Por que nunca estamos satisfeitos com o que conquistamos? A culpa é da dopamina
A busca constante por dopamina elevou tanto nossas expectativas que deixamos de aproveitar o que é simples

Boa parte da nossa insatisfação tem um responsável: a dopamina. É ela que nos faz querer sempre mais, mesmo quando já realizamos nossos maiores sonhos.
Por causa dela, sentimos aquela inquietação constante, aquela sensação de que sempre falta algo. Por isso, talvez não seja justo chamá-la de “molécula da felicidade”. Mas, ao mesmo tempo, é graças a ela que desenvolvemos habilidades extraordinárias.
A dopamina é a fonte da nossa criatividade, da imaginação e da capacidade de inovar. E a boa notícia é que dá para aproveitar esses benefícios sem abrir mão de uma vida mais leve e prazerosa.
Aqui estão cinco insights do livro “Taming the Molecule of More: A Step-by-Step Guide to Make Dopamine Work for You” (Domando a molécula do desejo: um guia para fazer a dopamina trabalhar a seu favor).
1. Dopamina não é o que te faz feliz
A dopamina desperta nossa curiosidade, ativa nossa imaginação e até pode nos levar ao sucesso. Mas, na maioria das vezes, só aumenta nossa inquietação. Isso porque ela faz com que sempre busquemos algo novo, mesmo quando já temos tudo o que precisamos.
Para os nossos ancestrais, isso foi essencial: a dopamina os mantinha atentos. Em um mundo cheio de perigos e com recursos escassos, era necessário ter um sistema de alerta que aumentasse a motivação. Ela fazia parecer que, ao conseguir o que buscavam, estariam mais seguros, felizes e satisfeitos. E por muito tempo, isso funcionou.
Mas o mundo mudou. Hoje não precisamos mais correr atrás de cada novidade. Mesmo assim, a dopamina continua agindo – muito mais do que gostaríamos – em um contexto em que já não é tão necessária assim.
2. A dopamina cria expectativas que a realidade não consegue atender
Aquela ansiedade de acessar as redes sociais, o vício em rolar o feed e a compulsão por compras têm uma raiz em comum: a dopamina. Ela alimenta a expectativa de recompensa, nos colocando em estado de alerta.
Vivemos à espera da próxima notificação, da nova atualização, daquele pacote da compra online chegando. E, com isso, o resto da vida começa a parecer sem graça. Então voltamos a buscar algo novo, que mais uma vez não preenche o vazio – e o ciclo recomeça.
3. A dopamina é o que nos permite imaginar o futuro
Nosso cérebro tem três circuitos ligados à dopamina. Um deles tem pouca influência sobre o comportamento, então vamos deixá-lo de lado. O segundo é o sistema do desejo – aquele que nos motiva a buscar o que ainda não temos.
O terceiro é o sistema de controle. Ele nos dá uma habilidade surpreendente: viajar mentalmente no tempo. Podemos imaginar qualquer futuro, nos mínimos detalhes, e prever as consequências sem nem sair do lugar.

Fazemos isso o tempo todo, mesmo em situações simples, como escolher onde almoçar. Pensamos no trânsito, na fila, no cardápio… tudo mentalmente. Mas essa mesma capacidade nos permite imaginar coisas muito mais complexas – como projetar prédios, desenvolver motores ou planejar uma viagem à Lua.
Esse circuito nos permite pensar de forma abstrata, testar hipóteses e criar soluções. É o que torna possível áreas como química, física quântica e matemática. A dopamina pode causar desconforto, sim – mas também é ela que nos permite construir o futuro.
4. A gente esquece de aproveitar as pequenas coisas
Quando meu melhor amigo faleceu, aos 39 anos, o orador no funeral disse: “talvez você não se lembre de tudo o que viveram juntos – e tudo bem. O importante é que aconteceu.”
Naquele momento, não entendi. Mas, com o tempo, aquilo fez sentido. A vida não é só feita para ser lembrada – é feita para ser vivida.
Talvez a gente esqueça dos detalhes, mas, enquanto tudo está acontecendo, o mais importante é aproveitar. Só que a dopamina vive nos distraindo, insistindo: “esqueça o agora. Pense no que vem depois.”
5. Uma vida satisfatória precisa de propósito
Mesmo que você consiga controlar todos os impulsos gerados pela dopamina, ainda pode continuar sentindo um vazio. Para encontrar o equilíbrio entre planejar o futuro e viver o presente, é fundamental ter um propósito e caminhar em direção a ele.
É possível viver o presente, antecipar o futuro e fazer tudo isso ter sentido? O psiquiatra Viktor Frankl dizia que precisamos olhar para além de nós mesmos, pois é aí que começa o sentimento de propósito. "Se você melhora a vida dos outros com algo que faz bem e com prazer, os dias parecem mais iluminados e a vida ganha propósito."
A dopamina alimenta a expectativa de recompensa, nos colocando em estado de alerta.
Aristóteles nos deu uma fórmula simples para desfrutar do presente, cultivar uma expectativa saudável em relação ao futuro e construir um sentido para a vida.
Ele dizia que isso se encontra na interseção de três coisas: o que gostamos de fazer, o que fazemos bem e o que contribui para o mundo além de nós mesmos. Coisas como lutar por justiça, aplicar bem o conhecimento ou simplesmente viver com gentileza e dignidade.
E não precisa ser nada grandioso. Você não precisa mudar o mundo. Pode ser encanador, carteiro, contador – o que importa é fazer algo que te faz bem, que você goste e que, de alguma forma, ajude outras pessoas. Isso é o que dá sentido à vida.
Propósito é a peça que falta no quebra-cabeça. É o que ajuda a lidar com a dopamina e, enfim, domar a tal “molécula do desejo”.
Este artigo foi publicado no Next Big Idea Club e reproduzido com permissão. Leia o artigo original