Todo mundo gosta de ser ouvido; é hora de aprender a ser um bom ouvinte

Créditos: cottonbro studios/ Pavel Danilyuk/ Karola G/ Pexels

David Robson 4 minutos de leitura

Poucas chamadas no Zoom me deixaram tão autoconsciente quanto minha conversa com Robert Biswas-Diener. Coach executivo e psicólogo, ele é coautor de um livro sobre “escuta radical”. Como muita gente, eu achava que era uma pessoa que escutava bem, mas e se eu estivesse fazendo tudo errado?

Ao final da conversa, meus temores se confirmam — das meia dúzia de habilidades que ele descreve, demonstro apenas metade. A boa notícia é que todos podemos melhorar, e as vantagens parecem infinitas.

OUVIR MELHOR = TRABALHAR MELHOR

Ser um bom ouvinte vai muito além de ficar calado e balançar a cabeça de vez em quando. Existe uma prática chamada “escuta ativa”, e pesquisas mostram que ela é uma das habilidades mais valiosas da vida.

Sentir-se ouvido pode ser especialmente importante em tempos de incerteza. Uma pesquisa de Tiffany Kriz, professora associada de gestão na Universidade MacEwan, no Canadá, mostra que chefes com melhores habilidades de escuta são muito mais eficazes em acalmar sentimentos de insegurança no trabalho após demissões.

E não são só as pessoas ao nosso redor que se beneficiam. Quem aprimora sua capacidade de ouvir tende a ter melhor saúde mental graças às conexões mais fortes com colegas. Essas pessoas, por exemplo, têm menos chances de sofrer burnout relacionado ao trabalho.

A questão é: como melhorar hábitos que sempre tomamos como garantidos?

1. Preste atenção

O primeiro passo é prático: elimine o máximo de distrações possível.

Feche a porta do escritório, coloque o celular no silencioso, desligue o laptop — faça o que for preciso para focar apenas na pessoa à sua frente. Ninguém gosta de ser “phubbed” (ignorado em favor do celular) enquanto você confere notificações.

Chegou a hora do trabalho mental, que começa definindo sua intenção para a conversa: você quer se divertir ou aprender algo novo? “Isso vai orientar o que você presta atenção”, diz Biswas-Diener.

2. Não julgue

Ao mesmo tempo, é importante identificar a intenção da outra pessoa: ela quer conselhos, apoio prático ou compaixão? Cada intenção exige uma resposta diferente.

Esse princípio, chamado de “ajuste ótimo de suporte”, evita momentos constrangedores que podem gerar mal-entendidos.

Lembre-se: parte de ser um bom ouvinte é saber o que dizer com base no que você realmente ouviu.

Em muitas conversas, será preciso navegar o desacordo. Isso exige elevar sua humildade intelectual para não descartar o ponto de vista alheio de forma leviana.

“Não é fingir que você vale menos do que outra pessoa, mas reconhecer que sua opinião pode ser limitada e enviesada”, diz Biswas-Diener. “E se você não gosta do que a pessoa está dizendo, sempre pode se mostrar curioso sobre ela.” Ouça, em vez de procurar briga.

Pesquisas psicológicas mostram que pequenos sinais de interesse genuíno nas opiniões de outra pessoa podem ser incrivelmente desarmantes. Isso reduz o potencial de conflito e incentiva o interlocutor a reconhecer suas próprias dúvidas, tornando-o mais receptivo ao seu ponto de vista.

Isso talvez aconteça porque tendemos a superestimar o quanto os outros querem mudar nossa opinião — e demonstrações de mente aberta aliviam esse receio. Ser um ouvinte humilde e ativo, perguntando simplesmente por que alguém chegou a determinada conclusão, pode baixar defesas e tornar a comunicação mais eficaz.

Sempre que possível, valide qualidades que você admira. “Talvez você não goste da personalidade da pessoa, mas sempre pode reconhecer o quanto ela é honesta, direta ou reflexiva”, diz Biswas-Diener. Ouça com atenção para encontrar algo que você possa elogiar.

3. Seja proativo

Por fim — e talvez o mais contraintuitivo — Biswas-Diener sugere ouvir e, então, intervir ativamente em momentos oportunos.

Embora isso pareça contrariar todos os guias de etiqueta, algumas interrupções empolgadas — “sim!”, “pensei a mesma coisa!”, “não sabia disso!” — podem elevar a energia da conversa e reforçar seu interesse. Pelos mesmos motivos, você pode até terminar uma frase da outra pessoa.

Mesmo um feedback negativo — como interromper para dizer que já ouviu aquela história — é uma prova de que você está realmente acompanhando, ao passo que um silêncio paciente pode soar frio, distante ou distraído.

A reação do interlocutor depende do seu timing e do quanto você toma para si o tempo de fala. Equilibre cada intervenção com o ato fundamental de ouvir.

Biswas-Diener compara essas habilidades empáticas a músculos físicos: elas se fortalecem com prática. “Você pode até treinar ouvindo entrevistas de rádio e analisando o que o entrevistador faz bem.” Com o tempo, esses sinais sutis de humildade, curiosidade e aceitação se tornam mais evidentes. “Você vai começar a ouvir a escuta”, ele diz. E, ao imitá-los, logo construirá conexões sociais mais fortes.


SOBRE O AUTOR

David Robson escreve sobre ciência e é autor, entre outro livros, de "The Scientific Secrets of Building a Strong Social Network" (Os ... saiba mais