O que fazer se você sofre de síndrome do impostor de IA

Cada vez mais pessoas sentem que não são boas o bastante por não conseguirem competir com as máquinas

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Tomas Chamorro-Premuzic 3 minutos de leitura

Nos últimos dois anos, algo curioso tomou conta dos ambientes de trabalho. Profissionais que sempre se orgulharam de serem rápidos, inteligentes e criativos passaram a se questionar: “será que fiquei lento demais, ultrapassado ou até ‘analógico’ para dar conta dos desafios do dia a dia?”.

Não é que eles tenham ficado piores em suas funções. O que mudou foi a chegada de um novo “colega” sintético, que não dorme, não trava diante de uma tela em branco e consegue entregar respostas "redondas" para quase tudo em questão de segundos.

A IA generativa virou o estagiário incansável do escritório, produzindo relatórios e apresentações em uma velocidade impressionante. E, em vez de simplesmente aproveitar essa ajuda, muitos de nós passamos a nos sentir inferiores.

É a síndrome do impostor da era da inteligência artificial: a sensação de não ser bom o suficiente por não conseguir competir com uma máquina. Antes, a comparação era com colegas de carne e osso que (de forma irracional) considerávamos melhores do que nós. Agora, a régua é a IA generativa – que usamos e admiramos, mas que também pode nos fazer sentir inúteis.

A síndrome do impostor tradicional era sobre duvidar de si em comparação a outras pessoas. Na versão com IA, o paralelo é com uma máquina incansável, programada para aprender sem parar.

Essa síndrome aparece em pequenas situações incômodas do dia a dia: na culpa por demorar mais de um minuto para escrever um e-mail; na vergonha quando o ChatGPT encontra uma referência que você esqueceu; ou no medo de ser desmascarado caso precise montar uma estratégia sem ajuda digital. Em resumo, é a sensação de estar falhando apenas por ser humano.

VOCÊ SOFRE DE SÍNDROME DO IMPOSTOR DE IA?

Será que você sofre desse mal? Pergunte a si mesmo:

  • Você hesita em enviar um rascunho pensando “a IA faria melhor”?
  • Já pesquisou no Google “melhores prompts para o ChatGPT” como se fossem truques secretos para mais inteligência?
  • Já escondeu que uma ideia era sua (e não do bot) achando que os outros ficariam decepcionados?
  • Revisar textos parece perda de tempo porque “a IA não deixaria passar um erro”?
  • Já incluiu erros de propósito só para não parecer que o texto foi gerado por uma máquina?
  • Sente uma pontinha de inveja quando colegas falam de como usam a IA como assistente?
  • Já pediu desculpas pelo “tempo de carregamento” do seu cérebro?

Se respondeu “sim” para a maioria, talvez esteja sofrendo da síndrome do impostor da IA.

POR QUE ACONTECE E COMO SUPERAR

Assim como a versão tradicional, a síndrome do impostor de IA nasce em ambientes que valorizam velocidade, previsibilidade e quantidade mais do que qualidade. E justamente nesses pontos a máquina se destaca.

Mas inteligência não é só rapidez. Também envolve julgamento, criatividade e a capacidade de "ligar os pontos" de maneiras inesperadas.

Como superar isso:

1. Redefina o que é “valor”

Em vez de se perguntar “consigo fazer isso tão rápido quanto a IA?”, questione: “o que eu faço que a IA não consegue?”. Contexto, empatia e sensibilidade continuam sendo atributos essencialmente humanos. Como dizia Peter Drucker: “não há nada tão inútil quanto fazer de forma eficiente o que não deveria ser feito”.

2. Exercite sua mente

Assim como o corpo, o cérebro precisa de treino. Se você só aceita sugestões de bots, seus “músculos mentais” podem atrofiar. Desafie-se a resolver problemas sem atalhos digitais para manter sua mente afiada.

3. Trate a IA como parceira, não como rival

Atletas não sentem raiva dos equipamentos que os ajudam a treinar – eles os usam para se superar. Se a IA aumentou o nível do que é possível, encare isso como uma oportunidade, não como uma ameaça.

A síndrome do impostor de IA existe, mas também é um erro de percepção. Sentir-se inadequado porque uma máquina é mais rápida é como se sentir mal porque uma calculadora faz contas melhor que você. É claro que faz. Esse é o propósito dela.

Nosso papel não é copiar os pontos fortes da inteligência artificial, mas reforçar os nossos: curiosidade, empatia, pensamento crítico, sensibilidade e a capacidade de aprender com os erros.

A inteligência natural – com todas as suas imperfeições – continua sendo a força mais criativa que existe. Afinal, foi ela que criou a inteligência artificial. Se lembrarmos disso, a IA não vai nos transformar em impostores, mas em profissionais ainda mais conscientes do nosso verdadeiro valor.


SOBRE O AUTOR

Tomas Chamorro-Premuzic é diretor de inovação do ManpowerGroup, professor de psicologia empresarial na University College London e na ... saiba mais