Se você se sente exausto, pode estar na hora de dar um tempo para o seu ego
Um ego “barulhento” pode aumentar o estresse – mas silenciá-lo é mais simples do que parece

Dê uma olhada rápida ao redor no escritório ou pense nos seus colegas: dois em cada três provavelmente estão se sentindo exaustos. Talvez você também esteja.
De acordo com uma pesquisa feita pela plataforma de ensino online Moodle, 66% dos profissionais entrevistados se sentem sobrecarregados e apontam, como principais causas, a carga de trabalho excessiva, a falta de recursos e o atual cenário econômico.
Embora todos esses fatores externos contribuam para o burnout, pode haver também um fator interno envolvido, segundo Jeffrey Hull e Margaret Moore, autores do livro “The Science of Leadership: Nine Ways to Expand Your Impact” (A ciência da liderança: nove maneiras de expandir seu impacto). O problema pode estar no ego – mais especificamente, em um ego “barulhento”.
“Um ego barulhento é aquele que está o tempo todo voltado para si mesmo”, explica Moore. “É aquela voz interna que vive questionando: ‘será que estou indo bem?’, ‘será que isso foi uma indireta?’, ‘será que estou sendo valorizado?’. É um ruído constante focado no próprio eu.”
Já o conceito de ego silencioso foi criado pelos psicólogos Jack Bauer, da Universidade de Dayton, e Heidi Wayment, da Universidade do Norte do Arizona, ambas nos EUA. Ele descreve uma personalidade mais consciente, equilibrada emocionalmente, compassiva e voltada para o crescimento pessoal.
“O ego silencioso é característico de quem já aprendeu a lidar com esse ruído interno”, diz Moore. “É alguém que passou por dificuldades, aprendeu com elas e cresceu. É quando o estresse se transforma em aprendizado – uma evolução da inteligência emocional, que envolve mais autoconsciência e controle.”
COMO CAÍMOS NA ARMADILHA DO EGO BARULHENTO
O ego barulhento costuma se manifestar quando estamos com pouca energia – dormindo mal, comendo mal ou simplesmente exaustos. “É um momento vulnerável, no qual o ego pode se agitar e tornar tudo ainda mais difícil”, afirma Hull.
“Quando sua energia acaba, você perde o controle”, completa Moore. “[O córtex pré-frontal – responsável pelo autocontrole – começa a falhar] e fica mais difícil reagir de forma equilibrada. Isso não é culpa só da pessoa, é resultado de um conjunto de fatores internos e externos. Muitas vezes, é impossível sair disso sozinho.”
Com tantos estímulos ao nosso redor, é fácil esquecer como é viver com um ego silencioso.
Situações de crise também podem ativar esse ego barulhento, já que nos tiram da zona de conforto e nos colocam em estado de alerta. Isso pode despertar emoções difíceis de lidar e gerar sentimentos de ansiedade, medo e desesperança.
Para sair desse estado, é possível aplicar princípios da psicologia positiva. “Você pode aliviar um pouco esses sentimentos socializando ou fazendo uma pausa”, diz Moore. “É importante buscar esses recursos positivos, mas também lidar com o que está te incomodando – com a ajuda de um amigo, de um coach ou escrevendo um diário.”
PROCURE LEMBRAR O QUE TE AJUDOU NO PASSADO
Um bom ponto de partida é observar o que está causando o ruído. Quando o medo domina, os sentimentos mais comuns são preocupação, ansiedade, tristeza, frustração e raiva.
“Preste atenção a cada um deles”, sugere Moore. “Se você está com raiva, o que essa emoção está tentando te dizer? Será que você precisa de mais segurança? De mais estabilidade? Depois, pense em como pode atender a essas necessidades.”

A curiosidade é uma grande aliada, mas ela não consegue se manifestar quando o ego barulhento está no comando. É preciso acalmá-lo para se abrir ao novo. Se você está notando sinais de esgotamento, Hull recomenda lembrar de momentos em que tudo estava funcionando bem.
“As pessoas não alcançam o sucesso vivendo em estado constante de exaustão. Em algum momento, elas estiveram bem”, ele afirma. “Mas o ego barulhento atrapalha e faz com que elas esqueçam suas habilidades e qualidades – aquilo que as levou ao sucesso.”
Hull sugere recorrer ao que chama de “passado cheio de recursos”. “O que te ajudou a concluir a faculdade? O que te garantiu o primeiro emprego? Ou pense em uma fase difícil que você superou. O que você fez naquela situação?”, ele propõe. “Essas habilidades ainda fazem parte de quem você é.”
O EGO SILENCIOSO É O SEU ESTADO NATURAL
Com tantos estímulos ao nosso redor, é fácil esquecer como é viver com um ego silencioso. A gente se acostuma tanto ao barulho que começa a achá-lo normal. Mas, segundo Moore, esse silêncio interior é o nosso estado natural.
não se alcança o sucesso vivendo em estado constante de exaustão.
“Comece prestando atenção aos seus batimentos cardíacos e à sua respiração”, ela orienta. “Esse é um espaço de silêncio.” Tente se lembrar de um momento em que você soltou o ar devagar e sentiu uma sensação de calma e controle. Esse estado de paz pode se tornar um refúgio – um espaço ao qual você retorna sempre que precisa reencontrar o equilíbrio.
“O problema é que a nossa cultura fez a gente acreditar que esse estado de paz é errado. Que parar é perder tempo. Mas quando você se acalma, começa a explorar – porque o ego para de atrapalhar”, diz Hull.
“Não se trata de eliminar o ego”, ele conclui. “Mas de silenciar o barulho. É um processo de despertar – física, emocional e mentalmente. Quando a sua energia se estabiliza, você consegue acessar criatividade, boas ideias e curiosidade.”