Você é etarista? Provavelmente sim, mesmo que ainda não saiba

Como todo mundo está envelhecendo, a maioria das pessoas estará sujeita ao preconceito de idade em algum momento da vidas

Crédito: Rawpixel

Abby Miller Levy 4 minutos de leitura

Você é preconceituoso com relação à idade das pessoas? Provavelmente, sim – talvez até sem perceber.

O preconceito de idade, conhecido como "etarismo" é um dos “ismos” menos reconhecidos, mas mais difundidos. Ele ocorre quando se faz suposições sobre uma pessoa ou grupo de pessoas com base na idade que você acha que elas têm.

O etarismo se refere aos preconceitos e às distorções que as pessoas nutrem contra indivíduos mais jovens ou mais velhos. Como todos estão envelhecendo, a maioria estará sujeita ao preconceito de idade em algum momento da vida.  

Talvez você não ache que é preconceituoso por não conhecer as três formas mais comuns de preconceito de idade: institucional, interpessoal e autodirecionado. 

- Etarismo institucional: incorporado em leis, políticas e práticas, especialmente por parte dos empregadores, o preconceito etário institucional é amplamente percebido, mas tratado de forma inadequada. Em uma pesquisa nos EUA, quase 80% dos entrevistados com 60 anos ou mais relataram ter sido discriminados por causa da idade. Uma pesquisa europeia constatou que o preconceito de idade foi o  tipo de discriminação sofrido com mais frequência, superando os de gênero, etnia, deficiência, religião ou orientação sexual.

- Etarismo interpessoal: de tão arraigado no dia a dia, muitas vezes passa despercebido. Mas o fato é que o preconceito interpessoal contra a idade é generalizado. Dois em cada três adultos mais velhos (65%) relataram exposição diária a mensagens discriminatórias em relação à idade. Isso inclui ouvir, ver e/ ou ler frequentemente ou ocasionalmente piadas sobre velhice, envelhecimento ou pessoas idosas (61%). 

- Etarismo autodirecionado: é o nosso próprio medo de envelhecer, reforçado por normas sociais e mensagens da mídia, que cria em nós atitudes preconceituosas. Se você já disse “estou velho demais para isso” ou riu de um lapso de memória dizendo “estou ficando esclerosado”, então você é culpado por nutrir preconceitos contra si mesmo. 

POR QUE ESSE ASSUNTO IMPORTA

Aqui estão quatro incentivos pessoais para que você deixe de lado seu preconceito interno com relação à idade. 

1. Você poderia viver mais e com mais saúde: sua mentalidade pode estar tirando anos de sua vida.  Pesquisas mostram que as pessoas com visões positivas sobre o envelhecimento vivem 7,5 anos a mais do que aquelas com visões negativas.  

2. Você corre o risco de afetar sua segurança financeira: o Fórum Econômico Mundial publicou um  relatório sobre etarismo em 2020, resumindo: “a comunidade global tem o papel e a responsabilidade de combater o preconceito de idade, que é a barreira mais impenetrável para a busca de um envelhecimento saudável.” O relatório demonstra como o etarismo afeta negativamente nossas carteiras em termos de perda de produtividade e custos desenfreados com saúde.  

Robert de Niro e Anne Hathaway em cena do filme "Um Senhor Estagiário" (Crédito: Warner Bros.)

3. Você poderia aproveitar mais as fases da sua vida: se você pudesse viver até os 120 anos, isso mudaria sua carreira? Um estudo recente da  AARP registrou que 24% das pessoas com mais de 50 anos dizem que não pretendem se aposentar – nunca. Com mais pessoas trabalhando por mais tempo, o conceito de aposentadoria está desaparecendo, sendo substituído por uma visão mais fluida das fases da vida. 

4. Você poderia impulsionar sua carreira: adote a diversidade de idade para impulsionar o desempenho. Pesquisas mostram que equipes com diversidade de idade criam um trabalho melhor, promovem a mentoria bidirecional e aumentam a satisfação no trabalho.

Em 2020, fundei a  Primetime Partners, um fundo de risco que apoia empreendedores que criam soluções para o tempo de saúde, tempo de riqueza e tempo de trabalho, na esperança de melhorar a experiência do envelhecimento.

Precisamos perder o hábito de fazer comentários depreciativos com base na idade.

Por meio de nosso trabalho, constatei como as três formas de preconceito de idade impedem a inovação e a mudança. A maioria dos preconceitos é inconsciente e não podemos combatê-los se não estivermos cientes disso.

Veja a seguir três atitudes que podemos tomar para nos tornar mais conscientes de nossos comportamentos preconceituosos.

Mudar crenças para ser mais receptivo à idade

Dê uma olhada na biblioteca de imagens do  Age Without Limits  ou na conta do Instagram de David Stewart, @weareageist. Você terá a experiência de ver as diferentes idades e fases da vida através de lentes positivas e provavelmente vai se identificar com essas imagens.

Investir em amizades com pessoas de diferentes gerações

Meu parceiro de negócios, o venerável Alan Patricof, completará 90 anos em mais alguns dias e trabalha em tempo integral. Ele é um dos vários exemplos de uma vida bem vivida em todas as fases. Da mesma forma, meus colegas que dirigem empresas de risco na casa dos 20 anos são influências importantes. O melhor antídoto para o preconceito de idade são os relacionamentos entre gerações. 

Mude o modo de pensar sobre sua própria idade e sobre a dos outros

Quantas vezes eu já disse: “ele está ótimo, para a idade que tem”? Por outro lado, quantas vezes suspirei de frustração e disse: “ah, isso é coisa de millennials”? Precisamos perder o hábito de fazer comentários depreciativos com base na idade.

Pode começar hoje mesmo. Afinal, ninguém aqui está ficando mais jovem.


SOBRE A AUTORA

Abby Miller Levy é sócia e fundadora da consultoria e fundo de investimento Primetime Partners. saiba mais