Quiet quitting é um grito de socorro que não deve ser ignorado

Três atitudes que os líderes de RH precisam adotar para reengajar os funcionários desiludidos, reconquistando seu entusiasmo pelo trabalho

Crédito: Istock

Marthin De Beer 5 minutos de leitura

Os profissionais que aderiram ao movimento de demissão silenciosa (ou quiet quitting, como ficou conhecido nos EUA) têm sido rotulados como preguiçosos ou encostados. Eles estabeleceram limites, exigiram equilíbrio entre vida profissional e pessoal e passaram a seguir à risca as descrições de seus cargos, recusando-se a trabalhar fora de suas funções estritas.

Mas não se engane, essa não é apenas uma modinha passageira do TikTok. Além desse movimento, os empregadores estão enfrentando ainda o fenômeno da “Grande Demissão”, no qual milhões de trabalhadores deixaram seus empregos durante e após a pandemia.

Cabe às empresas entender as causas dessa profunda insatisfação e criar antídotos para isso por meio de uma abordagem holística. A seguir, detalhamos três passos fundamentais para que os líderes de RH consigam combater a desistência silenciosa e reengajar seus  funcionários.

1 . Descubra o que está causando a desilusão com o trabalho

A força de trabalho contemporânea está tendo que lidar com uma série de incertezas que geram ansiedade: aumento da inflação, aumento da carga de trabalho, volatilidade do mercado e condições precárias para cuidar de suas crianças e idosos. Com a pandemia ainda em nossa memória recente e com uma recessão econômica persistente, o estresse dos funcionários está nas alturas.

Cabe às empresas entender as causas da insatisfação e criar antídotos por meio de uma abordagem holística.

A maioria dos profissionais está enfrentando tensões mentais, físicas e financeiras – as três interligadas e alimentando umas às outras. De acordo com uma pesquisa recente da PwC, a ansiedade sobre o bem-estar financeiro afeta a saúde mental, o sono, a autoestima, a saúde física, os relacionamentos em casa, bem como a produtividade e a assiduidade no trabalho.

O movimento da “Grande Demissão” ressaltou as mesmas reivindicações dos funcionários. De acordo com a  Pew Research, as pessoas deixaram seus empregos em 2021 principalmente devido aos baixos salários, à falta de oportunidades de promoção, à sensação de desrespeito no trabalho, a problemas com os filhos, à falta de horários flexíveis e de benefícios adequados.

Resultado: os funcionários se desvinculam ou se demitem quando não se sentem valorizados, apoiados e respeitados. Cabe à empresa garantir que eles se sintam motivados. Ao analisar as causas principais do desengajamento, os líderes e as equipes de RH podem identificar as lacunas nos sistemas de suporte da empresa e abordá-las de forma global, de modo a fornecer suporte personalizado aos funcionários.

2 . Fortaleça a cultura da empresa

Uma cultura forte é a base de uma força de trabalho engajada. E o caminho para uma cultura empresarial empolgante começa com uma comunicação consistente e transparente. Concentre-se em ouvir ativamente os funcionários para entender suas prioridades, dificuldades e preocupações.

Mantenha esse diálogo sempre aberto e responda às demandas com suporte direcionado, com base naquilo que você está ouvindo. Quando os líderes de RH se envolvem consistentemente em conversas com os funcionários e solicitam feedbacks frequentes, eles descobrem maneiras novas e melhores de motivar e de apoiar sua força de trabalho.

os funcionários se desvinculam ou se demitem quando não se sentem valorizados, apoiados e respeitados.

A inclusão é outro pilar de uma cultura corporativa sólida. Se os funcionários sentirem que são membros valiosos de uma equipe, é mais provável que eles trabalhem ativamente em direção a objetivos comuns. Ao encontrar maneiras de os funcionários se conectarem uns com os outros, as empresas nutrem o sentimento de pertencimento.

Para fortalecer a cultura da sua empresa, você também precisa conhecer seus funcionários e entender onde eles estão em suas jornadas pessoais. Por exemplo: os mais jovens provavelmente estão lidando com dívidas estudantis e buscando aprender sob a orientação dos mais experientes.

Os funcionários mais velhos podem estar mais focados no planejamento de suas aposentadorias. Já os trabalhadores em meio de carreira provavelmente estão se esforçando para bancar os filhos na faculdade e para encontrar ajuda nos cuidados para os familiares idosos.

É importante reconhecer essas diferenças geracionais e culturais, bem como as necessidades individuais, e fornecer ferramentas, recursos e suporte adaptados às necessidades atuais dos funcionários.

3 . Promova o bem-estar holístico

O bem-estar mental, a saúde física e o bem-estar financeiro estão intimamente ligados e são vitais para a motivação dos funcionários e a sustentabilidade da empresa. Os empregadores e líderes de RH que têm em mente o bem-estar holístico por meio de recompensas competitivas e de benefícios abrangentes aumentarão a produtividade e, por extensão, reforçarão a saúde geral da empresa.

Ao encontrar maneiras de os funcionários se conectarem uns com os outros, as empresas nutrem o sentimento de pertencimento.

Os últimos anos tiveram um grande impacto na saúde mental dos trabalhadores. Um aspecto positivo da pandemia pode ser que as equipes de RH agora tenham uma quantidade maior de ferramentas e recursos ao seu alcance para lidar com o bem-estar mental.

Benefícios como treinamento em gerenciamento de estresse, dias dedicados à saúde mental e EAPs (análise, prevenção e segurança) podem ajudar muito a melhorar o bem-estar geral dos funcionários. A promoção de cuidados preventivos, como exames clínicos anuais e academias subsidiadas, é essencial para manter as pessoas saudáveis.

O bem-estar financeiro também é uma prioridade. Um bom lugar para os líderes de RH começarem é oferecer recursos educacionais fáceis de assimilar e acionáveis, para que os funcionários tenham uma boa base para o gerenciamento de suas finanças pessoais. 

Ao orientar seu pessoal em direção a seus objetivos, leve em consideração o estágio de vida de cada um ou a situação individual, para que cada funcionário e sua família tenham as ferramentas certas para alcançar o sucesso financeiro de longo prazo.

Para remediar o desengajamento, as empresas precisam encontrar as melhores maneiras de apoiar e valorizar seus funcionários,  garantindo que eles se sintam escutados.  Se fizer o que é justo e certo, a empresa não apenas reconquistará os profissionais que estão empurrando o trabalho com a barriga – aqueles  que estão desistindo silenciosamente –  mas atrairá novos talentos e aumentará o engajamento dos que já tem.


SOBRE O AUTOR

Marthin De Beer é fundador e CEO da plataforma de bem-estar financeiro BrightPlan. saiba mais