Quer líderes melhores? Pare de treinar e comece a escolher diferente
Baseada em cuidado, empatia e transparência, a abordagem do “líder servidor” constrói times resilientes e culturas mais fortes

As empresas continuam gastando bilhões por ano em programas de treinamento de liderança, mas aqui estamos, em 2025, com um déficit crescente de líderes e executivos desesperados por respostas. Sendo bem direto: ainda estamos atacando o problema pelo lado errado.
Altos executivos seguem promovendo funcionários de alto desempenho a cargos de liderança e esperando que eles “se virem” sozinhos. Muitos não têm tempo, apoio ou sequer o perfil necessário para liderar pessoas de forma eficaz. Depois, ninguém entende quando os resultados são inconsistentes ou quando a equipe entra em burnout.
Antes de investir em mais uma rodada de treinamentos, as empresas precisam começar com uma pergunta mais básica: estamos escolhendo as pessoas certas para liderar? Mais importante ainda, estamos formatando os comportamentos de liderança que queremos que elas aprendam?
Liderança, no fim das contas, gira em torno de pessoas, confiança e relacionamentos. A verdade continua a mesma: grandes líderes lideram servindo. Eles se concentram no que sua equipe precisa para ter sucesso – clareza, orientação, segurança e apoio – e não em proteger o próprio ego ou autoridade.
A liderança servidora deixou de ser uma ideia de nicho para se tornar a filosofia operacional central de algumas das empresas mais admiradas e lucrativas do mundo.
Após mais de duas décadas desenvolvendo líderes, vejo um padrão constante: os melhores líderes querem, de fato, que seus funcionários prosperem.
Nenhum modelo de liderança funciona sem que se passe tempo real com as pessoas.
Eles colocam as necessidades do time em primeiro lugar, dividem o crédito sem dificuldade e assumem a responsabilidade quando algo dá errado. Desenvolvem pessoas, em vez de apenas administrar tarefas. Esse tipo de crescimento – pessoal, profissional, relacional – é o que constrói equipes resilientes.
Independentemente de o líder comandar três pessoas ou três mil, esses comportamentos elevam seu impacto e constroem confiança mais rápido do que qualquer manual de liderança. Como fazer isso?
1. Seja sincero e intencional
Líderes fortes demonstram interesse no trabalho, nas metas e no futuro de cada membro da equipe. Demonstram curiosidade sobre o que motiva cada pessoa e são intencionais ao criar oportunidades que ampliem suas capacidades. Isso não é “pegar leve”. É engajamento emocional – e é um dos maiores motores de desempenho e retenção de talentos.

Quando líderes apoiam seus funcionários em promoções, aumentos de salário, movimentações internas, projetos desafiadores ou simplesmente removendo obstáculos, enviam uma mensagem poderosa: você importa. Como diz a célebre frase atribuída a John C. Maxwell: “as pessoas não se importam com o quanto você sabe até saberem o quanto você se importa.”
Quando funcionários sentem que seus líderes se importam de verdade, a confiança aumenta, o desempenho cresce e as carreiras se alinham melhor aos talentos individuais.
2. Use empatia para conectar e gerar resultados
Em 2018, a gigante global de treinamentos DDI avaliou mais de 15 mil líderes em 20 setores e descobriu que a empatia era o maior preditor de desempenho, especialmente a capacidade de ouvir e responder com empatia.

Isso não mudou. Na verdade, o ambiente atual – equipes híbridas, esgotamento crescente, IA, mudanças constantes – tornou a empatia ainda mais essencial. Mas empatia não é técnica; ela aparece na forma como você escuta, pergunta e reage à realidade do outro, mesmo quando é diferente da sua.
Líderes empáticos não apenas ouvem o que é dito; eles compreendem o contexto, as emoções e os desafios por trás das palavras. Essa perspectiva cria segurança psicológica – que, por sua vez, desbloqueia a criatividade, solução de problemas e colaboração.
3. Seja radicalmente transparente
Cultura transparente constrói confiança e reforça a colaboração. Quando as pessoas se sentem seguras para expressar suas ideias, o engajamento cresce e a equipe se torna mais resiliente. Dica: incentive perguntas de qualquer tipo, até as difíceis.

Transparência também reduz a ansiedade: quando líderes compartilham informações de forma aberta, eles evitam fofocas, incertezas e ruídos. Um exemplo extremo é a empresa de otimização para redes sociais Buffer, que publica online a fórmula de salários, inclusive a remuneração de seu CEO, Joel Gascoigne.
COMO SER UM LÍDER SERVIDOR NA PRÁTICA
Nenhum modelo de liderança funciona sem que se passe tempo real com as pessoas. É preciso conhecer quem elas são, o que as energiza, o que as bloqueia. Entender suas forças, motivações, valores e pontos cegos. E fazer a pergunta que realmente importa: o quanto o gestor conhece as pessoas que ele lidera?
Quem quer ampliar seu impacto como líder deveria começar servindo: descubra o que importa para o seu time, crie funções com propósito, utilize melhor os pontos fortes de cada um. E apoie seu crescimento das pessoas sob seu comando – mesmo que isso, um dia, leve alguém a outra equipe ou outra empresa.
Quando você investe nas pessoas dessa forma, não apenas monta equipes mais fortes, mas também constrói uma cultura mais saudável, uma base sólida de futuros líderes e sucesso duradouro para todos.
Este artigo foi publicado originalmente na Inc., publicação parceira da Fast Company.