Será verdade? Jogar videogame na infância ajuda a subir na carreira

Pesquisa sugere que jogar videogame pode ajudar crianças a desenvolver habilidades importantes, como trabalho em equipe, tomada de decisão e estratégia

Crédito: xvector/ Freepik

Jared Lindzon 4 minutos de leitura

As longas horas jogando Mario Kart na infância podem estar trazendo benefícios para a sua carreira. De acordo com uma pesquisa recente da Prodigy Education, realizada com mil adultos nos EUA, pessoas que cresceram jogando videogame têm 71% mais chances de receber uma promoção. Além disso, ganham, em média, US$ 5.451 a mais por ano.

Apesar da antiga associação dos games com isolamento social, comportamento violento e baixo desempenho escolar, a maioria dos adultos que jogavam durante a infância ou adolescência afirma que isso os ajudou a desenvolver pensamento estratégico, habilidades de resolução de problemas, coordenação motora e criatividade. Além de, claro, proporcionar momentos de relaxamento e diversão.

“Muitas vezes, os jogos são vistos de forma negativa, associados à violência ou ao isolamento, mas esta pesquisa destaca os aspectos positivos”, diz Merritt Ryan, autora do estudo e jornalista de dados da Prodigy Education. “O trabalho em equipe, a tomada de decisões e a estratégia que alguns games exigem se traduzem em habilidades profissionais valiosas mais tarde.”

Os pais que participaram da pesquisa, cujos filhos jogam videogame, relataram que as crianças se saem bem tanto no ambiente escolar quanto social. Quase metade afirmou que seus filhos tiram notas máximas na escola, enquanto 38% reportaram desempenho acima da média; apenas 14% disseram que eles têm dificuldade nas matérias.

“Do ponto de vista dos pais, 58% relataram que seus filhos têm uma vida social ativa, o que contraria o estigma de que videogames isolam ou distraem”, acrescenta Ryan.

UM TRUNFO PARA A VIDA

A pesquisa corrobora outros estudos que não apenas refutam velhos estigmas associados aos videogames, mas também sugerem que eles podem ser uma contribuição positiva para o desenvolvimento de habilidades. Isso vale não só para jogos educativos, mas também para todos os tipos de games apropriados para a idade da criança.

Um outro estudo, publicado pelo Instituto Nacional de Saúde, investigou os impactos da mídia digital no desenvolvimento cerebral de 12 mil adolescentes nos Estados Unidos.

Os participantes interagiam com uma variedade de mídias digitais enquanto eram submetidos a um exame de ressonância magnética. Em seguida, realizavam uma série de testes para medir habilidades como memória, controle de impulsos e processamento de recompensas.

“Descobrimos que adolescentes que jogam videogame apresentam uma maior atividade em áreas do cérebro relacionadas à visão, memória espacial, resolução de problemas e atenção”, relata Bader Chaarani, neurocientista e professor de pesquisa na Universidade de Vermont, que se declara um “gamer hardcore”. “Isso basicamente significa que são mais eficientes no processamento da memória de trabalho.”

Os adolescentes também apresentaram desempenho melhor em testes cognitivos, especialmente em questões relacionadas à memória. “Gosto de pensar no cérebro como um músculo: quanto mais o treinamos, mais rápido e eficiente ele se torna”, explica Chaarani.

passar tempo demais jogando pode ter consequências negativas.

“Por ativar várias funções cerebrais ao mesmo tempo, jogar videogame traz mais benefícios em comparação com outras atividades, como assistir a um filme ou rolar o feed no celular.”

“Existe um crescente conjunto de pesquisas que mostra que nem todo tempo de tela é igual”, observa Aubrey Quinn, vice-presidente de comunicações e relações públicas da Entertainment Software Association. “Jogar videogame pode ser benéfico para o desenvolvimento cognitivo.”

SABER A HORA DE PARAR

Quinn acredita que muitos dos equívocos em torno dos games estão enraizados no estigma social que acompanha o surgimento de novos meios de entretenimento.

“Já vimos esse tipo de pânico moral com a música, bem como com salões de bilhar e sinuca”, diz ela. “Houve até uma época em que os livros eram vistos como prejudiciais, logo após a invenção da prensa. As pessoas temiam que a sociedade parasse de funcionar se todos tivessem acesso a livros.”

adolescentes que jogam videogame são mais eficientes no processamento da memória de trabalho.

No entanto, passar tempo demais jogando pode ter consequências negativas. Chaarani está atualmente trabalhando em um estudo ainda não publicado que busca determinar o “tempo ideal”.

“Crianças que jogam por cerca de uma hora por dia apresentam aumento no QI, menos ou nenhum problema de saúde mental e se saem melhor em todos os testes cognitivos em comparação com aquelas que não jogam”, diz ele. “Mas, após três horas [por dia], começamos a observar um déficit nesses aspectos.”

Com base em sua pesquisa mais recente, Chaarani recomenda que os pais limitem o tempo de videogame a uma hora ou menos por dia e que sempre priorizem atividades físicas em lugar de qualquer tipo de tela.


SOBRE O AUTOR

Jared Lindzon é jornalista especializado em temas como futuro do trabalho e profissões ligadas a inovação tecnológica. saiba mais