Quem trabalha remotamente não é desleal à empresa. Só não se sente parte dela

Crédito: Emma/ GettyImages

Scott Dust 4 minutos de leitura

As empresas estão contratando em massa pessoas para trabalhar no regime remoto. Isso facilitou muito a vida dos gerentes de recrutamento e seleção, porque ampliou significativamente o universo de talentos disponíveis. Os funcionários, por sua vez, também estão contentes, pois o regime remoto se tornou uma importante fonte de flexibilidade e, consequentemente, de bem-estar geral.

No entanto, há um problema: os trabalhadores virtuais estão se sentindo menos comprometidos com as empresas. Quando os relacionamentos são estabelecidos e mantidos puramente por meio da tecnologia, os funcionários ficam mais propensos a mudar para outro emprego.

O problema é que as empresas não estão conseguindo adaptar sua abordagem para manter forte a cultura organizacional. As oportunidades de estabelecer relacionamentos, compartilhar perspectivas e construir familiaridade profissional e pessoal são muito mais abundantes em ambientes presenciais. Já os funcionários virtuais exigem uma abordagem mais direcionada.

O compromisso de continuidade passa a ser situacional – depende de uma análise de custo-benefício. Se a minha empresa me oferecer um pacote de emprego compatível com o tempo e a energia que dedico ao trabalho, vou permanecer nela. Mas essa é apenas uma forma de compromisso e, infelizmente, ela conta menos que um segundo tipo: o comprometimento afetivo.

Quando os relacionamentos são estabelecidos e mantidos só por meio da tecnologia, os funcionários ficam mais propensos a mudar de emprego.

Esse tipo de comprometimento envolve um sentimento de apego emocional e identificação com a missão e a cultura da empresa. Pesquisas demonstram que, à medida que os funcionários experimentam um senso de compromisso afetivo, ficam menos propensos à rotatividade e mais a ter maior frequência, melhor desempenho e a se envolver em comportamentos de colaboração.

Com funcionários virtuais, tornou-se mais difícil para as empresas criar e facilitar vínculos emocionais baseados em identidade. Isso torna muito mais fácil para as pessoas se imaginarem em outro emprego. Felizmente, há um punhado de táticas que podem aumentar o comprometimento afetivo dos funcionários virtuais. 

INTEGRAÇÃO PRESENCIAL

Sempre que possível, a adaptação à empresa deve ser feita presencialmente. Mesmo que essa integração seja de apenas 48 horas, vale a pena. As pessoas ficarão muito mais à vontade para falar, para expressar preocupações e fazer perguntas quando estiverem no ambiente físico da companhia. Quando os funcionários se sentem perdidos, sentem menos apego emocional, o que facilita a sua saída.

ENCONTROS TRIMESTRAIS 

Os funcionários não costumam gostar de perder tempo e energia fazendo atividades sociais com pessoas que já veem todos os dias. Mas a situação mudou com a naturalização do trabalho virtual. Quem trabalha remotamente quer apertar as mãos e conhecer colegas em um nível mais pessoal. Eles querem construir confiança, estabelecer conexões e rede. Tudo isso pode ser proporcionado durante um evento de um ou dois dias.

Sempre que possível, a adaptação à empresa deve ser feita presencialmente. Mesmo que essa integração seja de apenas 48 horas.

Nesse sentido, a melhor prática hoje em dia é fazer um encontro trimestral, no qual todos os funcionários remotos partilham um espaço físico de reunião, como um centro de eventos ou a própria sede da empresa. A chave é criar uma experiência que seja agradável e útil. Se o lugar escolhido for ruim, o encontro fará mais mal do que bem. Tente testar a compatibilidade das agendas antes da data e promover interações de alta qualidade durante o evento.

FAMILIARIDADE POR MEIO DA TECNOLOGIA

O maior obstáculo para os trabalhadores virtuais é que eles sofrem para obter o que chamamos de familiaridade profissional: entender as tendências, os pontos fortes, os valores e as preferências relacionadas ao trabalho dos colegas. A familiaridade profissional é a base psicológica que facilita a confiança e as interações da equipe de alta qualidade, que são importantes precursores do comprometimento afetivo.

As empresas precisam investir em tecnologia de RH que facilite a familiaridade profissional. As pessoas sentem falta de informações mais precisas, mais acessíveis ​​e sob demanda sobre a psicografia dos colegas. Isso aumentará significativamente a compreensão interpessoal dos membros da equipe.

VALE A PENA PENSAR FORA DA CAIXA

Essas três sugestões são apenas o começo, ou seja, táticas que já sabemos que funcionam. As empresas que desejam liderar seu setor na retenção de talentos virtuais por meio de maior comprometimento afetivo devem continuar experimentando, monitorando resultados e se adaptando.

Por exemplo: por que não ir além e começar a oferecer aos funcionários oportunidades de fazer retiros não relacionados ao trabalho? Retiros de bem-estar financiados pela empresa – meditação, yoga, culinária saudável – parecem oportunidades excelentes para ajudar os colegas a se conhecerem.

Para manter com sucesso os funcionários virtuais, será necessário muito mais do que um salário competitivo. Essa abordagem só é útil para um compromisso inicial. As organizações que desejam compromisso afetivo precisarão se concentrar na integração presencial, nos encontros locais regulares e na construção de familiaridade por meio da tecnologia. As que levam a sério a retenção de talentos virtuais, com o tempo, colherão as recompensas tanto culturais quanto financeiras.


SOBRE O AUTOR

Scott Dust é professor de administração da Universidade de Cincinnati e diretor de pesquisa da Cloverleaf, plataforma de tecnologia qu... saiba mais