Por que ter mais mulheres no board dá mais segurança aos negócios

Estudo mostra que lideranças femininas tendem a priorizar a segurança no ambiente de trabalho – o que pode ajudar empresas a evitar prejuízos bilionários

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K.R. Callaway 3 minutos de leitura

Incluir mais mulheres nos conselhos de administração não é apenas uma forma de promover diversidade na liderança. Estudos recentes indicam que isso também pode tornar os ambientes de trabalho mais seguros e evitar grandes prejuízos.

De acordo com uma análise feita em 266 empresas entre 2002 e 2011, aquelas com maior presença feminina no board registraram menos acidentes de trabalho – especialmente quando essas mulheres ocupavam posições de influência. O estudo foi publicado em abril no “Journal of Operations Management”.

“O interessante nesse estudo é que, ao levar em conta o fator humano, ele consegue oferecer uma nova perspectiva sobre como as empresas funcionam e ajuda a explicar por que certos processos operacionais variam tanto”, diz Kaitlin Wowak, coautora do estudo e professora de análise de negócios da Universidade de Notre Dame, nos EUA.

Só nos Estados Unidos, as empresas gastam mais de US$ 1 bilhão por semana com incidentes relacionados à segurança no trabalho. Essas ocorrências – que vão de paralisações e greves a acidentes envolvendo funcionários – geram prejuízos financeiros, causam danos à reputação e podem ter consequências graves para os trabalhadores. Entender o papel da liderança nesses casos é essencial para reduzir os riscos.

Para comparar os níveis de segurança entre as empresas, os pesquisadores cruzaram dados da Administração de Segurança e Saúde Ocupacional dos EUA com informações de conselhos obtidas pela Institutional Shareholder Services e registros de violações do banco de dados Violation Tracker. A conclusão foi clara: quanto mais mulheres no conselho, menos incidentes registrados.

O efeito positivo foi ainda maior quando essas mulheres ocupavam cargos estratégicos, como assentos em comitês influentes. Nessas posições, elas têm mais espaço para se posicionar – e também são mais ouvidas –, explica Corinne Post, coautora do estudo e professora de liderança e gestão da Universidade de Villanova.

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Segundo os autores, essa diferença pode estar relacionada a formas como homens e mulheres percebem riscos, demandas de stakeholders e normas regulatórias. Cada um traz para as decisões experiências de vida diferentes.

Mulheres, por exemplo, costumam estar mais engajadas com causas sociais e atividades comunitárias. Essa diversidade de vivências amplia a visão nas tomadas de decisão, apontam os pesquisadores.

“Não é só sobre diversidade de gênero – todas as formas de diversidade são importantes”, afirma Wowak. “Quando há diferentes formações e maneiras de pensar, o processo decisório ganha em qualidade e profundidade.”

Análise apontou que empresas com maior presença feminina no board registraram menos acidentes de trabalho.

Este é o primeiro estudo a estabelecer uma conexão direta entre diversidade na alta liderança e segurança operacional. Ele se soma a um conjunto crescente de pesquisas que mostram como equipes diversas trazem benefícios práticos para os negócios.

“Fiquei feliz com os resultados, mas não surpreso”, diz Michael Abebe, professor de gestão da Universidade do Texas em Rio Grande Valley, que pesquisa diversidade em cargos de liderança. Para ele, o estudo reforça que a presença feminina em posições de comando gera ganhos reais e mostra como o foco dessas pesquisas vem mudando ao longo do tempo.

Abebe lembra que, por muito tempo, os estudos sobre diversidade se concentravam no chamado “teto de vidro” – a barreira invisível que impede mulheres e grupos minorizados de chegar ao topo, mesmo em setores já diversos. Hoje, o foco passou a ser entender como a diversidade na liderança impacta diretamente os resultados das empresas.


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