Um medo ainda maior do que o FOMO – mas que tem solução

Precisamos parar de tentar impressionar pessoas que se deslumbram pelos motivos errados

Créditos: Галина Ласаева/ Tracy Le Blanc/ Pexels

Yonason Goldson 4 minutos de leitura

Todos nós experimentamos algum grau de medo de estar perdendo algo – também conhecido como FOMO, o acrônimo de “Fear Of Missing Out” (medo de ficar por fora de algum assunto do momento).

Esse temor coletivo aumentou exponencialmente, e as redes sociais são grande parte do motivo. Elas criam a percepção equivocada de que todos estão vivendo uma vida de agitação, felicidade e prazer incrível, enquanto nós seguimos nossa rotina monótona.

Talvez a principal necessidade de todas as pessoas seja serem valorizadas.

No trabalho, essa ilusão se manifesta como a “síndrome do objeto brilhante” – em outras palavras, nos deixamos levar pela novidade, mudando de direção diante de uma nova ideia. Ficamos com a impressão de que, se não estivermos por dentro de cada nova plataforma, programa e técnica de coaching, podemos perder a chance de sucesso.

Ainda pior, porém, é o medo de ser ignorado. Mais aterrorizante do que a perspectiva de não estar no lugar certo na hora certa é a ideia de ser excluído ou descartado:

Atazagorafobia (s.f.): Medo de ser esquecido ou ignorado.

Talvez a principal necessidade de todas as pessoas seja serem valorizadas. Queremos sentir que somos valiosos, que nossas vidas importam e que estamos fazendo a diferença. Isso pode ser saudável quando nos motiva a contribuir positivamente para o mundo.

Mas também há um lado ruim. Com frequência, buscamos a aprovação das pessoas erradas. Acabamos nos submetendo ao conjunto de valores delas, independentemente de serem ou não baseado em princípios sólidos e íntegros.

Com frequência, buscamos a aprovação das pessoas erradas.

E, mais uma vez, as redes sociais tendem a piorar uma situação que já é ruim. Jonathan Haidt, professor da Universidade de Nova York, cita evidências de que a depressão entre jovens do sexo feminino começou a aumentar no mesmo ano em que o Facebook adicionou o botão “curtir” aos posts, intensificando os efeitos corrosivos da conformidade e do anseio por popularidade.

Embora as adolescentes possam ser mais afetadas, poucos de nós são imunes à pressão dos colegas ou à onda de dopamina que vem com o reconhecimento momentâneo e que nos obriga a agradar aos algoritmos.

JULGAMENTOS INSTANTÂNEOS

Em sua incrível palestra no TED Talk, a autora best-seller Susan Cain propõe que a revolução industrial mudou a forma como os indivíduos se relacionam. Na época em que a maioria das pessoas vivia em pequenas comunidades rurais, elas tinham muito tempo para conhecer seus vizinhos e avaliar seu caráter e suas habilidades.

Se somos dignos de reconhecimento, as pessoas de valor nos receberão de braços abertos.

Em grandes centros urbanos, no entanto, o número de pessoas que encontramos diariamente nos obriga a fazer julgamentos mais rápidos. O carisma se tornou a nossa principal métrica para avaliar os outros, embora não haja correlação entre ser extrovertido e ser competente ou ter qualidades.

As consequências são preocupantes. Não apenas os julgamentos instantâneos nos levam a tomar decisões superficiais, eles também encorajam ideais rasas, já que as mais chamativas tendem a ser acatadas. E o medo de ficar para trás continua impedindo que nos concentremos no nosso propósito.

UMA CRISE DE CONFIANÇA

Por que temos tanto medo? Talvez a enorme quantidade de gurus nas redes sociais nos tenha feito perder a confiança em nós mesmos.

Em vez de buscar a validação de autoproclamados influenciadores e líderes de pensamento, devemos cultivar nossos próprios talentos, habilidades e círculo de conselheiros confiáveis.

Quando reagimos às circunstâncias, viramos escravos daqueles que nos rodeiam.

Se somos dignos de reconhecimento, as pessoas de valor nos receberão de braços abertos. Isso vale mais do que uma infinidade de seguidores passageiros ou emojis sorridentes.

A busca incessante por validação pode ter um preço alto, como abrir mão de sermos nós mesmos ou perder a chance de fazermos algo genuinamente positivo para o mundo.

MUDE SUA MENTALIDADE

Quando reagimos às circunstâncias, viramos escravos daqueles que nos rodeiam. Ao escolher conscientemente como respondemos, assumimos a responsabilidade pelo nosso próprio destino.

Também nos tornamos responsáveis pela cultura que incentivamos ao nosso redor. Quando nossos valores éticos são guiados por uma bússola moral confiável, as pessoas que valem a pena impressionar notam.

Uma mudança simples de mentalidade é reafirmar diariamente nosso compromisso em resistir às ilusões da cultura popular:

  • Minha missão é ter sucesso através dos meus valores.
  • Meu propósito é criar, contribuir e servir.
  • Minha busca é ganhar a confiança e lealdade de outras pessoas.
  • Minha referência é ser melhor do que ontem.
  • Minha comunidade é medida pela qualidade, não pela quantidade.

Para escapar da atazagorafobia, precisamos parar de tentar impressionar pessoas que se deslumbram pelos motivos errados e começar a canalizar nossos esforços para melhorar a vida de todos.


SOBRE O AUTOR

Yonason Goldson é autor, apresentador de podcast e palestrante do TEDx. saiba mais