Por que autenticidade não é estratégia – e pode sabotar sua carreira

Especialista afirma que autenticidade sem estratégia alimenta narcisismo, prejudica equipes e favorece apenas quem já tem poder

autenticidade no trabalho
Créditos: Anton Vierietin/ Deagreez/ Getty Images

Tomas Chamorro-Premuzic e 3 minutos de leitura

A autenticidade é supervalorizada e pode ser um tiro no pé, especialmente no ambiente de trabalho. O sucesso depende de uma apresentação estratégica de si mesmo, de empatia e do equilíbrio entre liberdade pessoal e responsabilidade com os outros.

A seguir, Tomas Chamorro-Premuzic apresenta cinco ideias centrais de seu novo livro "Don’t Be Yourself: Why Authenticity Is Overrated (and What to Do Instead)" (Não seja você mesmo: por que a autenticidade é superestimada e o que fazer em vez disso – em tradução livre).

1. Autenticidade não é o "hype" que parece ser

A autenticidade se tornou um dos traços mais celebrados em praticamente todas as áreas da vida, especialmente no trabalho. Mas essa tendência, apesar das boas intenções, não saiu como planejado. O que deveria libertar as pessoas da pressão por se adequar ao ambiente profissional está gerando efeitos contrários.

Créditos: JNemchinova/ iStock/ Ismael Sánchez/ Pexels

Embora pesquisas em psicologia positiva mostrem que estar alinhado ao próprio eu aumenta o bem-estar, a obsessão pela autenticidade também tem um lado sombrio. A exaltação exagerada dessa ideia pode estimular comportamentos narcisistas, individualistas e pouco colaborativos. Em muitos casos, especialmente no trabalho, causa mais danos do que benefícios.

2. Os quatro "vilões" da autenticidade

Para líderes que desejam ser competentes, eficazes e promover uma cultura diversa e inclusiva, é fundamental evitar quatro armadilhas da autenticidade:

Ser sempre honesto consigo mesmo e com os outros

A maioria das pessoas tem uma visão positiva demais sobre si mesma, mas décadas de pesquisas mostram que essa autoimagem costuma estar desalinhada da percepção dos demais. Mesmo quando há autoconsciência, a honestidade nem sempre é o que o outro deseja: muitas vezes, feedback positivo, incentivo ou gentileza são mais adequados do que a verdade bruta.

Seguir sempre os seus valores

Agir cegamente de acordo com valores pessoais pode ser perigoso quando esses valores são prejudiciais, destrutivos ou antissociais. A história está repleta de líderes que foram fiéis a seus princípios, mas provocaram danos profundos.

Mesmo no cotidiano, seguir rigidamente valores individuais pode impedir a reflexão, acentuar polarizações e tornar o conselho “siga seu coração” uma armadilha.

Não se preocupar com o que os outros pensam

Ignorar expectativas externas não é realista. Somos seres sociais que dependem do olhar alheio e do feedback para evoluir. Desconsiderar a percepção dos outros pode preservar uma boa autoimagem, mas impede nosso desenvolvimento real como líderes, colegas e seres humanos.

Levar seu "eu verdadeiro" para o trabalho

O “eu verdadeiro” – incluindo as partes ranzinzas, impulsivas ou egoístas – dificilmente é bem-vindo no ambiente profissional. Por isso, dizer que as pessoas têm total liberdade de expressão no trabalho é ilusório.

As empresas devem buscar ambientes inclusivos que equilibrem expressão pessoal e responsabilidade coletiva, definindo claramente onde termina a liberdade e onde começam as obrigações com os outros.

3. Autenticidade pode prejudicar a carreira

Avanços profissionais exigem apresentação estratégica. Em vez de impor uma versão sem filtros de si mesmo, é mais eficaz administrar como você quer ser percebido.

Crédito: Khosrork/ iStock

Isso envolve entender o contexto social, adaptar-se às necessidades dos outros e ser intencional sobre o que compartilhar e como compartilhar. Gerenciar impressões não é manipulação, é uma ferramenta prática para alcançar objetivos reais sem comprometer a integridade.

4. Liderança eficaz requer comportamento adequado

Liderar não é se expressar livremente, é criar valor para os outros. Líderes precisam saber quando a transparência vira exposição excessiva, administrando emoções e comunicando de forma eficaz, sem cair em revelações inadequadas.

carreira em ziguezague
Créditos: 4x6/ iStock

Informações precisam ser entregues de maneira que ajudem equipes a crescer. Quando a autenticidade é mal dosada, provoca tropeços; quando é comunicada com intenção, gera influência, lealdade e colaboração genuína.

5. Autenticidade é um privilégio

A expressão plena de si mesmo costuma ser um luxo reservado aos poderosos – um privilégio da elite. Apenas quem tem status pode impor sua autenticidade com menos risco. Para a maioria, isso pode resultar em retrocessos profissionais e sociais.

O sucesso nasce do equilíbrio entre autenticidade, empatia, colaboração e consciência das normas sociais e organizacionais. Não seja apenas você mesmo. Seja você mesmo de forma estratégica, responsável e inteligente.


SOBRE O AUTOR

Tomas Chamorro-Premuzic é chief innovation officer no ManpowerGroup e professor de psicologia de negócios na Universidade Columbia e n... saiba mais