Você conseguiria dominar a arte de ficar em silêncio?

Escutar com clareza não é responder, mas sim voltar-se inteiramente para o que a outra pessoa está dizendo

Crédito: Istock

Dipti Bramhankar 4 minutos de leitura

Se você está empenhado em se tornar a melhor versão de si mesmo, há muitas pessoas e empresas dispostas a oferecer (ou vender) algum tipo de ajuda. Mas, apesar dessas informações estarem prontamente disponíveis, a crescente onda de cortes de pessoal, demissões silenciosas e esgotamento profissional tem dado poucos sinais de desaceleração.

Diante de tudo isso, comecei a me perguntar se a indústria da autoajuda não estaria ignorando um detalhe fundamental. Além do meu dia a dia como estrategista, também sou dramaturga. Atuar com teatro influencia cada vez mais a maneira como funciono no mundo e no meu local de trabalho, de maneiras que eu não teria como prever.

Uma dessas influências é o uso de um método para ajudar as pessoas a estarem presentes no ambiente, conhecido como escuta clara. No início de uma conversa, reunião ou ensaio, cada membro do grupo compartilha o que está passando pela sua cabeça.

A escuta é algo que merece o nosso tempo e nossa energia, e que melhora nossos relacionamentos.

Por exemplo, talvez eles estejam pensando nas compras de supermercado que devem fazer, no e-mail não escrito que precisam enviar, na lesão no ombro ou em algo tão simples quanto querer uma xícara de café. Os outros membros do grupo simplesmente ouvem tudo sem nenhuma interjeição verbal. Quando a pessoa para de falar, os outros dizem “obrigado”, e a próxima pessoa começa.

A primeira vez que fiz esse exercício, admito que fiquei ansiosa para dizer alguma coisa. Ansiosa para reagir ao problema da outra pessoa, para compartilhar algo da minha própria experiência que pudesse ajudar, para me oferecer para ajudar, para participar de sua narrativa.

No entanto, quanto mais eu desenvolvia minha capacidade de ouvir claramente — que não é demonstrar identificação, mas sim me debruçar sobre o que a pessoa está dizendo —, mais eu entendia seu poder.

Pedi a ajuda de um amigo e nós dois começamos uma sessão mensal de escuta. Nos encontrávamos em um café e um de nós falava por um tempo (começamos com 15 minutos), enquanto o outro ouvia. Só trocaríamos opiniões ou conselhos na próxima vez que nos encontrássemos. Os efeitos foram realmente inesperados, garantindo-nos quatro conquistas valiosas.

PRESENÇA

Quando realmente me concentrei na história do meu amigo, comecei a perceber o quão engajada eu estava na conversa. Lembrei de detalhes. Eu podia imaginar certas circunstâncias. Notei com muita clareza seus padrões de fala e seu tom. Esta foi uma experiência que abriu meus olhos. Onde eu estava nas conversas anteriores? Estava realmente presente ou somente lá fisicamente?

CALMA

Enquanto ouvia sem a expectativa de oferecer outra coisa além manter a atenção, comecei a sentir uma calma sobre mim. Eu não precisava mais pensar em um conselho, tirar alguma sabedoria da minha própria experiência, nem mesmo reunir energias para reagir. Também estava sendo ouvida de alguma forma, simplesmente por não dizer uma palavra.

PERSPECTIVA

Quando chegou a minha vez de falar, fiquei surpresa ao descobrir o que saiu da minha boca. Nem sempre foi a coisa mais estressante ou urgente da minha vida, mas às vezes algo mais escondido, mais importante, mas negligenciado porque não parecia tão interessante quanto os outros assuntos.

VISIBILIDADE

As chances de ser ouvida sem distração são preciosas em um mundo cada vez mais conectado, mas também mais isolado e remoto devido, em parte, ao uso de telas em todos os aspectos de nossas vidas diárias. Superei a apreensão inicial de não ser interessante o suficiente. Parei de pensar em como estava soando e pensei no que estava dizendo. Eventualmente, parei completamente de “atuar”.

Um benefício adicional de não avaliar o que a pessoa está dizendo é levar sua experiência ao pé da letra — acreditar nela. Não sou treinada nessa prática, ainda estou aprendendo a me tornar uma ouvinte melhor a cada dia, enquanto incorporo essa aprendizagem em minhas interações diárias.

Mas a estrategista que existe dentro de mim enxerga os benefícios tanto no curto quanto no longo prazo:

• E se uma empresa inteira se empenhasse em ouvir melhor?

• Qual seria a sensação?

• Isso nos ajudaria a aliviar algum desgaste ou estresse que os locais de trabalho contemporâneos criam?

• Isso ajudaria a motivar as pessoas mais quietas a falar com mais frequência, permitindo que elas demonstrassem seu profundo poder de presença e de observação?

• Isso criaria ambientes melhores para conversas mais francas?

• Seríamos mais produtivos, mais objetivos?

As possibilidades são infinitas, mas, por enquanto, vou simplesmente defender a escuta como algo próprio, que merece o nosso tempo e nossa energia, e que melhora nossos relacionamentos.


SOBRE A AUTORA

Dipti Bramhandkar é diretora executiva de estratégia para a América do Norte da empresa Iris. saiba mais