Tiro no pé: por que usar palavras difíceis não faz você parecer mais inteligente
Todo conhecimento, por mais técnico que seja, pode e deve ser traduzido para uma linguagem acessível, sem sacrificar sua essência

Muita gente ainda acredita que utilizar uma linguagem complexa ou recheada de jargões aumenta a credibilidade. Embora esse recurso possa fazer sentido em conversas entre especialistas de uma mesma área – como cientistas discutindo hipóteses ou engenheiros de software falando com outros engenheiros –, o efeito tende a ser o oposto quando o público é leigo.
Ao se comunicar com quem está fora do seu nicho, o uso excessivo de termos técnicos pode afastar o ouvinte. E quando isso acontece, o risco é grande: a pessoa desliga, perde o interesse e dificilmente absorve a mensagem, muito menos age de acordo com ela. Se o objetivo da comunicação é justamente gerar conexão e engajamento, isso pode ser um tiro no pé.
POR QUE USAR PALAVRAS DIFÍCEIS?
Em muitos casos, o uso de uma linguagem rebuscada está ligado à insegurança. Profissionais que constroem sua identidade em torno de uma suposta superioridade intelectual, mas não se sentem bem-sucedidos, tendem a usar palavras difíceis como forma de se proteger – uma espécie de “cobertor de segurança” linguístico. A ideia é parecer mais inteligente ou mesmo dificultar questionamentos, apostando no desconhecimento da outra pessoa.
Há também um fator de falta de percepção social. Muitos executivos brilhantes não dão à inteligência emocional o mesmo peso que atribuem às competências técnicas em sua trajetória até o topo. O resultado é um descompasso entre o que o comunicador considera importante e o que realmente importa para a audiência.
Ignorar a perspectiva do público é um erro. A comunicação eficaz depende da capacidade de entender como o outro prefere receber a informação. A partir daí, cabe ao emissor moldar a mensagem para que ela seja compreendida e, mais do que isso, que ela engaje o ouvinte.
OS MELHORES COMUNICADORES SÃO OS MAIS SIMPLES
Há quem diga que áreas como história, física ou engenharia de software são complexas demais para serem explicadas em termos simples. Mas isso não é verdade. Todo conhecimento, por mais técnico que seja, pode e deve ser traduzido para uma linguagem acessível, sem sacrificar sua essência.
Um bom exemplo é o físico Brian Cox, professor da Universidade de Manchester. Mesmo tratando de temas tão densos quanto a astrofísica, ele lota auditórios em plena sexta-feira à noite com apresentações compreensíveis e cativantes para o público geral. Se ele consegue fazer isso sem usar palavras difíceis, qualquer um consegue. A diferença está no esforço dedicado a aprender a arte da comunicação clara.

Uma pergunta que costumo fazer a executivos e clientes é: “uma criança de 10 anos entenderia o que você acabou de dizer?”. Se a resposta for não, é sinal de que está na hora de simplificar. Assim como nas histórias infantis, que carregam mensagens profundas sob uma linguagem acessível, o uso de analogias e narrativas pode ajudar a traduzir conceitos difíceis de maneira envolvente.
Convencer alguém a tomar uma decisão exige clareza e empatia. Isso significa conduzir a pessoa por um caminho lógico, passo a passo, usando a linguagem que ela conhece, não a que você domina.
Seja em uma apresentação para o conselho de uma empresa, seja na hora de vender um produto, é fundamental identificar o que realmente importa para o público e moldar a comunicação em torno desses pontos.
Ser um profissional de sucesso não é soar como o mais inteligente da sala, é influenciar, mobilizar e inspirar. E isso se faz, antes de tudo, falando de forma que todos possam entender.