Pesquisa relembra o óbvio: vida é o que acontece quando estamos off-line

Estudo aponta que as pessoas estão se sentindo bem em relação às suas vidas. Mas pode não ser o seu caso

Crédito: Freepik

Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

No ano passado, tivemos o ano mais quente da história e 2024 pode igualar ou superar esse recorde. A guerra entre Israel e Hamas já dura nove meses e a guerra civil no Sudão, 15.

Estamos vendo demissões em massa em vários setores enquanto acompanhamos o controverso espetáculo da escolha do próximo presidente norte-americano. E aviões se desmancham no céu enquanto os passageiros também desmoronam. Que época para estar vivo!

No entanto, de acordo com o Relatório Global de Emoções 2024 da Gallup, as pessoas estão se sentindo bem em relação às suas vidas. A quantidade de gente que relata ter tido experiências positivas há pouco tempo, aparentemente, voltou aos níveis pré-pandemia.

Mas como alguém consegue se sentir tão bem quando tantos aspectos da vida neste planeta estão tão visivelmente ruins? Talvez isso tenha a ver com o fato de que o relatório se baseia em experiências, não em observações.

MONITORANDO EMOÇÕES

A Gallup publica seu relatório global de emoções há 18 anos. Ele oferece uma visão geral de como as pessoas ao redor do mundo parecem estar se sentindo, com base em pesquisas sobre suas experiências positivas e negativas recentes.

O relatório é fruto de um imenso esforço. Em 2023, os pesquisadores entrevistaram quase 146 mil adultos com mais de 15 anos em 142 países. Cada entrevista envolve uma série de perguntas com resposta sim ou não sobre aspectos positivos e negativos do dia anterior. A pontuação é calculada com base nas respostas.

A má notícia é que o índice de experiências negativas continua mais alto do que era há uma década.

Não só o índice de experiências positivas subiu para 71 este ano – o mais alto desde o início da pandemia – como o de experiências negativas diminuiu pela primeira vez desde 2014.

Como quase não houve mudança nas experiências dos jovens, a maior parte dessa melhoria parece ter vindo de pessoas com 30 anos ou mais – um grupo demográfico mais propenso a ter empregos, filhos e dívidas, ou seja, com mais motivos para estarem estressados.

CONTATO COM O MUNDO

Ler essas descobertas otimistas antes de mergulhar na internet é o suficiente para causar confusão em qualquer um. Como as pessoas podem se sentir tão bem quando tantas coisas estão claramente ruins? Por mais clichê que possa parecer, a resposta pode ser tão simples quanto se desconectar do mundo online.

Embora muitas das respostas usadas para medir experiências positivas tenham continuado as mesmas em relação ao ano anterior, as duas que tiveram aumento em 2024 foram as respostas às perguntas “você foi tratado com respeito ontem?” e “você aprendeu ou fez algo interessante ontem?”.

Ambas têm mais a ver com a forma como uma pessoa interage com o mundo do que com a maneira como as informações chegam até ela.

Se alguém passa o dia dividindo seu tempo entre ler notícias negativas e discutir online, as chances de ser tratado com respeito diminuem drasticamente. Mas, para aqueles que interagem pessoalmente com colegas de trabalho, amigos e parceiros, as chances são muito maiores.

Além disso, embora seja possível aprender muitas coisas interessantes na internet, fazer algo novo de verdade geralmente envolve sair de casa.

Com o fim da pandemia, mais pessoas parecem estar se sentindo confortáveis em estar em contato com o mundo novamente, ter novas experiências e se colocar em posição de serem tratadas com respeito – e de tratar os outros da mesma forma.

O FATOR SOLIDÃO

A má notícia é que o índice de experiências negativas continua mais alto do que era há uma década. O relatório deste ano incluiu “solidão” à lista de emoções negativas que os pesquisadores analisaram – e, ao que parece, quase um em cada quatro adultos em todo o mundo (23%) relatou ter se sentido solitário durante grande parte do dia anterior à entrevista.

os pesquisadores entrevistaram quase 146 mil adultos com mais de 15 anos em 142 países.

Claro, algumas pessoas têm uma experiência muito negativa do mundo, mesmo sem passar tempo demais online. Podem estar desesperadamente solitárias, com a saúde debilitada, ter perdido um ente querido ou não saber quando será sua próxima refeição. Esses não são problemas que podem ser resolvidos apenas “se desconectando da internet".

Mas o relatório é um lembrete de que é possível apreciar as coisas positivas da vida e que passar um pouco menos de tempo olhando para o mundo pelas janelas digitais pode ajudar.

Não se trata de ignorar o que está lá fora, mas de apreciar o que está à sua frente.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais