Qual é a sua “linguagem da mudança”? Veja como ela influencia o trabalho

Não importa o caminho, porque, no final, as linguagens da mudança beneficiam todas as áreas da transformação organizacional, desde a gestão de projetos até o desenvolvimento de liderança e a resolução de conflitos

Qual é a sua “linguagem da mudança”? Veja como ela influencia seu trabalho
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Aaron Barlin 6 minutos de leitura

Ao longo de um ano, atuei como integrante do comitê de planejamento estratégico de uma organização sem fins lucrativos. As reuniões eram confusas e estonteantes na melhor das hipóteses, tensas e ameaçadoras na pior.

À primeira vista, esse atrito não fazia sentido. Fora das reuniões, tínhamos um forte entrosamento. Todos estávamos explícita e completamente entusiasmados com a mudança organizacional que esse comitê tinha a tarefa de realizar.

O QUE ACONTECE DE ERRADO?

Mas, apesar do nosso compromisso mútuo com a perspectiva de mudança, tínhamos dificuldade em falar sobre o assunto de forma que todos entendessem. Não conseguíamos lidar com as diferentes necessidades e prioridades que surgiriam.

Enquanto participava do comitê de planejamento estratégico, comecei a desenvolver a ideia de extrapolar as "linguagens do amor", criada por Gary Chapman, conselheiro matrimonial experiente e autor do livro “As Cinco Linguagens do Amor”, para o âmbito da mudança.

A partir daí, o caminho foi estabelecer conexões entre esforços de mudança que haviam fracassado ou sido mal comunicados ao longo de mais de dez anos em diferentes funções, como professor e coach de desenvolvimento profissional. Cada função e equipe sempre se concentrava no crescimento e na transformação organizacional.

Após serem testadas sob pressão em cenários reais com clientes e colegas, as linguagens de mudança foram então sintonizadas com os insights de pensadores, trazidos em seus livros. Entre eles, Lisa Laskow Lahey e Robert Kegan (“Imunidade à Mudança”), Adrienne Maree Brown ("Emergent Strategy", ou “Estratégia Emergente”) e Damon Centola ("Mudança: como as grandes transformações acontecem").

AS 6 LINGUAGENS DA MUDANÇA

As definições a seguir buscam não apenas diferenciar as seis linguagens da mudança, mas também ajudá-lo a identificar qual delas ressoa mais. Saber quais linguagens você prefere falar é um pré-requisito para perceber quais das seis linguagens da mudança estão sendo faladas por outras pessoas.

1) CLAREZA DA PANORAMA GERAL

“Como somos em pequena escala é como somos em grande escala. O que praticamos em pequena escala define os padrões para todo o sistema.”

—Adrienne Maree Brown, "Emergent Strategy"

Se a sua linguagem da mudança for “clareza da perspectiva geral”, você se sentirá seguro(a) quando souber para onde e como a transformação está se encaminhando a partir da perspectiva de alto nível dos sistemas, bem como quando puder prever como se encaixará e interagirá com esses sistemas em uma virada.

Ao entender a mudança, você se sente motivado a mapear uma perspectiva ampla sobre a situação — esclarecendo os resultados sistêmicos pretendidos ou potenciais, selecionando os modelos de gestão que mais se alinham à sua situação atual e, talvez, até mesmo considerando como sua experiência se encaixa em contextos políticos, internacionais e ambientais mais amplos.

2) SEGURANÇA PESSOAL

Não é a mudança que causa ansiedade; é a sensação de que estamos sem defesas diante do que vemos como perigo que causa ansiedade.”

—Robert Kegan e Lisa Laskow Lahey, "Imunidade à Mudança"

Se a sua linguagem de mudança for “segurança pessoal”, seu próprio bem-estar — e o bem-estar dos outros — estará em primeiro lugar. Você se certifica de que ninguém seja deixado sozinho para lidar com as consequências.

Portanto, ao entender a transformação, você é movido pela pergunta fundamental: “No fim das contas, quem vai ficar bem e quem não vai?” Você descobrirá como ela pode impactar sua carga de trabalho, posicionamento, busca por objetivos profissionais e até mesmo sua empregabilidade básica. Você tem uma forte preferência por mudanças que minimizem o risco pessoal.

