Trabalho remoto não atrapalha a inovação, e o setor de saúde está aí para provar

Crédito: National Cancer Institute/ Unsplash

Rishin Patel 4 minutos de leitura

As empresas sempre enxergaram o trabalho remoto como inimigo da inovação.

Os gerentes mais tradicionais ainda defendem que, no trabalho remoto, não é possível reproduzir a sinergia criativa que ocorre pessoalmente. Também argumentam que, com menos supervisão, que trabalha remotamente é menos produtivo do que quem está no escritório. Em alguns casos, como no setor de saúde, a dinâmica presencial parecia tão necessária que os arranjos remotos sequer eram considerados.

Já faz dois anos desde os primeiros lockdowns em decorrência da pandemia de Covid-19. Independentemente de as empresas seguirem ou não uma mentalidade mais convencional, que rechaça o trabalho remoto, todas precisaram inovar sem que seus funcionários estivessem cara a cara.

Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. De fato, nos últimos dois anos, a necessidade de trabalhar remotamente produziu uma série de inovações.

Aqueles que aproveitaram a pandemia como uma oportunidade para desafiar as convenções ganharam muito – foram aproximadamente US$ 218 bilhões extras em gastos no comércio eletrônico, além da explosão da demanda por aprendizado online.

Dois anos depois, já podemos afirmar com mais certeza que a inovação remota funciona. E o setor de saúde, inclusive, se beneficiou desse modelo.

PRINCIPAIS VANTAGENS DA INOVAÇÃO REMOTA

Desafia os padrões cognitivos e produz trabalhadores mais felizes

“Padrões cognitivos” são formas arraigadas de pensar, que nos impedem de ver as coisas sob um novo prisma. Em outras palavras, são crenças que nos mantêm com a mente fechada. Alguns exemplos-chave: os padrões de normalidade, que nos convencem de que o modo como nos acostumamos com as coisas será permanente, além da fixidez funcional, que faz com que as pessoas continuem com o método que sempre funcionou, em vez de experimentar algo novo.

Dois anos depois, podemos afirmar que a inovação remota funciona. E o setor de saúde se beneficiou desse modelo.

A pandemia nos forçou a reconsiderar as noções de normalidade e inutilizou métodos antes eficazes. Sem estarmos aprisionados a antigos padrões cognitivos, fomos forçados a criar novas dinâmicas de trabalho. Agora, 91% esperam que o trabalho remoto persista.

Inclui mais tipos de personalidade

A dinâmica presencial funciona melhor com quem é extrovertido e confiante. Mas, e se a pessoa é introvertida e tem vergonha de apresentar novas ideias? Nesse caso, nem tanto. Dado que há uma divisão de aproximadamente 50-50 entre introvertidos e extrovertidos, isso significa que a dinâmica pessoal no escritório só funciona bem para metade da força de trabalho. O trabalho remoto, que permite que cada funcionário personalize seus próprios processos, ajuda todos a prosperar.

INOVAÇÃO REMOTA NO ATENDIMENTO DE SAÚDE

Antes da vacinação, era pouco seguro fazer visitas médicas presenciais.  Como resultado, somente em 2020 houve um aumento de mais de 6.200% nas consultas de telemedicina nos EUA: de 840 mil em 2019 para mais de 52,4 milhões um ano depois.

Em um primeiro momento, isso estabeleceu a telemedicina como um meio viável de atendimento em um mundo pandêmico. Mas também mostrou maneiras de os profissionais de saúde usarem a telemedicina em um mundo pós-pandemia. Aqui estão alguns exemplos interessantes:

Envolvimento e triagem pré-visita: Métodos de triagem remota, como questionários e call centers, reduziram as filas nos hospitais, mantiveram os pacientes engajados e tornaram os procedimentos pré-visita mais convenientes. Alguns provedores até começaram a usar “salas de espera virtuais”, que permitem que os pacientes esperem por consultas em seus carros ou casas, em vez de lotarem salas de espera reais.

Supervisão especializada: Com o aprimoramento da tecnologia de comunicação por vídeo, os especialistas conseguiram supervisionar procedimentos médicos complicados que, de outra forma, não poderiam ocorrer. Radiologistas, ultrassonografistas e unidades de terapia intensiva se beneficiaram da supervisão remota. Na minha opinião, as Tele-UTIs são as mais bacanas. Elas funcionam como uma espécie de controle de tráfego aéreo, monitorando pacientes com dados e telemetria que auxiliam no atendimento à beira do leito.

Postos de atendimento virtuais. Tão importante quanto pensar em quem está recebendo cuidados é ir atrás de quem não está sendo atendido. . . e tentar entender o porquê. Minorias e famílias de baixa renda lutaram para obter bons cuidados durante a pandemia, mostrando aos inovadores da saúde quais comunidades mais precisam de atenção. Estações virtuais de atendimento, instaladas em estabelecimentos de varejo, bibliotecas e outros prédios do centro da cidade usam câmeras, iluminação e alto-falantes para conectar comunidades carentes com atendimento de alta qualidade. É um sistema que leva atendimento às pessoas, em vez de esperar que elas morem perto dos postos de atendimento.

Querendo ou não, todos nós nos apegamos a maneiras de pensar sobre como o mundo é ou deveria ser. Mas os novos paradigmas em torno do trabalho remoto nos forçaram a reconsiderar a própria definição de inovação – nos forçando a dar muitos passos adiante.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Rishin Patel é formado em biologia e biofísica pela Universidade Estadual da Pensilvânia e trabalhou por mais de 10 anos nas áreas de ... saiba mais