Trabalhadores resistem à volta do antigo ritmo de trabalho presencial

A Amazon é apenas a mais recente empresa a pressionar pelo retorno ao escritório. Mas trabalhadores estão contra-atacando

Crédito: Ljupco/ TPopova/ iStock/ gratispng

Gleb Tsipursky 5 minutos de leitura

Disney, Starbucks, Tesla, Google e agora Amazon estão entre as empresas que atualmente têm forçado os funcionários a voltar ao trabalho presencial.

Andy Jassy, CEO da Amazon, disse que uma política de três dias por semana no escritório, com início planejado para 1º de maio, daria um bom impulso à cultura da empresa, incentivando a colaboração e o aprendizado entre os funcionários. Só que os trabalhadores reagiram contra essa política e iniciaram uma petição, que já conta com mais de cinco mil assinaturas, segundo a CNBC.

Essa abordagem autoritária é adequada para o modelo de linha de montagem do início do século 20, mas não para a moderna economia do conhecimento.

Outros estão alegando que o retorno é necessário por causa da produtividade. Elon Musk, CEO da Tesla, afirmou que quem trabalha remotamente apenas “finge que trabalha”.

Outros dizem que é preciso estar no escritório para inovar: Bob Iger, CEO da Disney, exigiu o retorno ao escritório porque “nada pode substituir a capacidade de se conectar, observar e criar junto com os colegas, que têm que estar fisicamente juntos”.

Mas uma extensa pesquisa mostra que os trabalhadores remotos são mais produtivos do que os do escritório, não menos. E mais ideias inovadoras são alcançadas por meio de técnicas de inovação e criatividade adaptadas ao trabalho remoto.

Infelizmente, muitos gerentes da velha guarda, como Iger e Musk, preferem uma estrutura de poder rígida, de cima para baixo. Tal abordagem autoritária é adequada para o modelo de linha de montagem do início do século 20, mas não para uma moderna economia do conhecimento. É por isso que vemos funcionários usarem o poder do trabalhador para lutar contra essas políticas autoritárias.

TRÊS EXEMPLOS DE PODER DO TRABALHADOR

Os contratados do YouTube no Texas entraram em greve, em protesto contra as regras que os obrigam a se apresentar ao trabalho presencial. Os trabalhadores – que são tecnicamente contratados pela Cognizant – foram admitidos durante a pandemia e sempre trabalharam remotamente.

Eles dizem que o salário não é suficiente para cobrir os custos de mudança e moradia em Austin (capital do Texas). A greve ocorreu depois que os trabalhadores entraram com um pedido de reconhecimento sindical no mês anterior, levando alguns a concluir que o movimento estava sendo feito em retaliação.

uma extensa pesquisa mostra que os trabalhadores remotos são mais produtivos do que os do escritório, não menos.

O Escritório de Pessoal do Estado do Novo México ordenou que os servidores estaduais que trabalham remotamente retornassem ao trabalho presencial no início do ano novo. Muitos expressaram sua frustração contra essa política, citando problemas com transporte, saúde, más condições de trabalho presencial, falta de creches e baixos salários, entre outras coisas.

Funcionários públicos se manifestaram em frente à sede do governo estadual contra a política de retorno ao escritório para todos . Dan Secrist, presidente do CWA Local 7076, disse que a política de retorno ao trabalho presencial piorou os problemas que pretendia resolver, criando novos ao mesmo tempo.

O governo federal canadense ordenou que os funcionários do serviço público voltassem para uma jornada presencial de até três dias por semana. Uma pesquisa recente com quase 14 mil servidores revelou que quase 75% dos funcionários do governo preferem trabalhar em casa.

Marc Brière atua como presidente nacional do Sindicato dos Funcionários de Impostos, que representa cerca de 37 mil trabalhadores da Secretaria de Receita do Canadá. Ele diz que é desnecessário a maioria dos funcionários voltar ao escritório.

AUMENTO DA TENSÃO

Esses casos ilustram a crescente tensão entre patrões e empregados, principalmente em relação à volta ao trabalho presencial. A pandemia acelerou a tendência ao trabalho remoto e as pessoas agora resistem à ideia de voltar ao escritório.

Os empregadores que estão forçando seus funcionários a voltar estão tentando reafirmar o controle sobre eles, mas descobrem que o tiro sai pela culatra. Na verdade, o desejo de forçar o retorno ao escritório para recuperar o controle é um excelente exemplo de como os vieses cognitivos podem levar a uma tomada de decisão ruim.

empregadores que forçam funcionários a voltar estão tentando reafirmar o controle sobre eles, mas descobrem que o tiro sai pela culatra.

Vieses cognitivos são atalhos mentais que usamos para processar informações de forma rápida e eficiente. Eles podem nos levar a tomar decisões que não são baseadas em fatos ou no pensamento racional, mas em nossas crenças pessoais, emoções e experiências passadas.

Um dos vieses cognitivos mais comuns em jogo nas políticas de retorno é o viés de confirmação – a tendência de buscar e interpretar informações de uma forma que confirme nossas crenças ou preconceitos preexistentes.

Os empregadores que estão determinados a trazer seus funcionários de volta ao escritório são mais propensos a buscar informações que apoiem essa decisão, ignorando ou minimizando as informações que a contradizem.

COMO ERA ANTES

Outro viés cognitivo que prevalece nesse contexto é o do status quo, ou seja, a tendência de preferir que as coisas permaneçam como estão, em vez de mudar.

Os empregadores acostumados a ter seus funcionários trabalhando no escritório podem ser resistentes a mudanças, mesmo que o trabalho remoto tenha se mostrado eficaz e benéfico para a equipe.

Eles podem estar mais inclinados a determinar a volta ao escritório simplesmente porque é assim que as coisas sempre foram feitas, e não porque é a melhor decisão.

É hora de os empregadores reconhecerem o valor do trabalho remoto e de trabalharem com seus funcionários para criar acordos de trabalho híbrido ou remoto que atendam às necessidades de ambas as partes.

Os que fizerem isso terão uma força de trabalho mais feliz e produtiva. Aqueles que se recusarem a se adaptar correm o risco de ficar para trás em um mundo em rápida mudança


SOBRE O AUTOR

Gleb Tsipursky é CEO da Disaster Avoidance Experts, boutique de consultoria sobre o futuro do trabalho. saiba mais