Por que a parentalidade pode ser um ativo para profissionais (e empresas) de tecnologia

Crédito: The Good Brigade/ GettyImages

Fernanda Weiden 3 minutos de leitura

Apesar de termos avançado na discussão sobre a importância de oferecer mais flexibilidade a mães e pais, principalmente nos primeiros anos de vida das crianças, ainda há muito a fazer. O senso comum costuma apontar para uma análise equivocada: a necessidade de investir tempo no cuidado e na educação dos filhos automaticamente reduziria a energia e a dedicação ao trabalho. Pouco refletimos, entretanto, a respeito dos ativos que a parentalidade (maternidade e paternidade) podem agregar a profissionais de setores dinâmicos da economia, como a tecnologia.

A resistência do mercado a quem tem filhos pequenos atinge principalmente as mulheres. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos, com filhos de até três anos, estão empregadas. Entre os tópicos da agenda para a construção de empresas mais diversas, que contemplem uma ampla gama de experiências e perspectivas, é fundamental incluir a oferta de todo o suporte e estrutura necessários para que mães e pais se sintam plenamente respaldados para conciliar compromissos profissionais e familiares.

Ter filhos é parte indispensável do plano de vida de muitas pessoas e não deve, sob nenhuma hipótese, ser considerado um empecilho para o desenvolvimento da carreira. Atuo no segmento de tecnologia há mais de 20 anos e fui mãe pela primeira vez em 2020. Olhando em retrospectiva para a minha trajetória, é possível identificar pontos em que evoluí profissionalmente após dar a luz.

FLEXIBILIDADE E CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO

Pouquíssimas situações da vida são tão imprevisíveis quanto a maternidade. Não há manual de instruções indicando a atitude ou o caminho certo a seguir, principalmente quando se trata da criação de filhos. Reconhecer a própria vulnerabilidade, a suscetibilidade a erros e que não há resposta pronta para tudo foi uma das primeiras lições que aprendi ao ser mãe. Algo que me ajudou muito, também, como profissional.

Ter filhos é parte indispensável do plano de vida de muitas pessoas e não deve ser considerado um empecilho para o desenvolvimento da carreira.

Liderar equipes de tecnologia é se ver, frequentemente, em cenários complexos, que demandam capacidade de coordenação e otimização dos recursos disponíveis, sobretudo quando você lida com diversos clientes, com as mais variadas necessidades.

A maturidade proporcionada pela parentalidade pode se estender a outros cargos além da liderança e se traduzir em competências valorizadas por qualquer empregador. Se tornar mãe ou pai exige o desenvolvimento da capacidade de se adaptar repentinamente a dificuldades inesperadas, como prestar a assistência necessária para o bebê se recuperar de um forte resfriado ou passar a noite em claro para acalmar a criança que não para de chorar.

Saber que é impossível manter o controle absoluto da situação durante todo o tempo ajuda a reduzir a ansiedade e a exercitar a racionalidade e o equilíbrio antes de tomar qualquer decisão no trabalho, das mais simples às mais desafiadoras. 

SUPORTE NECESSÁRIO

Nós, líderes, também devemos adaptar a estrutura da empresa para que mães e pais desempenhem seu trabalho

Se tornar mãe ou pai exige o desenvolvimento da capacidade de se adaptar repentinamente a dificuldades inesperadas.

onde quer que estejam. Segundo o Guia Salarial 2022, da consultoria Robert Half, quase 80% dos profissionais consideram o trabalho remoto uma forma de trabalhar. O benefício pode ser ainda mais importante para quem tem filho pequeno em casa.

Conceitos como o remote first mindset (“mentalidade remota em primeiro lugar”), que adotamos aqui na empresa, por exemplo, mudam o pressuposto de disponibilidade e nos permitem otimizar o acesso remoto a documentos, políticas e fluxos. Isso é fundamental para oferecer aos colaboradores a segurança de que, onde quer que estejam, poderão contribuir de forma plena e todos os recursos estarão à disposição.

O aquecimento do setor de tecnologia deve prolongar pelos próximos anos a disputa por profissionais qualificados. Encontrar formas de acomodar as preferências da realidade atual das famílias e as relações de trabalho, traduzindo o discurso em atitudes concretas para que eles possam demonstrar e desenvolver toda sua autenticidade e criatividade, é essencial para construir um ecossistema diverso e capaz de endereçar as necessidades dos clientes e, assim, garantir o sucesso e a longevidade de nossas empresas.


SOBRE A AUTORA

Fernanda Weiden é chief tech officer da plataforma de comércio eletrônico Vtex. saiba mais