Tendências e antitendências: o trabalho em transformação

Crédito: Fast Company Brasil

Herman Bessler 4 minutos de leitura

O apagão de mão-de-obra digital e de inovação se intensifica drasticamente no Brasil. Com o aumento da demanda, principalmente por programadores, gestores de produto, profissionais de interface e cientistas de dados, a escassez se torna cada vez mais crítica. O fenômeno acontece em larga medida porque profissionais experientes destes segmentos não estão dispostos a voltar ao trabalho presencial, já que são assediados por empresas em diversas partes do mundo. Assim, companhias tradicionais têm cada vez mais dificuldade no recrutamento e retenção, assistindo à aceleração drástica do turnover. Nos EUA, o movimento de demissões voluntárias vem sendo chamado de “the great resignation” (a grande demissão, em tradução livre)O escritório tradicional como o conhecemos não será mais o local onde se senta  em uma baia e trabalha-se o dia inteiro. O espaço será transformado para promover integração entre equipes, reuniões estratégicas, workshops de cocriação, encontros com fornecedores, laboratórios de prototipação e testagem, estúdios de fotografia e filmagem para produção de conteúdo em tempo real. Também servirá como um espaço modelo para marcas receberem potenciais clientes e influenciadores. O escritório vai parecer cada vez mais com uma mistura de cafeteria moderna e laboratório de criatividade e inovação, bem diferente do modelo tradicional hegemônico concebido por Taylor nos anos 30.Outra alternativa para locais de trabalho que está em alta em 2022 são os coworkings corporativos. Empresas que jamais consideraram ocupar mesas flexíveis em espaços colaborativos passam a buscar soluções mais modulares, distribuídas em múltiplas cidades e com arquitetura flexível. A esta categoria que comporta escritórios reimaginados, cafeterias, coworkings, makerspaces (e mais), chamamos “terceiros espaços”.Um ponto que ganha destaque é a preocupação com a saúde mental dos colaboradores. Isso porque uma verdadeira epidemia de burnout tomou conta dos trabalhadores de segmentos diversos ao redor do mundo na pandemia, já que o teletrabalho e aplicativos de mensagens ultrapassaram as barreiras do horário de trabalho e da vida pessoal, da casa e do escritório.

COM OS ANTIGOS MODELOS CHEGANDO AO ESGOTAMENTO E OS NOVOS AINDA EM FASE DE TESTES, CRIA-SE UM AMBIENTE ALTAMENTE COMPETITIVO POR TALENTOS E MELHORES PRÁTICAS.
A partir daí, governos começam a regular o burnout como doença do trabalho e a responsabilizar empregadores pelo psicológico de seus funcionários. Assim, as melhores empresas passam a oferecer auxílio terapia, ao mesmo tempo em que startups diversas surgem para atender às necessidades de suporte remoto para saúde mental. Novos acordos também serão necessários quanto ao uso do WhatsApp fora do horário de trabalho (na França, já é ilegal) e sobre quais canais de comunicação funcionam como oficiais.O trabalho híbrido torna-se então a regra, já que quase todas as empresas estão se adaptando e adotando soluções mistas, com horários majoritariamente flexíveis. As melhores organizações dão um passo além ao priorizar as soluções assíncronas de gestão, cobrando seus colaboradores por resultados e não por horas trabalhadas, além de gerir o conhecimento interno sobre processos, aprovações e projetos de forma descentralizada, estruturada e transparente.Aqui vão minhas apostas para as tendências no universo do trabalho este ano. Em alta:
  1. People analytics: uso de inteligência artificial sobre dados comportamentais e dashboards de gestão de pessoas.
  1. DAOs (Decentralized Autonomous Organizations) e cooperativismo de plataforma (baseado em blockchain).
  1. Nomadismo digital: um estilo de vida para viajantes com carreiras que permitem o trabalho remoto com horário flexível.
  1. Aquisição para transformação: corporações comprando startups para absorver seus talentos e sua cultura.
  1. Lean planning: planejamentos adaptáveis com cenários, gatilhos e princípios para se adaptar ao longo do ano.
  1. Software bots: automação de trabalhos intelectuais até então vistos como essencialmente humanos.
  1. Gestão de comunidade: novo cargo essencial de toda grande organização. Empresas se tornam redes distribuídas por causa das mudanças dos paradigmas de gestão, necessidade de inovação, disseminação dos squads ágeis e por conta do trabalho remoto. Nesse contexto, gestão de comunidade é chave para garantir um ambiente produtivo e conectado.
  1. Diversidade como vantagem competitiva: que diversidade gera resiliência, todos sabemos. Em 2022, empresas diversas atraem novos talentos com mais facilidade e ganham equity de marca com seus consumidores.
  1. Four day work-week: milhares de experimentos pelo mundo com a semana de trabalho de quatro dias vêm demonstrando resultados extremamente promissores quanto à motivação, produtividade e atração de talentos.
Vivemos um momento-chave na reinvenção das formas de trabalhar. Com os antigos modelos chegando ao esgotamento e os novos ainda em fase de testes, cria-se um ambiente altamente competitivo por talentos e melhores práticas. Destacam-se as organizações evolutivas, capazes de cocriar com suas equipes testes rápidos e de baixo custo com métricas assertivas e, é claro, muito diálogo.

SOBRE O(A) AUTOR(A)

Herman Bessler é fundador e CEO do Templo.cc. saiba mais