O tempo não está acelerado, é o seu cérebro que produz tanta urgência

Nova análise mostra como estresse, emoções e padrões mentais distorcem a experiência de tempo no trabalho

pessoas correm em direção a um relógio tipo despertador
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Lidiya Tsaturyan 4 minutos de leitura

Falamos sobre o tempo como se fosse um recurso fixo: algo externo a nós e que precisamos “administrar bem”, ou uma coisa que “nunca temos o suficiente” ou que não conseguimos controlar. Muita gente acredita que o relógio é o problema. Mas, quanto mais se observa como o cérebro processa a experiência, menos isso parece verdade.

As pessoas não se sentem pressionadas porque têm tarefas demais, mas porque o cérebro está "construindo" o tempo de um jeito que faz tudo parecer urgente ou impossível de alcançar.

A neurociência moderna aponta isso há algum tempo. Nossa experiência do tempo – o que parece rápido, lento, esmagador ou “insuficiente” – não é como a leitura de um cronômetro interno. É uma história que o cérebro constrói usando predição, memória, estado emocional e identidade.

Em outras palavras: seu cérebro não observa o tempo, ele gera o tempo. Ou, dito de outra forma: o cérebro prevê o tempo, não o mede.

Em vez de registrar o tempo objetivamente, o cérebro usa padrões e contexto para estimar quanto as coisas demoram. Ele depende da memória e das informações dos nossos sentidos para criar uma linha de tempo coerente. O problema é que essas estimativas internas mudam muito dependendo do que está acontecendo dentro de nós.

Quando o sistema está estável e regulado, nossa noção interna de tempo se expande. É possível pensar com clareza, decidir a partir da parte do cérebro voltada à resolução de problemas e atravessar o dia sem a sensação constante de estar “correndo atrás”.

Por outro lado, quando estamos estressados ou mentalmente sobrecarregados, o cérebro acelera tudo. O tempo “se contrai” e perdemos a sensação de controle. Os minutos somem e até tarefas simples parecem aceleradas. O calendário externo não mudou, mas o relógio interno, sim.

ESTRESSE E EMOÇÃO DISTORCEM A PERCEPÇÃO DO TEMPO

Sob estresse, o cérebro fica hiperfocado em prever: O que pode dar errado? O que estou perdendo? O que esqueci? O que vem a seguir? Isso desvia a atenção do processamento contínuo e a direciona para a vigilância de ameaças, fazendo o tempo parecer fragmentado e caótico.

A emoção provoca algo parecido. Quando você está ansioso, sua linha de tempo interna se torna instável e irregular. Já quando está preso a padrões emocionais não resolvidos ou ciclos do passado, o presente parece comprimido e o futuro, distante.

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É por isso que meses inteiros podem parecer ter passado num piscar de olhos, enquanto dias específicos pareceram estranhamente pesados ou compridos. Não experimentamos o tempo como ele é, mas como é modelado por nosso estado interno.

Todo líder já viu isso, mesmo sem saber explicar: dois funcionários com os mesmos prazos, a mesma carga de trabalho e as mesmas ferramentas, mas um vai tranquilo e o outro fica sobrecarregado. De fora, parecem iguais, mas por dentro vivem em linhas de tempo completamente diferentes.

A questão é ajudar as pessoas a viver em uma linha de tempo interna que não esteja distorcida por pressão e estresse.

O sistema nervoso de um deles está regulado o suficiente para permitir que o cérebro acompanhe o tempo de forma coerente. O outro vive em um estado crônico de hiperprevisão, percebendo o tempo como algo escorregadio e implacável.

Além disso, há um motivo para o “trabalho produtivo” parecer lento e amplo, enquanto dias cheios de interrupções desaparecem num instante. É que atenção focada manda ao cérebro informações suficientes para construir uma linha de tempo rica e contínua. A fragmentação faz o oposto: quando a atenção está dispersa, o tempo perde a estrutura e parece mais curto.

Quando empresas projetam, mesmo sem querer, dias repletos de microinterrupções, elas não só reduzem a produtividade como também alteram a experiência subjetiva de tempo dos funcionários. E as pessoas tomam decisões muito diferentes quando sentem que o tempo está desaparecendo.

O QUE PODEMOS FAZER PARA CONTROLAR O TEMPO

Se a pressão do tempo e a sobrecarga vêm da distorção interna do tempo – e não da falta dele no mundo real –, nossas conversas sobre produtividade precisam mudar radicalmente. E isso não tem relação com “gestão de tempo”. Trata-se de reduzir os estados internos que distorcem como as pessoas vivenciam o tempo.

Líderes podem influenciar isso mais do que imaginam adotando estratégias como:

  • Reduzir fatores crônicos de estresse para evitar que a percepção do tempo se distorça além do útil.
  • Incentivar períodos de foco ininterrupto como base de uma experiência temporal coerente.
  • Usar a urgência com intenção: urgência constante reprograma o cérebro para viver em uma linha de tempo comprimida e reativa.
  • Oferecer previsibilidade: uma noção firme de “para onde estou indo” ajuda as pessoas a se sentirem mais estáveis, em vez de eternamente atrasadas.

O verdadeiro trabalho não é encaixar mais tarefas em um número fixo de horas, mas ajudar as pessoas a viver em uma linha de tempo interna que não esteja distorcida por pressão e estresse.

O tempo do relógio sempre vai correr no mesmo ritmo. Mas o tempo que proporciona clareza, desempenho e tomada de decisão é aquele que o cérebro constrói por dentro. Entender essa diferença muda tudo.


SOBRE A AUTORA

Lidiya Tsaturyan é criadora da Quantum Time Mastery, metodologia que ajuda as pessoas a administrar sua relação com o tempo e a aceler... saiba mais