Saúde mental também é coisa de RH

É hora de as empresas reverem os processos e a cultura corporativa para criar e cultivar ambientes mentalmente saudáveis

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Camila Magalhães 3 minutos de leitura

Quando estamos emocionalmente abalados ou muito estressados, não é raro perder a paciência, a memória falhar, não conseguirmos resolver problemas ou não dar conta das demandas do dia. Em alguns casos, o estado emocional pode contribuir para dores de cabeça ou insônia. Esses fatores, juntos ou individualmente, impactam negativamente a motivação, a eficiência e a produtividade.

Considerando que os resultados de uma organização são feitos tanto da mão de obra quanto da inteligência das pessoas, mais do que nunca é preciso trabalharmos na construção de ambientes corporativos que zelem pela saúde mental das equipes e estimulem essas pessoas a praticar o autocuidado.

Gostaria de enfatizar que, apesar de o departamento de recursos humanos ter atuação fundamental nessa construção, a responsabilidade não pode recair apenas sobre ele. O compromisso deve ser de todas as áreas e níveis: RH, liderança, organização e colaboradores.

A cultura da produtividade e a do cuidado podem ser retroali- mentadas, já que pessoas com mais saúde são mais produtivas.

Vivemos um momento de muitas redefinições no dia a dia do trabalho, o que tem resultado em um convite constante para perdermos a calma. A competitividade entre os profissionais está ainda mais acirrada, a demanda para que os colaboradores façam mais com menos continua e alguns ainda estão em adaptação a novos modelos de trabalho híbrido. Olhando ao redor, é possível notar o quanto o limite entre vida pessoal e profissional ainda está difuso e, muitas vezes, desequilibrado.

É hora de as empresas, em seus diferentes níveis e em parceria com o RH, reverem os processos e a cultura corporativa para criar e cultivar ambientes mentalmente saudáveis. Neste aspecto, vale reforçar que as culturas da produtividade e do cuidado não são antagônicas; pelo contrário, elas podem ser retroalimentadas, já que pessoas com mais saúde são mais produtivas. Recomendo começar o processo por três ações:

1. Combate ao estigma em saúde mental

Felizmente, as pessoas têm buscado saber mais sobre saúde mental, mas ainda é um tema permeado por preconceitos e mitos. Essas são barreiras que atrasam a busca por tratamentos, além de potencializar o sofrimento emocional. Promover ações de esclarecimento e conscientização sobre o adoecimento mental é uma forma de combate a este estigma.

2. Estímulo à prática da liderança compassiva

Para que a promoção da saúde mental seja efetiva dentro da empresa, é preciso acolher e capacitar as lideranças.

Saúde mental ainda é um tema permeado por preconceitos e mitos.

Os líderes não precisam ter conhecimento aprofundado em psiquiatria e psicologia. Entretanto, ao compreender a importância desse tema e seu impacto no trabalho, podem aprender a identificar sinais de sofrimento em si mesmos ou na equipe, assim como acolher esses profissionais e orientá-los para ajuda especializada.

Estimular o autocuidado entre os próprios líderes também é essencial. Afinal, todo ser humano está sujeito a enfrentar dificuldades emocionais.

3. Oferta de apoio emocional

É preciso disponibilizar atendimento 24x7 em saúde mental, com profissionais capazes de acolher casos em sofrimento mental agudo até a estabilização e posterior encaminhamento para os canais e serviços disponíveis na empresa. Essa oferta, idealmente, deve se estender para profissionais de todas as áreas e de todos os níveis hierárquicos, sendo garantidos o sigilo e a ética médica.

Para promover e proteger a saúde mental no dia a dia do trabalho, o RH, junto com a gestão da organização, entra como catalisador de boas práticas, humanizando as relações entre líderes e liderados e propiciando um ambiente mais saudável.

Um olhar estratégico para o bem-estar emocional da equipe tende a promover mudanças significativas nos resultados corporativos, gerando maior sustentabilidade para os negócios, as relações interpessoais e a vida de cada membro da organização. Sem dúvida, é um investimento que vale a pena.


SOBRE A AUTORA

Camila Magalhães é psiquiatra e cofundadora da Caliandra Saúde Mental, empresa especializada em soluções de cuidados para saúde mental... saiba mais