Dar um tempo é a melhor forma de resolver um conflito antes seja tarde demais
A pausa estratégica não é uma solução mágica, mas um pequeno distanciamento cognitivo ajuda a reativar o cérebro racional

Estava no meio de uma discussão por mensagem um colega quando me peguei, de novo, com o dedo pairando sobre o botão de “enviar”, reescrevendo a mesma resposta defensiva pela terceira vez.
O assunto era política. Mas, para falar a verdade, o conteúdo nem importava tanto. O que realmente importava era o jeito como meu sistema nervoso estava reagindo: meu cérebro estava fritando, a mil por hora. Eu não estava respondendo. Estava apenas reagindo. Então, pisei no freio e fiz uma pausa estratégica.
Interrompi a conversa, troquei o texto por um áudio e, no fim, perguntei se podíamos nos encontrar pessoalmente, para que eu pudesse estar presente de um jeito que o respeitasse. Essa simples decisão de apertar o botão de pausa mudou completamente o tom e o rumo da conversa.
Quando nos encontramos cara a cara, ficou claro que ambos se importavam de verdade um com o outro. No fim, além de resolver o desentendimento, ainda aprendemos mais sobre nossas histórias de vida e estilos de comunicação.
Pesquisas sobre questões internacionais mostram que fazer pausas frequentes durante um conflito pode aumentar as chances de chegar a um acordo. Eu chamo isso de “pausa estratégica”.
UMA PAUSA NÃO É UM AFASTAMENTO DEFINITIVO
Durante essa briga com meu colega, percebi que estava entrando na conversa achando que eu era melhor do que ele. Por causa disso, minhas palavras e meu tom acabavam desumanizando o interlocutor. Costumo ensinar líderes a reconhecerem os três “eus” que podem aparecer nos conflitos:
- Eu Superior: “Eu estou certo e você está errado.”
- Eu Inferior: “Eu estou errado e sempre estrago tudo.”
- Eu Igual: “Somos dois seres humanos aqui. Vamos resolver isso juntos.”
A maioria dos rompimentos acontece quando ficamos presos no modo “Eu Superior” ou “Eu Inferior”. Atacamos o outro ou nos fechamos completamente. Mas uma pausa feita a partir do "Eu Igual" é mais ou menos assim: “percebi que essa conversa está começando a não render. Queria fazer uma pausa para voltarmos com mais clareza e respeito.”
Isso é bem diferente de simplesmente sumir. É sinalizar que você vai voltar, assumindo a responsabilidade sobre como você quer se posicionar, mesmo que não tenha controle sobre como o outro vai reagir.
A REGRA DOS 90 SEGUNDOS
O cérebro não foi feito para ter conversas racionais quando está tomado pela emoção. Quando a amígdala – o centro do medo no cérebro – é ativada, ela literalmente sequestra a parte racional do seu pensamento. É aí que entra a regra dos 90 segundos.

A neurocientista Jill Bolte Taylor descobriu que leva só 90 segundos para o pico dos hormônios do estresse baixar – desde que você não fique relembrando e revivendo a situação, o que reativa o estresse.
Mas tem um porém: às vezes, 90 segundos não são suficientes. Se o assunto toca em valores muito profundos, traumas antigos, ou se você já entrou na conversa emocionalmente esgotado, pode precisar de 10 minutos. Ou de horas. Ou dias. Às vezes, até semanas. A pausa estratégica pode ser curta ou demorada.
COMO USAR A PAUSA ESTRATÉGICA NA HORA CERTA
Quando a amígdala sequestra o a parte racional do cérebro, nem sempre conseguimos perceber a tempo de praticar a pausa estratégica. O termo “sequestro da amígdala”, criado pelo psicólogo Daniel Goleman, descreve exatamente isso: quando a emoção toma conta e reagimos movidos pelo impulso.
O cérebro não foi feito para ter conversas racionais quando está tomado pela emoção.
A boa notícia é que o cérebro tem neuroplasticidade – ele pode se adaptar e mudar com a prática. Exercícios frequentes de regulação emocional, como a atenção plena (mindfulness), fortalecem as conexões da parte racional (o córtex pré-frontal), aumentando a capacidade de autocontrole e consciência emocional.
Se você percebe a tempo que está emocionalmente desregulado, o próximo passo é pedir uma pausa. Evite frases acusatórias, como “você está me deixando irritado, precisamos parar por aqui.” Prefira usar frases que comecem com “eu”. Por exemplo, “estou me sentindo sobrecarregado e quero dar uma pausa para conseguir voltar com mais respeito e consciência.”
O QUE SE FAZ DURANTE A PAUSA É O QUE IMPORTA
A pausa estratégica só funciona se for bem usada. Já vi gente sair de uma conversa e passar o tempo inteiro remoendo a raiva, ensaiando respostas afiadas ou mandando prints para conseguir validação dos outros. Isso não é um reset. Isso é jogar mais lenha na fogueira.
Uma ferramenta poderosa para se regular e acessar o Eu Igual é falar consigo mesmo como se fosse alguém de fora, com algum distanciamento – prática conhecida como ileísmo. Pergunte, por exemplo, “por que o Justin está tão chateado?” em vez de “por que eu estou tão chateado?”. Esse pequeno distanciamento cognitivo ajuda a reativar o cérebro racional.
A pausa estratégica não é uma solução mágica. Pode ser que a outra pessoa continue te ignorando, piore a situação ou se recuse a voltar para a conversa. Você não tem controle sobre isso. Mas quando você retorna no modo “Eu Igual”, dá à conversa a melhor chance possível de seguir de forma construtiva.