O trabalho remoto pode piorar sua síndrome do impostor

A CMO da Norwest Venture Partners revela sua própria luta com a síndrome do impostor durante a pandemia e as lições que aprendeu

Crédito: rawpixel.com

Lisa Ames 4 minutos de leitura

A síndrome do impostor – aquela sensação de que “não sou qualificado para este trabalho e um dia as pessoas vão descobrir” – tem sido associada à queda do desempenho, redução da satisfação no ambiente profissional e esgotamento dos funcionários. Para os líderes que tentam apoiar os membros da equipe que podem estar sofrendo com a síndrome do impostor, a pandemia de Covid-19 piorou a situação de duas maneiras.

Primeiro, porque ela pode ser ainda mais intensa em um ambiente remoto. O contato pessoal reduzido nos leva a ficar presos aos nossos próprios pensamentos. E, sem o benefício da linguagem corporal e de outras formas de comunicações com pessoas que forneçam feedback imediato, os pensamentos autolimitantes tendem a assumir o controle. Isso pode levar ao viés de confirmação, um poço sem fundo no qual buscamos evidências para provar nossas crenças negativas.

A prevalência do trabalho remoto também tornou mais difícil identificar e combater a síndrome do impostor quando ela surgir. De acordo com o International Journal of Behavioral Science (Revista Internacional de Ciência Comportamental), 70% da população sofreu de síndrome do impostor pelo menos uma vez.

Síndrome do impostor é aquela sensação de que “não sou qualificado para este trabalho e um dia as pessoas vão descobrir”.

Esses dados parecem ainda mais reais quando descobrimos que Sheryl Sandberg, Tom Hanks e Serena Williams também passaram por isso. Mas posso atestar por experiência própria que a síndrome do impostor pode ser gerenciada e até aproveitada para motivar o crescimento.

Ingressei na Norwest Venture Partners em março de 2020, no início da pandemia, após mais de 20 anos atuando como profissional de marketing de tecnologia. Precisei construir relacionamentos, aprender processos e entender terminologia desconhecida sem o benefício das interações informais que normalmente ocorrem em um escritório. Com o tempo, aprendi a reconhecer e a lidar com os sinais da síndrome do impostor.

A seguir, partilho algumas das minhas estratégias para lidar com o problema em uma força de trabalho remota.

COMPARTILHE SUA HISTÓRIA

Compartilhe proativamente suas próprias experiências com a síndrome do impostor para garantir aos funcionários que eles não estão sozinhos. Um pouco de vulnerabilidade ajuda muito a deixar as pessoas mais à vontade. Reforce como ela é comum e compartilhe todas as técnicas que você usou para lidar com sentimentos de dúvida quando eles surgiram.

FIQUE ATENTO À DINÂMICA INTERPESSOAL

Esteja alerta aos sinais da síndrome, como comentários autodepreciativos, níveis mais baixos de entrega profissional e relutância em expressar um ponto de vista durante as videochamadas, especialmente aquelas que envolvem várias pessoas. Observe se algum membro da equipe exibe esses comportamentos e agende uma conversa extraoficial para ver como ele está se sentindo.

FAÇA PERGUNTAS COM ATENÇÃO

Seja sensível à forma como você faz perguntas e

Compartilhe suas experiências para garantir às pessoas que elas não estão sozinhas.

comentários e a como realiza as avaliações de desempenho. Essas interações costumam ser um dos principais contribuintes para a síndrome do impostor, principalmente quando os comentários de um gerente são percebidos como críticos ou questionadores.

É muito fácil deduzir o pior, especialmente na comunicação escrita. 91% dos funcionários de escritório dizem que seus colegas interpretaram mal suas mensagens digitais. Uma comunicação clara e gentil pode ajudar alguém que lida com a síndrome do impostor a se sentir mais confiante e confortável.

FAÇA ELOGIOS MAIS ESPECÍFICOS

Reforce sua visão positiva dos membros da equipe e do trabalho que eles têm feito sendo bastante específico nos elogios. Uma mudança de comportamento simples, que considero bem recebida, é substituir “parabéns pelo seu trabalho” por “gostei de como você fez tal coisa” ou “acho que seu comentário sobre tal assunto foi muito importante”.

Dessa forma, o time entenderá exatamente o que você apreciou no trabalho deles e terá mais chances de se desenvolver no futuro. Outra abordagem testada e comprovada para aumentar a confiança: “estava pensando em fazer tal coisa, mas você me convenceu de que deveríamos fazer de tal maneira”.

INCENTIVE A SAÍDA DAS ZONAS DE CONFORTO

Crie um ambiente seguro, que motive as pessoas a sair de sua zona de conforto e a tentar algo novo. É nesses momentos que experimentamos o maior crescimento de nossas habilidades e em nossa autoconfiança. Assegure-se de proteger seu pessoal quando eles se aventurarem em território desconhecido. É melhor “fracassar” ousando muito do que ficar na média com complacência.

APOIE O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Desenvolva metas que incentivem os colaboradores a aumentar seus conhecimentos e a ampliar suas habilidades por meio de aulas (online ou presenciais) e participação em eventos profissionais. Acho que as conferências são um ótimo lugar para alguém calibrar seu conhecimento em comparação com seus pares. Se vejo que outros estão no mesmo nível de especialização ou que já estou implementando muitas das práticas apresentadas, isso ajuda a conter minha síndrome do impostor.

O trabalho remoto chegou para ficar. Os líderes que adaptam seu estilo para fornecer suporte emocional extra aos funcionários ganharão muito com uma força de trabalho mais feliz e engajada. Isso requer apenas maior sensibilidade em relação aos perigos do isolamento; demonstrações abertas de empatia e apoio, muita comunicação e alcance direcionado.


SOBRE A AUTORA

Lisa Ames é CMO, diretora e executiva operacional da Norwest Venture Partners. saiba mais