O paradoxo da conquista: porque alcançar seus objetivos não te fará mais feliz

A verdadeira alegria está no fazer, não em riscar itens da lista

executivo no topo de uma escada com expressão pensativa
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Thomas Oppong 4 minutos de leitura

Trabalhar por conta própria era tudo o que eu queria. Consegui. Cheguei lá. Hoje trabalho para mim mesmo. Mas isso não resolveu minha vida. Tenho liberdade para seguir qualquer caminho que eu queira – e, mesmo assim, alcançar meus objetivos não me faz sentir completo.

Existe um nome para isso: “falácia da chegada”. É o motivo de às vezes nos sentirmos vazios mesmo depois de conquistar aquilo que desejávamos tanto. A verdade é que alcançar uma meta raramente nos traz a sensação de completude – porque não é o final feliz que imaginamos.

Você se esforça para subir cada degrau. Mas, quando chega lá, nada muda. Ou pior: vem a frustração. Isso acontece porque o resultado que idealizamos não necessariamente resolve nossas questões internas. Metas servem como um guia. Mostram o quanto você evoluiu, o quanto avançou, do que é capaz. Mas não são um fim em si. A felicidade é consequência do processo.

Filósofos e psicólogos repetem isso há anos. Mas a gente ignora porque prefere receber  recompensas imediatas. Queremos experimentar a sensação de dizer “eu consegui”. “O cérebro está sempre em busca da felicidade, e como se preocupa muito mais com o futuro do que com o presente, acaba imaginando a felicidade como a promessa de um futuro cheio de prazeres”, escreveu o filósofo Alan Watts.

A ESTEIRA HEDÔNICA

As metas nunca acabam.

Você conquista algo hoje e amanhã já está desejando outra coisa. É a chamada “esteira hedônica”. Acreditamos que mais dinheiro, uma casa maior, uma promoção ou um novo projeto vão nos fazer felizes. Conseguimos. A sensação é ótima – mas dura pouco. Logo nosso cérebro muda o alvo. E o vazio volta. Não significa que há algo de errado com a gente. É uma questão biológica nossa. Até as pessoas mais bem-sucedidas caem nessa armadilha.

Somos feitos para buscar, não para possuir. O prazer está na busca, no processo, no “quase lá”. Assim que você consegue o que queria, o cérebro pula para o próximo objetivo. A armadilha surge quando acreditamos que um número, um cargo ou um feito específico vão consertar tudo por dentro. Não vão. Aceitar isso tira um peso enorme das costas. Você nunca vai se sentir completamente satisfeito.

Mas existe um jeito de escapar da armadilha.

A SOLUÇÃO

Encontre sentido e alegria no que você faz todos os dias. “É nas encostas da montanha que a vida acontece, não no topo”, diz o escritor e filósofo Robert M. Pirsig. O propósito da vida nunca foi atrelar nossa felicidade a metas. Ou esperar “chegar lá” ser feliz. Você já está na subida – e ela é o que importa. Coloque significado nas experiências, não apenas nos grandes marcos. Comemore as pequenas vitórias. Perceba o seu próprio progresso.

A alegria está no fazer, não em riscar itens da lista. Faça o que precisa ser feito. Tenha metas. Mas coloque o foco no processo. Pare de esperar que conquistar algo vai transformar sua vida num passe de mágica. Conquistar não significa necessariamente se realizar. 

Aprenda a gostar da subida. Assim, até o fracasso se torna parte do progresso – porque é. Você aprende o que não funciona. Fica mais sábio. Eu escolho projetos que despertam o meu melhor – e isso significa não me apegar ao resultado. A minha recompensa é o processo. Sou responsável pelas minhas ações, não pelos frutos. O que vier é bônus. Como disse Mahatma Gandhi: “o caminho é a meta.”

Mude seu foco: procure significado no fazer, não no ter. Concluiu uma pequena etapa do projeto? Ótimo. Comemore. Ajudou alguém sem esperar nada em troca? Perfeito. Esses pequenos momentos fazem muito mais pela nossa felicidade do que imaginamos. A sensação de chegada que você espera não é o fim – é só mais uma etapa. O vazio pode voltar. E tudo bem. É normal. Quando você aceita isso, de repente, ele deixa de assustar. E você para de se culpar.

ENCONTRE ALEGRIA AO TRILHAR O CAMINHO

Metas apontam a direção. Mas é o processo que transforma. Alcançar um objetivo não preenche o vazio existencial. A vida acontece mesmo é na subida. A felicidade não é um destino – é a forma como você caminha. A atenção que você dedica ao trabalho. A conexão com as pessoas. Os pequenos avanços que você percebe dia após dia.

Tenha metas. Corra atrás. Mas lembre-se: cada linha de chegada é só mais uma de muitas. Persiga suas metas para crescer. É esse crescimento que fará você se sentir vivo. O verdadeiro objetivo nunca foi chegar ao topo – sempre foi aprender a aproveitar a subida. O prêmio não é o troféu. É quem você se torna ao buscar conquistá-lo. 

E quando você alcançar algo e sentir aquele vazio, saiba que não é ingratidão. É apenas um lembrete de que você é humano.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Thomas Oppong é o escritor e criador do boletim informativo Postanly Weekly. Seus ensaios abordam temas como produtividade, filosofia,... saiba mais