Pesquisa mostra o que acontece com quem fica acordado até tarde toda noite
Pesquisa analisou os padrões de sono de 24 mil participantes e os sinais de declínio cognitivo ao longo de 10 anos

Sou do tipo que funciona melhor à noite, então sempre fico curioso quando aparecem novos estudos sobre os efeitos de dormir tarde com frequência. Às vezes os resultados preocupam, às vezes são mais leves. Mas de tempos em tempos – como na pesquisa mais recente que li – surgem também boas notícias no meio do caminho.
O estudo em questão foi feito pela faculdade de medicina da Universidade de Groningen, na Holanda, e acompanhou os hábitos de sono e a saúde de quase 24 mil pessoas ao longo de uma década. Vamos direto aos resultados: o lado bom, o ruim e os motivos para focar nos aspectos positivos.
Publicada no “Journal of Prevention of Alzheimer’s Disease”, a pesquisa analisou os padrões de sono dos participantes e os sinais de declínio cognitivo ao longo dos anos. Para quem costuma dormir tarde, o resultado não foi dos mais animadores: essas pessoas apresentaram um declínio cognitivo mais rápido em comparação com quem dorme mais cedo.
Mas um dado curioso chamou a atenção dos pesquisadores: entre os participantes com menor nível de escolaridade, o declínio não foi observado com a mesma intensidade. Essa descoberta, claro, pede uma explicação. Ana Wenzler, doutoranda no departamento de epidemiologia da universidade, sugeriu algumas:
Primeiro, como já demonstrado em outro estudo recente, quem fica acordado até mais tarde tende a se exercitar menos ao longo do dia do que os que seguem uma rotina mais matinal. Segundo, quem dorme cedo acaba evitando os horários em que fumar, beber ou comer de forma pouco saudável é mais comum.
E por fim – talvez o ponto mais interessante –, o maior declínio cognitivo entre os mais escolarizados pode estar relacionado ao fato de que, estatisticamente, essas pessoas acabam presas a jornadas de trabalho diurnas, mesmo quando isso vai contra seu relógio biológico.
“Isso provavelmente tem a ver com o ritmo de sono. São pessoas que precisam acordar cedo para trabalhar e, por isso, acabam dormindo menos, dando pouco descanso ao cérebro", explicou Wenzler em comunicado.

"Suspeitamos que pessoas com menor ou média escolaridade têm mais chances de estar em profissões que respeitam melhor seu ritmo de sono – como no setor de hospitalidade ou em turnos noturnos. Quando isso não acontece, o cérebro não descansa o suficiente e a pessoa tende a desenvolver hábitos pouco saudáveis. Seria interessante repensar a rotina de quem é notívago e hoje precisa acordar cedo e oferecer, por exemplo, a possibilidade de começar o dia mais tarde.”
E é aí que entra o lado bom da história. Mesmo com todas as mudanças que aconteceram ao longo da última década, muitos profissionais noturnos altamente qualificados conseguiram adaptar suas rotinas.
quem dorme cedo acaba evitando os horários em que é mais comum fumar, beber ou comer de forma pouco saudável.
Hoje, mais pessoas trabalham de forma remota, por conta própria ou com horários flexíveis. Ou seja: muitos já conseguiram conquistar a tão sonhada “opção de começar mais tarde”.
Claro que essa pesquisa surge justamente em um momento em que muitas grandes empresas estão indo na direção oposta: exigindo mais presença física nos escritórios, limitando o home office e reduzindo a flexibilidade.
Talvez isso represente uma oportunidade para quem tem um negócio. E isso, para mim, é mais um ponto positivo. Existem excelentes profissionais de todos os cronotipos (relógios biológicos), tanto os noturnos quanto os matutinos.
Este artigo foi publicado originalmente na “Inc.”, publicação parceira da Fast Company.