Um método científico para desenvolver a arte de ouvir as pessoas (de verdade)

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Tomas Chamorro-Premuzic 4 minutos de leitura

Ouvir é uma habilidade ainda bastante subestimada. O quanto você se dedica a realmente escutar o que outras pessoas têm a dizer pode revelar mais sobre sua capacidade de liderança do que inteligência ou personalidade. De acordo com um estudo recente, bons ouvintes tendem a apresentar um melhor desempenho no trabalho e a relatar um nível mais alto de bem-estar, além de construir relacionamentos mais profundos e gratificantes. Tendemos a confiar mais em quem nos ouve e costumamos vê-lo como uma pessoa curiosa, empática e emocionalmente inteligente.

Até certo ponto, o valor que damos a bons ouvintes pode ser explicado pelo fato de que é uma característica muito rara. Vivemos em um mundo no qual as pessoas valorizam aqueles que falam muito de si mesmos, são o centro das atenções e sempre expressam opiniões sobre tudo, mesmo quando não têm nada a dizer. Já ser tímido ou introvertido é algo que precisa ser trabalhado a todo o custo. Isso sugere que ainda não estamos totalmente convencidos das vantagens de praticar a escuta, apesar de, socialmente, entendermos sua importância.

Então, como se tornar um ouvinte melhor? O conselho mais simples e objetivo que tenho a oferecer é:

1 . Fique calado(a)

2 . Ouça

3 . Repita os passos anteriores

Mas, é claro, isso é mais fácil na teoria do que na prática. e imagino que você esteja em busca de dicas mais elaboradas e concretas. Décadas de pesquisa científica sugerem que, se quisermos nos tornar melhores ouvintes, devemos trabalhar em quatro pontos fundamentais:

CONCENTRAÇÃO

bons ouvintes tendem a apresentar melhor desempenho no trabalho e a relatar um nível mais alto de bem-estar.

Um dos principais motivos pelos quais a maioria das pessoas tem dificuldade de ouvir, mesmo quando se propõem a fazê-lo, é que não costumamos dedicar nossa atenção 100%. Distrações, estresse, preocupações e fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo interferem na capacidade de efetivamente prestar atenção. Ao contrário do que se costuma acreditar, tarefas que exigem concentração não podem ter atenção dividida.

Ser uma pessoa “multitarefa” é visto como uma habilidade especial. Na verdade, deveríamos enxergar isso da mesma forma como lidamos com o senso de humor ou o gosto musical: não é porque nos achamos bons que realmente somos. Não há problema nenhum em realizar outras tarefas durante uma reunião no Zoom, por exemplo, mas não podemos afirmar que estamos completamente atentos. Se você de fato está se propondo a ouvir, precisa se concentrar. Ponto final.

EMPATIA

A maioria é capaz de sentir empatia, ou seja, ver as coisas sob a perspectiva do outro, mas nem sempre o faz. Fazer o movimento de se colocar no lugar do outro contribui bastante para se tornar um ouvinte melhor. Sem dúvida, é mais fácil quando nos preocupamos com a pessoa. Mas o ser humano demonstra naturalmente empatia e atenção, mesmo quando não nutrimos sentimento algum em relação ao outro. No entanto, se quisermos construir um futuro com mais diversidade e inclusão, não podemos depender apenas de empatia, precisamos praticar ativamente a bondade e a compaixão.

AUTOCONTROLE

ainda não estamos totalmente convencidos das vantagens de praticar a escuta, apesar de entendermos sua importância.

Interrupções são uma grande ameaça à escuta. A menos que consiga ter controle sobre suas emoções, sejam elas positivas ou negativas, você impedirá as pessoas de expor seu ponto de vista. É por isso que praticar o mindfulness, ou atenção plena, é um ato consistente para se tornar um ouvinte melhor. Esperar que a outra pessoa termine seu raciocínio é um exercício simples para manter seus sentimentos e pensamentos sob controle.

Mesmo que você ache que outro está errado ou discorde do que está ouvindo, é muito mais provável que vença a discussão se esperar que a outra pessoa conclua, a menos que não tenha nada a dizer a ela. Se, no fim das contas, você não se importa com o que o outro tem a dizer, não desperdice energia interrompendo-o.

INCLUSÃO

Mesmo que consiga pôr em prática as três primeiras dicas, ainda é importante que a outra pessoa reconheça que você está ouvindo. Ou seja, que entenda o esforço que está fazendo em escutar o que ela tem a dizer. Portanto, quando for sua vez de falar, certifique-se de considerar a perspectiva da outra pessoa, fazer referência ao que ela disse e reagir à sua narrativa e aos seus argumentos dela.

É comum que as pessoas esperem sua vez de falar apenas para, finalmente, fazer o discurso que planejaram antes, ou mesmo enquanto fingiam ouvir. É importante incluir a outra pessoa na sua fala, para que elas também sintam empatia... e te ouçam.

Por fim, vale lembrar que a escuta não é diferente de qualquer outra habilidade. Uns têm mais dom para isso do que outros, mas todos precisamos de prática para nos aprimorar. O feedback de outras pessoas – que nos observam durante ligações, reuniões, discussões – é essencial para melhorarmos, especialmente se apontam quando estamos desatentos. Ser visto como alguém que não presta atenção pode nos fazer sentir culpados o suficiente para querer mudar. E isso, por si só, é um sinal de que estamos ouvindo.


SOBRE O AUTOR

Tomas Chamorro-Premuzic é diretor de inovação do ManpowerGroup, professor de psicologia empresarial na University College London e na ... saiba mais