvolveu uma cultura de redação de memorandos em que os melhores da classe eram elogiados por terem “a clareza de anjos cantando”. Todos apreciamos alguém que escreve de forma clara e concisa. Nessa era de comunicação constante, vamos tentar ser essa pessoa.


SOBRE A AUTORA

Martha B. Coven é professora visitante e conferencista da Princeton School of Public and International Affairs e autora de "Writing on... saiba mais