O manual de instruções que falta à GenZ para desenvolver suas habilidades

Esta geração enfrentou obstáculos inéditos antes de entrar no mercado de trabalho. É nosso trabalho ajudá-los a preencher as lacunas

Créditos: Filippo Bacci/ Aleksei_Derin/ iStock

Ana Homayoun 5 minutos de leitura

Até 2030, a geração Z representará um terço da força de trabalho, mas o caminho deles não será fácil. Afinal, a pandemia afetou a educação desses jovens que, ainda por cima, estão entrando em um ambiente de negócios em rápida mudança para atender às preocupações climáticas, tecnológicas e econômicas.

Embora sejam conhecidos por serem os primeiros “nativos digitais”, a geração mais instruída e a mais diversa racial e etnicamente, eles também são descritos por estigmas contraditórios: os mais endividados; os mais preocupados com dinheiro e estabilidade e “a geração mais solitária”.

Para os empregadores, é importante saber o que os especialistas dizem sobre os obstáculos que a geração Z tem enfrentado nos últimos anos. Muitos estão entrando no mercado de trabalho sem algumas habilidades críticas, muitas vezes invisíveis, para interagir com colegas e lidar com a vida profissional. Uma situação que pode levar à frustração e ao esgotamento não apenas para eles, mas também para seus chefes e colegas de trabalho.

O que os empregadores podem fazer?

1. Reconheça as lacunas e tente compensá-las 

“A maioria das lacunas dessa geração tem a ver com o que chamo de 'habilidades de poder', muitas vezes chamadas de

aqueles que não enxergam chances de serem promovidos rapidamente abandonam o barco.

soft skills – a capacidade de conversar, de fazer contato visual, de apertar as mãos ou de partilhar uma refeição em uma mesa com várias pessoas. São tipos de comportamento considerados indicativos de uma sociedade que é social”, diz Kaye Monk-Morgan, presidente e CEO do Kansas Leadership Center, que passou mais de 25 anos trabalhando com estudantes universitários.

Depois que a formação universitária e os estágios foram alterados pela pandemia, muitos membros da geração Z tiveram pouquíssima experiência de trabalho no escritório. Trabalhar de casa os privou da chance de solucionar problemas na prática e de trabalhar em equipe em tempo real. Isso atrapalhou o desenvolvimento de habilidades de autodefesa, observa ela.

Como os GenZs viram suas rotinas diárias serem completamente alteradas durante seus principais anos de desenvolvimento, eles agora precisam de mais tempo, mais estrutura e maior suporte para criar estratégias de fluxo de trabalho, gerenciar distrações e desenvolver o “profissionalismo” que as gerações mais velhas consideram básico.

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2. Comunique-se, comunique-se e depois... Comunique-se um pouco mais

Explicar como seu escritório funciona é essencial, diz Robin Blanchette, CEO e fundador da Norton Creative, agência de publicidade que tem 26 funcionários, 10 dos quais são da geração Z.

“Percebi que muitos carecem de habilidades tradicionais de redação e envio de e-mail. Não é que não saibam escrever, eles não necessariamente sabem para quem encaminhar, que pessoas copiar na lista de destinatários ou mesmo para quem enviar um e-mail”, diz Blanchette.

É importante pedir aos funcionários que acompanhem os recém-chegados em procedimentos importantes. Conforme os GenZs forem dominando esses processos, os veteranos devem procurar oportunidades para orientar os novos membros da equipe, para que eles possam gerenciar as expectativas e os sentimentos de incerteza, além de incentivá-los a sinalizar quando precisarem de alguma ajuda extra.

3. Seja empático com os objetivos de carreira deles

Entenda que o crescimento desejado e a trajetória de liderança podem ou não corresponder às suas habilidades, mas eles querem subir rapidamente e podem querer mudar de emprego para chegar lá.

Depois que a formação universitária e os estágios foram alterados pela pandemia, muitos membros da geração Z tiveram pouquíssima experiência de trabalho no escritório.

Cecilia Montalvo, por exemplo, se formou na faculdade em 2019 e trabalha como coordenadora de diversidade, equidade e inclusão na indústria do entretenimento desde então. Mas agora ela já está de olho no próximo movimento, e tem seus objetivos.

“Estou em um momento da minha carreira em que tento pensar e planejar o que é importante para mim e o que quero obter do meu trabalho. Nos próximos cinco a 10 anos, adoraria me tornar uma sócia de uma empresa de RH”, diz ela.

Mas alguns membros dessa geração são ansiosos e parecem querer ser promovidos mesmo que ainda não tenham qualificação ou capacidade de liderança, diz Monk-Morgan.

“Eles têm essa ideia de que podem fazer qualquer coisa. E de que querem estar no comando dentro de três anos, ou dentro de cinco anos.” Ela percebeu que aqueles que não enxergam chances de serem promovidos rapidamente abandonam o barco.

4. Ensine os benefícios de construir redes no trabalho

Montalvo admite que não sabia como os relacionamentos no trabalho poderiam ser importantes até que viu seu chefe buscar apoio em relacionamentos estabelecidos com colegas para lidar com situações emergenciais. “Não sabia que essa seria uma habilidade que eu precisaria desenvolver profissionalmente”, diz ela.

Agora, ela enxerga os projetos de trabalho como uma forma de descobrir como atuar em equipe. “Como podemos descobrir quais pontos fortes podem ser usados? Como podemos realmente construir uma equipe que trabalha em conjunto?”

5. Encare os desafios da geração Z como uma oportunidade de todos crescerem juntos

Toda geração teve que superar algo algo difícil, diz Blanchette, lembrando como os membros da geração X foram chamados de preguiçosos e os millennials, de difíceis. “Acho que grande parte dessas características advém do simples fato de que eles têm apenas 21 ou 22 anos.”

É bom que os veteranos acompanhem os recém-chegados em procedimentos importantes.

Ela sugere reformular as habilidades perdidas desta geração como uma oportunidade de reexaminar as políticas de gerenciamento e os procedimentos de treinamento para beneficiar a todos.

“Aceitamos muito facilmente essa ideia de que os alunos não estão preparados porque a universidade não fez o trabalho dela. Mas a realidade é que essa é a geração com a qual estamos trabalhando hoje”, diz Monk-Morgan, aproveitando seu tempo em um ambiente universitário e como chefe de um centro de liderança.

As regras que eles conheciam da escola deixaram de valer e um novo conjunto foi estabelecido. Agora, eles não sabem como se virar. Seus colegas mais experientes têm o dever moral de ajudar a orientá-los e de aprender com eles ao longo do caminho.


SOBRE A AUTORA

Ana Homayoun é educadora, escritora e conselheira acadêmica. saiba mais