Por que muitos líderes ainda não entenderam direito a corrida da IA

A filosofia da liderança é que vai definir se a adoção da IA pela empresa será uma corrida para o fundo ou uma escalada rumo ao topo

Crédito: SvetaZi/ Getty Images

Matt Finlayson 3 minutos de leitura

O Fórum Econômico Mundial lançou um alerta: até 2030, 41% dos empregadores planejam reduzir suas equipes por conta da inteligência artificial. O CEO da Amazon já avisou que a IA significará “menos pessoas fazendo certos trabalhos”. A Microsoft, por sua vez, cortou seis mil postos após acelerar sua adoção da tecnologia.

Mas esse movimento pode se tornar o maior erro estratégico da década. Porque a verdadeira decisão que os líderes enfrentam hoje não é qual modelo de IA adotar, mas como usá-lo: como máquina de demissões ou como vantagem competitiva para superar rivais?

A dinâmica não é nova. Em minha experiência anterior na Cloudability, vi de perto como empresas inovadoras não apenas economizavam mas também reinvestiam esses recursos em eficiência, alcance e participação de mercado.

Nosso produto de gestão de custos em nuvem raramente cortava gastos diretos nas contas, mas oferecia dados para otimizar investimentos – e as empresas que usaram essa vantagem para apostar mais alto se tornaram líderes. As que não o fizeram tornaram-se notas de rodapé nas histórias de crescimento dos outros.

Agora, com os agentes de IA, o padrão se repete. Só que, desta vez, o ganho não é financeiro, mas de tempo, capacidade e potencial humano. Segundo nova pesquisa da Salesforce, o uso de agentes de IA deve crescer 327% nos próximos dois anos, gerando ganhos de produtividade da ordem de 30%. Mas o foco não é substituição, é redistribuição.

Automatizar tarefas repetitivas como redirecionar chamados, resumir reuniões ou preencher relatórios não elimina empregos – libera tempo. Diretores de recursos humanos estimam que 23% da força de trabalho será realocada para novas funções e 89% acreditam que a IA vai permitir atribuir às pessoas cargos mais relevantes.

O DIFERENCIAL ESTÁ NO REINVESTIMENTO

Nem todo líder, no entanto, verá isso como oportunidade. Com base em minha vivência ao usar IA como impulsionador de equipe, acredito que as empresas que vão prosperar serão aquelas que souberem integrar pessoas e algoritmos de forma complementar, extraindo o máximo da eficiência da máquina e daquilo que ela nunca poderá replicar: criatividade, empatia e julgamento humano.

Isso revela uma escolha essencial: cortar ou investir. Mas, mais do que isso, levanta uma questão filosófica: você enxerga pessoas como custo a ser controlado ou como força para impulsionar seu negócio?

líderes que investem em suas equipes verão a IA agir como multiplicadora de impacto.

No caso de um call center, um gestor com mentalidade de corte pode pensar: “vamos substituir a equipe por chatbots e economizar.” O resultado? Clientes frustrados, mais reclamações e economia de curto prazo com prejuízo de longo prazo.

Já a visão de reinvestimento diria: “vamos usar IA para classificar e direcionar casos, garantindo que o cliente fale direto com o especialista certo.” Resultado: atendimento mais ágil, clientes satisfeitos, agentes focados em atividades estratégicas e crescimento sustentável.

Os ganhos de produtividade são reais. O que diferencia os líderes que avançam é o que fazem com eles. Eles perguntam:

  • Como podemos reinvestir essa eficiência para crescer?
  • Onde podemos deslocar o foco humano de tarefas para transformação?
  • Como podemos redesenhar o trabalho para gerar mais valor, e não apenas mais volume?

REVISAR, REALOCAR E REIMAGINAR

Para líderes prontos para crescer, três passos fundamentais:

  • Revisar: audite o uso do tempo dos colaboradores, identifique ferramentas subutilizadas e gargalos de processo. Liste tarefas repetitivas ou de baixo valor que podem ser automatizadas com IA.
  • Realocar: redirecione as horas liberadas para ações que acelerem receita, aprofundem o valor entregue ao cliente ou fomentem inovação.
  • Reimaginar: dedique tempo a interações de alto impacto, requalifique profissionais para áreas como vendas ou integre times de suporte ao desenvolvimento de produtos para eliminar problemas na raiz.

A inteligência artificial vai amplificar o que já existe. Líderes com visão estreita sobre pessoas e clientes verão essa limitação refletida na tecnologia. Já os que investem em suas equipes e na experiência do consumidor verão a IA agir como multiplicadora de impacto.

É por isso que, mesmo com ferramentas iguais, empresas obtêm resultados radicalmente diferentes. A tecnologia é a mesma, mas a filosofia de liderança define se a IA será uma corrida para o fundo ou uma escalada rumo ao topo.


SOBRE O AUTOR

Matt Finlayson é CTO da empresa de recursos humanos ActivTrak. saiba mais