Por que conseguimos dar o melhor de nós ao trabalharmos sob pressão

Uma “mentalidade de escassez” toma conta de nós em horas difíceis. Enfrentando tempo limitado e cortes orçamentários dolorosos, os criativos inovam

Crédito: Jon Tyson/ iStock

Daniel McCarthy 4 minutos de leitura

Eram 16h de uma quarta-feira e minha equipe estava sob muita pressão.

Eles haviam sido encarregados de entregar uma campanha inteira com um de nossos artistas em menos de 24 horas, porque ele foi convidado para uma participação surpresa na série da Netflix Stranger Things.

Em uma situação ideal, a equipe teria quatro semanas para fazer esse trabalho. Mas, em vez de cair no desespero, eles começaram a agir a todo vapor. Reuniram todo o pessoal disponível e mergulharam em um fluxo de ideias de duas horas.

Sem restrições de tempo, os projetos poderiam durar semanas, meses ou até anos.

Menos de um dia depois de receberem o projeto, eles entregaram o ativo final. O que veio depois foi um sentimento de orgulho e realização.

O trabalho teria sido melhor se tivéssemos mais tempo? Possivelmente. Mas, se não tivessem essas limitações, talvez o resultado fosse menos inovador. Eles foram forçados a pensar de maneiras que não haviam considerado antes.

Em duas horas, o time lançou suas melhores ideias no quadro e saiu com algo que não apenas deixou a marca orgulhosa, mas também teve um desempenho eficaz. Começamos a trabalhar nisso às 11h, concluímos o brainstorm às 13h e entregamos os produtos finais antes das 18h.

Desde aquela experiência, em julho passado, tenho pensado no poder de inovação de situações em que os recursos são limitados. Tempo limitado, equipes, dinheiro.

MANTENDO O FOCO

No momento, as limitações são um assunto generalizado na indústria criativa, conforme as empresas estão se preparando para uma recessão iminente. No mundo da produção e licenciamento de conteúdo, trabalhamos com demandas crescentes e orçamentos menores. Muitos de nós tivemos que congelar contratações, demitir funcionários e reduzir contribuições de freelancers.

Estamos atravessando tempos sombrios. Mas, e se mudássemos nosso pensamento para considerar também os benefícios de trabalhar com menos?

Recursos limitados podem levar à maior clareza, criatividade e camaradagem. Sem restrições de tempo, os projetos poderiam durar semanas, meses ou até anos. Os recursos são desperdiçados, o perfeccionismo prevalece e perdemos de vista o objetivo final.

Crédito: Istock

Limitações e restrições de tempo forçam as equipes a permanecer no foco. Elas podem fazer a diferença entre terminar um projeto de verdade ou chegar a grandes ideias que permanecem apenas como rascunho.

O que aprenderemos operando durante tempos difíceis pode – e deve – ser implementado continuamente, pois isso vai nos preparar para o sucesso contínuo.

Como líderes, podemos usar a escassez para gerar resultados. Mas a abordagem deve ser honesta. Se a escassez for usada para manipular, o tiro sairá pela culatra. O truque é capitalizar as limitações sem induzir ressentimento. A seguir, algumas táticas que funcionam:

1. Desafie o status quo

Só porque você atingiu um determinado número em todos os meses no ano passado, não significa que há um limite para o que se pode alcançar quando se trata de inscrições de contas, engajamento, visualizações ou outras métricas.

Faça perguntas instigantes à sua equipe: como eles podem usar os recursos existentes para aumentar as vendas? O que pode ser feito para aumentar o engajamento?

2. Limite o tempo

Steve Jobs era fã dessa prática, dando à sua equipe de engenharia de software apenas duas semanas para criar um projeto do que se tornaria o iPhone. No meu mundo, faço uma miniversão disso, pedindo ao pessoal que conduza sessões abertas de brainstorming, nas quais abordamos grandes ideias em uma janela curta. A tarefa é aproveitar a escassez no seu melhor. Em uma hora – e às vezes menos – passamos da ideia à ação executável.

3. Seja fiel a seus princípios

Focar no que é mais importante facilitará a decisão de como usar os recursos. Quando criei minha empresa de licenciamento de conteúdo, tínhamos verba limitada. Como minha equipe inicial e eu valorizamos a qualidade em detrimento da quantidade, investimos em conteúdo de maior calibre e limitamos nosso escopo. Teria sido uma decisão mais difícil se não tivéssemos princípios claros.

4. Saiba quando reabastecer

As equipes podem ser criativas com o que têm, mas sempre vão chegar a um ponto em que os retornos serão decrescentes. Capacite seus gerentes para ter conversas claras e abertas com você quando os recursos ficarem extremamente baixos.

5. Celebre as vitórias

Reconheça as conquistas da equipe e compartilhe alguns dos ativos valiosos da empresa, como tempo ou dinheiro. Pode ser um bônus, um aumento de salário ou um investimento em ferramentas ou tecnologias que vão melhorar a vida dos funcionários. Retribuir é sempre um uso sábio de recursos, mesmo em tempos de escassez.


SOBRE O AUTOR

Daniel McCarthy é CEO da empresa de licenciamento de conteúdo criativo FM, que capacita criativos que moldam a cultura por meio de seu... saiba mais