Por que você deveria buscar um significado para a vida (e como fazer isso)

Um grande obstáculo que nos impede de viver uma vida com significado é que, muitas vezes, as coisas não parecem ter sentido

Crédito: Mehdi Batal/ Pexels

Steven Heine 4 minutos de leitura

Ultimamente, parece que todos estão na defensiva. O mundo está passando por uma verdadeira crise de saúde mental, com os índices de ansiedade, depressão e mortes por desespero subindo muito em vários países.

Como lidar com esses tempos tão difíceis?

UM SIGNIFICADO PARA A VIDA AJUDA A PROTGER CONTRA A ANSIEDADE

Sentir que estamos levando uma vida com sentido nos protege da ansiedade e da incerteza. Quando as pessoas sentem que suas vidas têm um propósito, algo que as guia, tudo faz mais sentido. Elas acreditam que o que fazem importa e que podem realmente fazer a diferença no mundo.

A psicologia existencial, que está crescendo como campo de estudo, tem mostrado respostas baseadas em pesquisas sobre o que torna uma vida significativa. O significado está relacionado a conexões, e uma vida significativa é profundamente conectada.

Por exemplo: as conexões interpessoais desempenham um papel essencial, pois as pessoas sentem que suas vidas são mais significativas quando estão com quem amam, principalmente quando assumem um papel de cuidador.

Além disso, as pessoas também percebem mais sentido na vida quando fazem parte de uma comunidade, porque isso proporciona uma sensação de pertencimento e identidade.

As conexões com o trabalho também podem dar um senso de propósito e competência. E as pessoas se sentem mais significativas quando suas vidas estão conectadas ao reino transcendente, ou seja, quando sentem que fazem parte de algo muito maior do que o mundo material.

Quando as vidas das pessoas estão bem conectadas nesses aspectos, elas se sentem “fundamentadas” existencialmente. Suas vidas fazem sentido, elas têm propósito no que fazem e sentem que importam de maneira geral. Essa forma de pensar ajuda a enfrentar momentos difíceis.

CONTAMOS HISTÓRIAS PARA DAR SENTIDO À VIDA

Nossas vidas só parecem significativas quando fazem algum sentido para a gente. Mas o problema é que a vida nem sempre parece coerente. Podemos, por exemplo, ser pessoas bem diferentes em situações diferentes. Podemos ser bobos entre os amigos, mas no trabalho, sermos ambiciosos e responsáveis. Como juntar todos esses pedaços da nossa personalidade?

Fazemos isso contando histórias. Criamos narrativas com a gente mesmo como o personagem principal, vivendo uma jornada onde enfrentamos as experiências e os desafios da nossa própria vida. Essas histórias nos ajudam a entender quem somos, o que estamos fazendo e por que estamos fazendo. Elas formam a base do nosso “eu”.

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Nossas histórias se baseiam em premissas simples, mas extremamente importantes, que guiam a forma como vivemos os eventos da nossa vida.

Pode ser que nossas histórias sejam construídas em torno de premissas como “eu sou uma boa pessoa” ou “cada um tem o que merece”. Uma parte importante de dar um significado para a vida é aprender a contar essas histórias de forma envolvente e sensata.

AS DIFICULDADES DA VIDA PODEM GERAR MAIS SIGNIFICADO

Sentir que a vida tem sentido e sentir-se feliz são duas coisas relacionadas. Mas o significado da vida vai muito além dos sentimentos positivos. Podemos aprender bastante se focarmos nas diferenças entre significado e felicidade.

O filósofo Jean-Paul Sartre observou de forma astuta que “a vida humana começa do lado oposto do desespero”, e muitos estudos confirmam isso.

Uma pesquisa, por exemplo, investigou as características de pessoas que têm vidas mais significativas e descobriu que elas costumam relatar mais experiências negativas, mesmo que esses momentos custem sua felicidade. Nossas dificuldades podem, muitas vezes, dar mais sentido à vida.

as pessoas sentem que suas vidas são mais significativas quando estão com quem amam.

As pessoas conseguem encontrar mais sentido no mundo depois de um trauma porque suas relações ficam mais próximas, já que elas recebem muito apoio social. Também é comum que as pessoas encontrem um novo propósito ao reavaliar suas vidas, e muitas se tornam mais altruístas com outros que passaram por tragédias.

Além disso, as pessoas geralmente crescem porque descobrem forças interiores que não sabiam que tinham. A vida espiritual também costuma ficar mais profunda após um trauma.

Por fim, a percepção de que tudo pode ser perdido em um instante faz com que as pessoas que sobrevivem a traumas se tornem mais gratas por tudo aquilo que ainda têm. Elas deixam de achar que a vida já está garantida.

O SIGNIFICADO DA VIDA PODE SER CULTIVADO

O significado em nossas vidas pode (e deve) ser cultivado. Não nascemos com uma quantidade fixa de significado; ele pode ser desenvolvido, assim como qualquer outra habilidade. Existem exercícios que podem dar um empurrão temporário nas nossas percepções de sentido, e isso pode ser super importante quando estamos nos sentindo estagnados.

Um exercício simples ajuda as pessoas a se sentirem mais fundamentadas existencialmente – ou seja, a terem uma ideia clara de quem são e do que defendem. Elas se sentem mais sólidas após refletirem sobre seus valores mais importantes.

Escrever um pequeno parágrafo sobre seus valores fundamentais pode colocar você em uma posição melhor para enfrentar os problemas com mais resiliência.

Lembre-se de que as histórias da nossa vida juntam os fios que a compõem e nos dão um senso de coerência, propósito e importância. Não podemos mudar o passado, mas isso não significa que nossas histórias de vida estejam escritas em pedra.

Por fim, se você tentar identificar suas transformações, os aliados que fez pelo caminho e os desafios aparentemente intransponíveis que atravessou, vai aprender a refletir sobre sua vida de uma forma mais significativa.

Este texto foi originalmente publicado na revista "Next Big Idea Club" e republicado com permissão. Leia o artigo original


SOBRE O AUTOR

Steven Heine é professor na Universidade da Colúmbia Britânica, pesquisador na área de história e filosofia do zen budismo e autor do ... saiba mais