Ser “bonzinho” pode prejudicar sua carreira?
Novas pesquisas analisam se a gentileza realmente afeta o sucesso profissional
Todo mundo já ouviu aquela máxima “quem é bonzinho demais, só se ferra”. Mas será que isso é verdade? Sabendo que as pesquisas anteriores tendiam a confirmar esse senso comum, Rong Su, professora associada de administração e empreendedorismo do Tippie College of Business da Universidade de Iowa decidiu colocá-lo à prova mais uma vez. O que ela e seus colegas pesquisadores descobriram é que certa dose de gentileza é um ingrediente importante para o sucesso.
“As pessoas tendem a supor que, se alguém está sendo legal demais, isso é sinal de que a pessoa não é competitiva o suficiente, de que falta garra e sangue nos olhos para avançar na carreira. Mas nos propusemos a desafiar essa crença”, explica Rong Su.
A LINHA TÊNUE ENTRE SER LEGAL E SER PASSADO PARA TRÁS
Su descobriu que existem diferentes formas de gentileza. Quando nos referimos a alguém como uma “pessoa boazinha”, podemos estar ressaltando que ela é submissa aos outros e que não é competitiva ou assertiva. Esse é um tipo negativo de gentileza e pode prejudicar sua progressão na carreira.
As pessoas tendem a supor que, se alguém é legal demais, é sinal de que a pessoa não é competitiva.
“Esse traço de personalidade remete a alguém que é gentil, empático e sempre atende aos pedidos dos outros. Essas pessoas também evitam conflitos nas reuniões. Resumindo: esse tipo de gentileza não ajuda muito”, diz Su. Mas ser gentil também pode significar ser socialmente motivado, ou seja, ter um forte desejo de ajudar os outros.
“Todos temos alguns colegas mais dispostos a ajudar e a intervir quando alguém está doente”, lembra a professora. “Eles são voluntários e querem beneficiar os outros com seu trabalho. Descobrimos que, quando o funcionário tem uma forte motivação pró-social, isso traz benefícios gerais para muitos tipos diferentes de resultados.”
OS BENEFÍCIOS DA GENTILEZA
De acordo com a pesquisa, as pessoas que têm uma alta motivação pró-social (um termo das ciências sociais, que significa o oposto de “antissocial”) geralmente são mais gentis, mais felizes, têm alto bem-estar psicológico e, o mais importante do ponto de vista empresarial, têm melhor desempenho no trabalho.
“Eles têm mais sucesso na carreira em termos de avaliação”, diz ela. “Seus pares e colegas de trabalho consideram que eles têm mais potencial de liderança e, por isso, oferecem-lhes mais oportunidades de avançar para cargos de gestão.”
No entanto, ser motivado socialmente não significa que você deva ser completamente altruísta, sacrificando seu próprio fluxo de trabalho ou seus objetivos para ajudar os outros.
DESENVOLVENDO TRAÇOS PRÓ-SOCIAIS
Segundo Rong Su, ninguém nasce com traços pró-sociais já desenvolvidos. Algumas pessoas têm uma tendência mais forte naturalmente, mas a motivação social pode ser incorporada em um contexto de trabalho com beneficiários-alvo específicos.
Por exemplo, você pode estar motivado a beneficiar clientes ou colegas. Esses tipos de motivação social têm o impacto positivo mais forte no desempenho do trabalho de uma pessoa, em comparação com a motivação pró-social generalizada, onde alguém quer ser útil de forma geral.
Pessoas com alta motivação pró-social são mais gentis, mais felizes e têm melhor desempenho no trabalho.
Embora essa possa ser uma tendência de personalidade, Su diz que ela também pode ser aprendida e incentivada em nível empresarial. As empresas podem procurar por essa característica ao selecionar candidatos a emprego. Su sugere que, durante a entrevista, os recrutadores façam perguntas que levem o candidato imaginar qual seria a sua reação em diferentes situações.
Isso ajuda a revelar os valores da pessoa e como ela se vê se encaixando na empresa. Por exemplo, “me conte sobre alguma vez em que um colega de trabalho precisou de ajuda. O que você fez e como equilibrou essa demanda com sua própria carga de trabalho?”
Outra maneira de criar motivação social é incluir esse critério em avaliações de desempenho, destacando momentos em que um funcionário ajudou um colega de trabalho ou cliente. “Muitas empresas avaliam a produtividade e o desempenho com base em conquistas individuais, como quantas ligações de vendas fizeram”, diz a pesquisadora.
Mas também pode ser incluído na avaliação o comportamento social, até que ponto a pessoa contribui para a equipe, independentemente de suas realizações e contribuições individuais. Oferecer feedback sobre como atingir esses objetivos mais solidários é outra maneira de incentivar a motivação.
O estudo de Su aponta que o gênero não afeta os benefícios positivos de ser pró-socialmente motivado. “Costumamos ouvir histórias sobre como se espera que as mulheres sejam mais pró-sociais e conselhos de que, se for pró-social, as pessoas não vão gostar de você”, diz ela. “Descobrimos que homens e mulheres se beneficiam igualmente. Sendo pró-sociais, tanto uns quanto outras podem alavancar seu desempenho e o sucesso na carreira.”