Síndrome do pedestal: por que confiar mais na opinião do outro que na sua própria?

Quando colocamos outros acima de nós, presumimos que eles sabem mais que devemos silenciar nossas ideias para “não atrapalhar”

homem caminha confiante segurando um guarda-chuva
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Kelli Thompson 4 minutos de leitura

Desde cedo, desenvolvemos uma relação imatura com a autoridade. Psicólogos chamam isso de viés de autoridade – a tendência de sermos mais influenciados por opiniões e julgamentos de pessoas percebidas como figuras de poder. Isso pode nos levar a aceitar informações ou seguir instruções sem fazer uma avaliação crítica do conteúdo.

No ensino fundamental, isso significava colocar os alunos do ensino médio num pedestal de perfeição. Mas, infelizmente, nunca superamos completamente essa postura. Ela voltou a aparecer quando me vi no mundo corporativo, sentada em uma sala de reuniões sem janelas, em uma daquelas reuniões que duram o dia inteiro.

A conversa parecia se repetir, sempre com as mesmas vozes em destaque. Frustrada, eu me perguntava por que outras pessoas, especialmente as mulheres na sala, não se manifestavam. Até perceber que eu também não falava.

Silenciei porque me senti intimidada pela "opinião da pessoa mais bem paga" na sala. Hoje, percebo que eu tinha um grande problema: o que chamo de síndrome do pedestal.

Você já colocou alguém em um pedestal só porque essa pessoa tinha um cargo mais alto, mais experiência ou até mais carisma? Já acreditou que ela sabia mais do que você e, portanto, suas próprias ideias, perguntas ou percepções não importavam? Que não havia espaço para sua competência? Eu fiz isso por anos.

Quando colocamos outros acima de nós, presumimos que eles sabem mais que devemos silenciar nossas ideias para “não atrapalhar”. Paramos de ouvir nossa própria sabedoria e de confiar em nós mesmos. Livros deixam de ser escritos, status quo se mantém, produtos não são desenvolvidos e culturas organizacionais continuam medíocres por causa da síndrome do pedestal.

“ter mais confiança” ou “fingir até conseguir” nunca funcionou para mim, nem para ninguém que conheço.

Por outro lado, quando os outros nos colocam em um pedestal, podemos desenvolver um ego inflado e deixar de receber feedback relevante, pois as pessoas ficam intimidadas demais para revelar preocupações ou expressar ideias.

Colocar líderes em pedestais super-humaniza essas pessoas – o que, no fim das contas, as desumaniza. As equipes deixam de apontar problemas e de dar o retorno que os líderes realmente precisam. Uma pesquisa da Visier mostra que quase metade (46%) dos funcionários admite não dar feedbacks honestos no trabalho.

Se você se identifica com isso, talvez seja hora de derrubar o pedestal. Em vez de conselhos, aqui estão algumas perguntas que podem aproximar você do profissional confiante que você quer ser.

Reconecte-se com você mesmo

Passei 12 anos em uma empresa que praticamente me criou como profissional. No nono ano, comecei a pensar em sair. Mas o banco tinha ótima reputação, tanto como negócio quanto como lugar para se trabalhar.

Enquanto refletia, conversei com colegas e amigos muito mais experientes que eu. Quase todos me diziam para continuar, incluindo profissionais seniores que afirmavam ter passado por períodos difíceis, mas que eles “sempre passavam”.

homem confuso com muitas coisas ao mesmo tempo chamando a atenção
Créditos: Freepik/ Pngwing

Me reconectar comigo significou reconhecer que o trabalho não se alinhava aos meus valores. Apesar do conselho dos outros, eu precisava de criatividade – algo incompatível com um banco altamente regulado. Decidi sair e encontrei um trabalho que combinava bastante com o que acredito.

Pergunte a si mesmo: este conselho, pessoa ou situação se alinha aos meus valores e ao que eu defendo?

Porque, se eu não sei no que acredito, com o que vou acabar me conformando?

Reestabeleça uma conexão de igualdade com os outros

Quando encontramos alguém mais sênior, muitas vezes encolhemos e guardamos nossas ideias. Para estabelecer uma relação de igualdade, precisei reconhecer como minhas próprias dúvidas me deixavam mais tímida. Então, comecei a questionar: quais experiências, talentos ou perspectivas só eu posso trazer ao mundo, ao meu trabalho ou a esta reunião?

aperto de mão sobre fundo de mosaico
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Ao atuar como coach de líderes executivos, não é raro que eu me sinta intimidada ao orientar um CEO de uma empresa que admiro. Mas, para manter a igualdade, lembro que não estou ali para saber tudo ou ter todas as respostas. Minha contribuição está em abrir espaço, fazer as perguntas certas e estimular novas reflexões.

Pergunte a si mesmo: o que só eu posso trazer ao mundo, ao meu trabalho ou a esta reunião?

Assumir nossos talentos nos permite enxergar os talentos dos outros sem comparação negativa, nos colocando como iguais.

Conecte-se ao seu potencial futuro

Quando comecei meu negócio de coaching executivo, tive muitas dúvidas. Dar os primeiros passos – mesmo sem me sentir igual aos outros empreendedores – exigiu clareza sobre meu potencial futuro.

Perguntei a mim mesma: “onde quero estar quando me aposentar?”, “o que desperta minha paixão?”, “quais habilidades únicas eu ofereço?” A resposta sempre esteve ali: treinamento, desenvolvimento de liderança e coaching.

Duas silhuetas humanoides lado a lado em um fundo preto
Créditos: Naeblys/ Getty Images/ Freepik

O medo era grande, mas acreditar nessa vocação me deu força para construir meu negócio e me posicionar como igual, apesar da síndrome do pedestal.

Pergunte a si mesmo: o que estou destinado a criar? Quando tiver 80 anos, por qual legado quero ser lembrado?

Está na hora de parar de nos subestimar e derrubar o pedestal para sermos líderes mais confiantes e impactantes. Muitos acreditam que basta “ter mais confiança” ou “fingir até conseguir”, mas isso nunca funcionou para mim, nem para ninguém que conheço.

Minhas conversas sobre liderança mostram que líderes confiantes e realizados se reconectam consigo mesmos, equilibram as relações com os outros e se conectam com o futuro que desejam construir.


SOBRE A AUTORA

Kelli Thompson é escritora premiada, palestrante e coach executiva. saiba mais