O que muda nas amizades conforme ficamos mais velhos

As amizades adultas são diferentes daquelas do início da vida, mas ainda são muito importantes

Crédito: iStock e Envato Elements

Art Markman 4 minutos de leitura

Os amigos são uma parte valiosa – e muitas vezes subestimada – do nosso círculo social. No início da vida, os amigos têm um grande impacto em nossa vida diária. Nos sentamos ao lado deles nas aulas e no transporte escolar. Compartilhamos segredos na saída da escola e nos encontramos fora dela.

Com o passar dos anos, porém, a natureza das amizades tende a se modificar de várias maneiras. Crescemos, arrumamos empregos, mudamos para diferentes apartamentos ou casas. Muitos de nós casamos e começamos famílias.

Mas os amigos ainda são importantes na idade adulta. Só o que muda é que esses relacionamentos passam a ter outra cara.  Esses três fatores influenciam muito as amizades na idade adulta:

METAS DE VIDA

Em diferentes momentos da vida, determinamos metas para seguir adiante. Geralmente, essas metas são definidas por uma combinação entre influências culturais e interesses pessoais. São os chamados objetivos de vida.

Aos 20 e poucos anos, você pode ter como meta se estabelecer na carreira. Mais tarde, pode ser que sua meta passe a ser encontrar um bom parceiro romântico. Mais tarde ainda, pode ser criar bem os seus filhos.

os amigos mais próximos em determinado momento de nossas vidas são aqueles que se envolvem em prioridades semelhantes.

O objetivo de vida que uma pessoa está priorizando influencia suas amizades.  Os amigos mais próximos costumam ser aqueles que estão passando pelas mesmas fases que a gente e realizando as mesmas tarefas cotidianas. Afinal, isso torna mais provável que dois indivíduos tenham coisas em comum e níveis semelhantes de disponibilidade.

Depois de se estabelecer com um parceiro ou se casar, as pessoas tendem a passar menos tempo com os amigos do que na época de solteiro. Se têm filhos pequenos, podem acabar encontrando com menos frequência os amigos sem filhos. Em geral, os amigos mais próximos em determinado momento de nossas vidas são aqueles que se envolvem em prioridades semelhantes.

FAZER X MANTER AMIZADES

Conforme envelhecemos, parece que fica mais difícil fazer novas amizades. Na juventude temos mais tempo livre, então é possível se dedicar mais a iniciar e manter amizades.

Além disso, no início da vida costumamos frequentar ambientes onde há muitas pessoas semelhantes a nós. Conforme assumimos mais responsabilidades, porém, sobra menos tempo para ir a novos lugares e conhecer amigos em potencial.

Dar uma chance a novos amigos é parte crucial da recuperação psicológica depois de uma separação.

Por esse motivo, normalmente fazemos menos amizades novas no final da vida adulta do que durante a adolescência e o início dos 20 anos. Em vez disso, as pessoas costumam manter amizade com quem conhecem há muito tempo. Quando alguém faz novos amigos, eles tendem a ser pessoas do trabalho, da igreja ou de outros ambientes significativos, ligados a compromissos que essa pessoa assumiu.

Esse padrão é uma das razões pelas quais a dissolução de um relacionamento amoroso de longo prazo é tão traumática. Quando o indivíduo faz parte de um casal, seu grupo de amigos geralmente consiste em outros casais que são amigos dos dois.

Mas, quando esse relacionamento termina, as prioridades e metas de vida mudam, o que pode dificultar a continuidade das amizades anteriores. Como resultado, o recém-divorciado pode se sentir sozinho, sem amigos próximos para ajudá-lo a lidar com suas emoções. Dar uma chance a novos amigos é, portanto, parte crucial da recuperação psicológica de uma separação.

AMIZADE INTERGERACIONAL

Uma das mudanças fascinantes que acontecem com as amizades à medida que envelhecemos é que a faixa etária das pessoas com convivemos se amplia. Quando somos crianças, quase todos os amigos estão na mesma série que a gente.

Na faculdade, até podemos fazer alguns amigos que são um ou dois anos mais velhos ou mais novos. Mais tarde, porém, essas diferenças de idade são menos importantes do que os interesses comuns e os objetivos de vida.

Amigos mais jovens nos lembram de todas as coisas que ainda não fizemos e que gostaríamos de fazer.

Assim, passamos a ter alguns amigos que são muito mais velhos ou muito mais jovens do que a gente. Essas amizades são valiosas.

Quando você é mais jovem, os amigos mais experientes lhe dão uma noção do que está por vir. Além disso, podem dar uma perspectiva preciosa sobre os problemas que você está enfrentando. Eles já passaram por coisas semelhantes e podem te fazer perceber o que realmente importa.

Agora, se você tem amigos mais jovens, eles ajudam a te tirar da sua zona de conforto. Geralmente, estão muito mais por dentro das tendências atuais na música, na cultura em geral e em diversos aspectos da cultura pop.

Além disso, à medida que envelhecemos, a tendência é olharmos mais para trás, para o que já fizemos, em vez de focar no que está por vir. Passar tempo com pessoas mais jovens pode ser motivador, pois eles nos lembram de todas as coisas que ainda não fizemos e que gostaríamos de fazer.


SOBRE O AUTOR

Art Markman é PhD e professor de psicologia e marketing na Universidade do Texas e diretor-fundador do Programa nas Dimensões Humanas ... saiba mais