Por que o movimento de diversidade nas equipes perdeu força nas big techs

Como mulher negra e ex-funcionária da Microsoft, tenho acompanhado a tendência de abandono da DEI. Foi em parte por isso que acabei deixando o setor

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Isis Dillard 4 minutos de leitura

Em 2018, no início da minha carreira como profissional de vendas de tecnologia, fiquei cara a cara com um recrutador e minha primeira pergunta foi: "por que eu devia trabalhar para você?".

Algumas pessoas podem ter encarado a pergunta como uma ousadia, mas ela era genuína. Como uma mulher negra LGBTQ+, eu precisava entender por que deveria investir meus talentos em uma empresa que não tinha liderança negra.

O recrutador não sabia me responder, mas eu acreditava que poderia fazer a diferença e aceitei a oferta de emprego no GitHub, que a Microsoft adquiriu alguns meses depois.

Me dediquei muito ao meu trabalho e encontrei uma comunidade no BlacktoCats, o primeiro grupo oficial de recursos para funcionários negros do GitHub, criado em 2015. Nossa missão era atrair talentos negros para a tecnologia.

Criamos espaços seguros para funcionários negros, organizamos eventos e estimulamos a criação de mais grupos de recursos para funcionários. O que começou como uma iniciativa modesta acabou se transformando em uma empreitada global.

Trabalhando em uma big tech naquela época, tínhamos esperança de uma mudança real. O GitHub e a Microsoft estavam entre as poucas empresas que avançavam nos relatórios de diversidade. Até que chegou 2020 e, com ele, um acerto de contas em relação à justiça racial ao qual a liderança da empresa não ficou imune. 

A carta do CEO da Microsoft, Satya Nadella, aos funcionários prometia mudanças substanciais para promover uma empresa mais inclusiva. A empresa prometeu um investimento adicional de US$ 150 milhões em diversidade e inclusão e teve como objetivo dobrar o número de líderes negros na Microsoft até 2025.

Algumas semanas atrás, um ano antes do compromisso assumido para 2025, a Microsoft ganhou as manchetes depois de dispensar dois membros da equipe de eventos que trabalhavam com DEI  (diversidade, equidade e inclusão). 

Crédito: Eduardo Alexandre/ Andrew Moca/ Unsplash

Inicialmente, algumas publicações afirmaram que a Microsoft estava desmantelando toda a sua equipe de DEI, mas a empresa afirma que essas informações estão incorretas. "Nossos compromissos de D&I permanecem inalterados", afirmou Jeff Jones, porta-voz da Microsoft, em um comunicado. 

A notícia me fez pensar em como este momento é diferente para o trabalho de DEI, em comparação com 2020. A empresa não fez um acompanhamento muito rigoroso para saber se as promessas feitas há quase quatro anos 2020 foram realmente cumpridas. 

Essa tendência não se restringe à Microsoft. Os programas de DEI estão sendo deixados de lado em todas as grandes empresas de tecnologia. A Zoom demitiu uma equipe de DEI, e o Google e a Meta também fizeram cortes relacionados à DEI. Líderes, incluindo Elon Musk e Bill Ackman, criticaram e ridicularizaram o trabalho de DEI.

A NECESSIDADE DE UM AMBIENTE SEGURO

Quando deixei a Microsoft em 2022, estava orgulhosa do meu trabalho e do impacto sobre outros funcionários negros. Mas também estava cansada da necessidade constante de mascarar meu verdadeiro eu e lidar com as implacáveis microagressões.

Sei que minha experiência não é um incidente isolado e que as empresas podem fazer as mudanças necessárias para promover uma força de trabalho diversificada com responsabilidade.

Esse é um problema real, não apenas para as pessoas negras com capacidade de liderança e talento incríveis para oferecer a todos os setores, mas para os resultados de qualquer empresa. Pesquisas demonstram consistentemente que a diversidade gera melhores resultados comerciais. 

A diversidade promove a inovação em carteiras de investimento ou equipes executivas e reduz os pontos cegos. Uma pesquisa realizada pela Morning Consult para o Public Private Strategies Institute revelou que a maioria dos executivos seniores de empresas de todo o espectro político acredita que as iniciativas de diversidade são cruciais para o desempenho positivo dos negócios. E eles estão certos. 

Os programas de DEI estão sendo deixados de lado em todas as grandes empresas de tecnologia.

Uma série da McKinsey de 2020 constatou que as empresas com liderança étnica e culturalmente diversificada superaram em 36% a lucratividade daquelas com menor diversidade. Talvez ainda mais grave seja a equipe de "pontos sensíveis" formada por pessoas que pensam, se parecem e agem de forma muito semelhante. 

A questão dos vieses racistas evidentes na IA foi bem documentada, resultando em contratempos caros e constrangedores para gigantes globais como o Google. Temos que nos perguntar se esses problemas poderiam ter sido evitados se houvesse mais diversidade nas equipes que desenvolvem a tecnologia.

Quando a Microsoft diz que "nossos compromissos de D&I permanecem inalterados", eu acredito neles, na maioria das vezes. Os dados nos mostram os benefícios de uma força de trabalho diversificada. E sei que os CEOs inteligentes enxergam o argumento comercial para garantir a diversidade. 

    No entanto, eles também precisam garantir que estão construindo sistemas que possam criar segurança e responsabilidade reais para funcionários diversificados em grandes empresas, como os programas DEI foram projetados para fazer. 

    As grandes empresas de tecnologia têm um longo caminho a percorrer antes de poder dizer com confiança que não precisam desses compromissos, e eu incentivo outras empresas do Vale do Silício a dar continuidade aos programas DEI.


    SOBRE A AUTORA

    Isis Dillard é gerente de desenvolvimento de negócios do Fundo ICA, um fundo de capital de risco sem fins lucrativos. saiba mais