Por que as sessões de brainstorming são, na verdade, uma perda de tempo

Embora as sessões de brainstorming sejam comuns em muitas empresas, seus aspectos psicológicos e sociais podem prejudicar o esforço criativo

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Chris Griffiths 5 minutos de leitura

Nas últimas duas décadas, tive o privilégio de conduzir sessões de brainstorming com algumas das mentes mais brilhantes do mundo – de ganhadores do Prêmio Nobel e famílias reais a grupos de discussão do governo e executivos da Fortune 500.

Fiz parcerias com as principais agências de criação que me procuraram, frustradas com a diminuição do retorno sobre o investimento (ROI) de seus próprios esforços de brainstorming

Tudo isso me colocou em uma posição única para observar de perto tanto o potencial quanto as armadilhas do brainstorming tradicional. E o que minha experiência revelou pode ser uma surpresa: os próprios métodos aos quais recorremos há muito tempo para explorar nosso potencial criativo podem ser os culpados por nos atrasar. 

Imagine o seguinte: você está em uma sala de reuniões, fazendo um brainstorming de novas ideias para o próximo grande projeto da sua empresa. Post its estão espalhadas pela sala. As canetas de escrever em quadro branco estão por toda parte. Mas, com o passar das horas, você tem a sensação de que está desperdiçando seu tempo. E talvez esteja mesmo.

A dolorosa verdade é que a forma mais popular de brainstorming – a sessão estruturada de geração de ideias em grupo – é uma assassina da criatividade quando feita de forma errada. Nem mesmo a tecnologia será capaz de salvá-lo se você ignorar algumas verdades simples.

Mas por que isso acontece? A resposta tem a ver com a forma como o cérebro está conectado e com a dinâmica de grupo dessas sessões. O brainstorming em equipe tornou-se parte da cultura corporativa, apesar de décadas de pesquisa demonstrarem que esse método geralmente gera menos ideias (e de menor qualidade) do que quando as pessoas trabalham sozinhas. 

Um conjunto complexo de mecanismos psicológicos e sociais prejudica o esforço criativo durante as sessões de brainstorming

Crédito: Istock

1. Viés conformacional e liderança predominante: se um líder respeitado emitir uma opinião no início do processo de brainstorming, o resultado pode ser radicalmente limitado. Com frequência, os membros da equipe tentarão, inconscientemente, adequar suas contribuições à opinião do líder, tentando se encaixar e confirmá-la, em vez de explorar ideias em outras direções que possam ser realmente mais criativas.

2. Pensamento de grupo e pressão pela conformidade: em grupos, é mais provável que as pessoas se alinhem com a opinião da maioria, o que acaba reprimindo ideias originais antes que elas tenham a chance de ser expressas.

3. Bloqueio da produção: em uma típica sessão de brainstorming, apenas um por vez pode falar. Enquanto as outras pessoas esperam sua vez, elas podem esquecer o que tinham pensado ou se autocensurar, perdendo, assim, ideias potencialmente úteis. E é ainda pior quando as sessões são realizadas online.

4. Receio do julgamento dos colegas: embora existam proibições contra avaliações negativas, as pessoas ainda se sentem julgadas em grupos. Esse receio com relação à opinião alheia pode levar à autocensura de ideias novas ou fora do convencional.

5. Preguiça social: algmas pessoas tendem a ser preguiçosas, contando com os outros para fazer o trabalho pesado da criatividade. Esse efeito parasita pode reduzir drasticamente o resultado de um grupo.

Mas o inimigo mais traiçoeiro da criatividade nas sessões de brainstorming é o que chamo de “armadilha do pensamento reativo”. O cérebro é programados para reagir a estímulos, algo que nos ajudou em nosso passado evolutivo.

Embora as sessões de brainstorming possam ser divertidas e produtivas, elas não costumam gerar ideias muito inovadoras.

No entanto, no contexto do brainstorming, isso nos leva a aproveitar a primeira boa ideia que encontramos, antes de termos a chance de considerar alternativas melhores.

Esse tipo de pensamento reativo é especialmente prejudicial porque não leva em conta um dos aspectos mais importantes do processo criativo: a incubação.

Nossas ideias mais criativas geralmente não ocorrem quando estamos em uma sessão de brainstorming, e sim quando estamos em repouso ou, melhor ainda, quando estamos no que chamamos de estado de “devaneio focado”.

ALTERNATIVAS AO BRAINSTORMING TRADICIONAL

Como podemos aproveitar ao máximo a faísca criativa da equipe? A resposta está em uma abordagem mais inteligente e amigável ao cérebro para a geração de ideias.

1. Brainsprint em vez de brainstorm: em lugar de longas sessões de brainstorming, criei o termo "brainsprint" — múltiplas explosões curtas de criatividade, espaçadas ao longo do tempo. Em vez de fazer uma reunião em grupo de três horas, divida o esforço em seis reuniões de 30 minutos, distribuídas ao longo de vários dias. Você verá ganhos notáveis em percepções e criatividade.

2. Aproveite o poder da imaginação: dê tempo aos membros da equipe para pensar. Muitas ótimas ideias surgem quando aparentemente não estamos fazendo nada.

3. Comece com a ideação individual: peça a cada pessoa para gerar ideias separadamente antes de reunir o grupo. Isso evita muitos dos obstáculos sociais do brainstorming e leva a um pensamento mais diversificado.

4. Empregue métodos estruturados: usar uma estrutura para levar da geração de ideias à implementação sempre vai proporcionar um impacto mais positivo. Lembre-se, inovação não é um evento, é um processo.

5. Aproveite a tecnologia: use ferramentas digitais que permitam a sugestão de ideias, bem como a colaboração assíncrona. Essas ferramentas, muitas vezes, ajudam a transformar as ideias em ação.

Ao redesenhar a criatividade no trabalho, não estamos tentando encontrar as melhores maneiras de gerar mais ideias mais rapidamente. Estamos tentando promover condições nas quais ideias únicas e preciosas tenham a melhor chance de surgir e prosperar. Isso significa respeitar a necessidade do cérebro de fazer novas associações, de trabalhar duro e também de relaxar e incubar. 

Embora as sessões de brainstorming possam ser divertidas e produtivas, elas não costumam gerar ideias muito inovadoras. Ao compreender a ciência do pensamento criativo e usar técnicas de ideação mais eficazes, podemos liberar o potencial criativo de nossas equipes.


SOBRE O AUTOR

Chris Griffiths é CEO da edtech OpenGenius. saiba mais