Porque as mulheres estão deixando a força de trabalho

As empresas precisam começar a prestar mais atenção à menopausa

Crédito: Krzysztof Hepner/ Unsplash

Terry Weber 4 minutos de leitura

Fica cada dia mais evidente que as mulheres estão deixando o mercado em números recordes. Em comparação com os números pré-Covid-19, são milhões de mulheres que abandonaram a força de trabalho. Enquanto os homens estão recuperando rapidamente os empregos perdidos, as mulheres estão retornando ao mercado em um ritmo muito mais lento.

Os motivos mais citados para esse não retorno são os custos altíssimos com cuidados infantis, as responsabilidades com o cuidado da família e pressão ou esgotamento de fazer malabarismos para dar conta de várias obrigações. Os analistas correm para apontar as muitas razões que têm levado as mulheres, especificamente, a deixar o mercado de trabalho. Mas, mesmo assim, continuam deixando um motivo fora da lista.

O TABU DA MENOPAUSA NO LOCAL DE TRABALHO

Atualmente, até 20% da força de trabalho dos EUA se sente afetada pelos sintomas da menopausa. E, diferentemente das mulheres que decidem parar de trabalhar para cuidar da família, as que lutam contra os sintomas da menopausa raramente encontram orientação, apoio ou uma escuta solidária por parte da empresa.

Como uma CEO mulher em indústrias dominadas por homens durante a maior parte da minha carreira, quase consigo escutar os homens menosprezando essa questão. “Como isso pode ser um problema grave se nunca ouvi alguém dizer que a menopausa foi o motivo para abandonar o emprego?”

Mulheres que lutam contra os sintomas da menopausa raramente encontram orientação, apoio ou uma escuta solidária por parte da empresa.

Trabalhando com pesquisas na área de medicina integrativa, ouvi em primeira mão depoimentos de pacientes cujas vidas estavam sendo alteradas pelos sintomas da menopausa, mas que não pensaram em procurar ajuda médica até que seus sintomas se tornassem muito incômodos no trabalho.

Mas isso é apenas o começo. Quando alguém decide procurar ajuda, um número alarmante de profissionais de saúde ainda se sente desconfortável ao tratar a menopausa, ou não está familiarizado com a variedade de sintomas que os desequilíbrios hormonais podem causar.

Ou seja, mesmo quando as mulheres procuram atendimento médico, muitas vezes elas são diagnosticadas incorretamente ou instruídas a “esperar” passar – e nada disso as ajuda a lidar com os sintomas no local de trabalho.

OS NÚMEROS NÃO MENTEM

Para se ter uma melhor ideia e compreensão da questão, decidi pesquisar mulheres trabalhadoras em idade de menopausa nos EUA. Sabendo que essa geração provavelmente passou a maior parte da carreira escondendo qualquer coisa que as diferenciasse de seus colegas homens, senti que dados concretos forneceriam insights mais claros.

Nossa empresa realizou recentemente uma pesquisa sobre Mulheres e Mercado de Trabalho (Women in the Workplace), que revelou que quatro em cada 10 mulheres apresentavam sintomas da menopausa que interferiam semanalmente em seu desempenho ou produtividade no trabalho.

A maioria das entrevistadas não falou sobre o assunto com um gerente por vergonha ou medo de ser discriminada.

Cerca de 17% deixaram o emprego ou consideraram desistir dele devido aos sintomas da menopausa. É uma porcentagem significativa da força de trabalho feminina que não voltou depois do auge da pandemia.

Também descobrimos que muitas entrevistadas não se sentiam à vontade para pedir adaptações no trabalho. Mais de 87% não falaram com um gerente sobre seus sintomas, citando motivos que sugerem sentimentos de vergonha e medo de discriminação de ou serem vistas como fracas ou dando desculpas. Apenas 34% dessas entrevistadas sentiram que as pessoas que enfrentam desafios no local de trabalho devido à menopausa receberiam apoio.

Toda vez que ouço sobre a escassez de mulheres na força de trabalho, me pergunto quantas delas se sentiram forçadas a pedir demissão simplesmente porque nossa sociedade não está disposta a normalizar um estágio natural da vida.

UMA PRECIOSA PARCELA DA POPULAÇÃO

Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas já avançamos muito. Nos últimos anos, as empresas criaram ambientes de apoio, com licença médica e familiar e acomodações razoáveis, ​​que nos reconhecem como seres humanos.

As mulheres em menopausa devem ser incluídas nessas conversas e de forma a não sobrecarregar aquelas que temem o impacto que isso pode ter na carreira ou no relacionamento com os colegas.

bondade, compaixão e consciência do que essas mulheres estão passando podem ajudar muito.

Tenho números para provar isso. Mais da metade das mulheres entrevistadas disseram que, se estivessem pensando em trabalhar para uma empresa, seria importante que ela expressasse claramente o compromisso de apoiar funcionárias com sintomas da menopausa.

Se você é um líder ou está em uma posição de poder em sua empresa, há várias medidas que pode tomar para melhorar essas estatísticas. Comece fazendo algumas adições simples às diretrizes dos funcionários, como oferecer flexibilidade para trabalho remoto e opções para controle de temperatura das salas.

Esses dois fatores podem afetar significativamente como esse grupo demográfico se sente em relação ao local de trabalho. Nossas pesquisas também revelaram que bondade, compaixão e consciência do que elas estão passando podem ajudar muito. 

Como empregadores, devemos normalizar as necessidades dos seres humanos e trabalhar para que todos os locais de trabalho sejam ambientes com um padrão mínimo de apoio. Dessa forma, conseguiremos atrair e manter os melhores talentos em todas as fases da vida. Esse é um futuro para o qual todos devemos trabalhar.


SOBRE A AUTORA

Terry Weber é CEO da empresa de biotecnologia Biote. saiba mais