3) ALINHAMENTO DE VALORES

“Não pergunte o que o mundo precisa. Pergunte o que faz você se sentir vivo e faça. Porque o que o mundo precisa é de pessoas que se sintam vivas.”

—Howard Thurman

Se a sua linguagem de mudança é “alinhamento de valores”, você se sente mais aberto a essas viradas quando, ao lado da equipe, se preocupa com os mesmos princípios e caminha em direção a algo em que todos acreditam. Seus sensos internos de moralidade e propósito racionalizam suas negociações com uma virada.

Ao dar sentido à mudança, você descobre como ela pode reforçar (ou interferir) na sua busca, da sua equipe e da sua organização pela missão em questão. (Na verdade, você provavelmente tem a missão e/ou a visão da sua organização marcadas para consulta frequente.)

Portanto, para você, não vale a pena perseguir uma virada se ela não estiver claramente alinhada com a sua causa.

4) SENSO DE CONTINUIDADE

“A arte do progresso é preservar a ordem em meio à mudança e preservar a mudança em meio à ordem.”

—Alfred North Whitehead, "Processo e Realidade"

Se a sua linguagem de mudança é “senso de continuidade”, você se sente estabilizado quando os esforços presentes e futuros estão claramente conectados aos esforços passados. Você prefere uma sensação de progresso que se baseia nesse passado, em vez de uma reinicialização a partir dele.

Ao dar sentido à mudança, você ouve para confirmar se elementos essenciais do passado aparecerão ou importarão em alguma forma futura reconhecível. Por exemplo, se uma equipe transfere reuniões com clientes de um formato presencial para um virtual, você pode querer que o mesmo time esteja envolvido (para preservação de papéis) ou que o tom da interação permaneça consistente (para familiaridade socioemocional). Caso contrário, você provavelmente se perderá com a novidade.

5) CUIDADO COM O TEMPO

“Tanto o bom senso quanto as evidências científicas concordam: a repetição é uma forma de mudança.”

—James Clear, "Hábitos Atômicos"

Se a sua linguagem é "cronometrar com cuidado", você se sente mais capaz quando a mudança ocorre no ritmo da confiança e da prontidão: nem muito rápido, nem muito lento, com espaço para recaídas, erros e mal-entendidos inevitáveis.

Ao entender a mudança, mesmo que você se identifique com a lógica da implementação de uma iniciativa específica, pode não embarcar totalmente até ver um cronograma para a implementação dessa iniciativa.

Você quer ver a virada dividida em fases, cada uma proporcionando tempo para você absorver, errar, aprender, se ajustar e, eventualmente, se preparar para passar para a próxima fase. Então, revisões aceleradas são um dos seus piores pesadelos profissionais.

6) CELEBRAÇÃO DO CRESCIMENTO

“Nós nos deleitamos com a beleza da borboleta, mas raramente admitimos as mudanças pelas quais ela passou para alcançar essa beleza.”

—Maya Angelou

Se você fala a linguagem de "celebrar o crescimento", você se sente resiliente quando o progresso é afirmado, o feedback é dado com compaixão e fazer a transformação é prazeroso. Você não quer que a mudança pareça uma tarefa ou um fardo, mas sim uma fonte de realização e satisfação.

Ao dar sentido à mudança, você prefere ter uma noção do que provavelmente sinalizará que ela está indo na direção certa, para que possa estar atento a esses sinais.

Quando você está no meio de uma transformação, busca tarefas que deseja realizar, em vez de precisar realizar, bem como incentivos que valorizem seu esforço, não apenas seus resultados. Quando a virada não é agradável ou criativa, você se sente drasticamente menos comprometido.

O QUE ESTOU TENTANDO DIZER É...

As linguagens da mudança beneficiam todas as áreas da virada organizacional, desde a gestão de projetos até o desenvolvimento de liderança e a resolução de conflitos. Elas nos ajudam a lidar com a transformação de forma relacional — em vez de sozinhos, indignos ou confusos.

Em vez de resistir ao fato de que pessoas diferentes inevitavelmente se apegam a diferentes aspectos da mudança, podemos abraçar essas diferenças com clareza. Assim, aumentamos nossas chances de chegar a um lugar mais fundamentado, mais alinhado e, em última análise, mais realizado do que onde começamos.


SOBRE O AUTOR

Aaron Barlin é designer instrucional e facilitador na Elynndí. saiba mais