Você é uma verdadeira mãe (ou pai) para os colegas? Mau sinal (para você)
Ajudar e cuidar de todo mundo o tempo todo pode parecer algo positivo – até começar a afetar sua saúde mental

Toda equipe tem seus gestores e líderes. Mas muitas também contam com uma figura menos oficial, embora igualmente fácil de reconhecer: a “mãe” ou o “pai” do escritório.
É aquela pessoa a quem todos recorrem para pedir conselhos – até sobre assuntos que nem têm a ver com o trabalho. Ela lembra dos aniversários, organiza as confraternizações e, de alguma forma, sempre tem o que alguém precisa.
Um clipe de papel? Claro. Um carregador? Toma aqui. O telefone da recepcionista que ninguém lembra? Prontinho.
Mas o que realmente significa ser a pessoa que cuida de todos no escritório? E será que essa disposição constante para ajudar pode acabar te prejudicando? A seguir, três sinais de que você se tornou a “mãe” (ou o “pai”) da equipe, os riscos disso e como colocar limites, se necessário.
1. Você tem tudo o que os outros precisam
Essas pessoas são fáceis de identificar: estão sempre distribuindo pilhas, band-aids e analgésicos. Jamie Jackson, profissional de RH há mais de 20 anos, percebeu o quanto havia assumido esse papel quando decidiu organizar seu antigo escritório.
“Eu tinha velas de aniversário, isqueiro, todos os tipos de remédio que você possa imaginar”, conta. Para ela, não era apenas uma questão de estar preparada – era também sobre garantir que todos à sua volta se sentissem cuidados e amparados.
2. Todos recorrem a você
Outro sinal claro é a frequência com que as pessoas procuram você para pedir ajuda ou conselhos. “Se elas sabem que podem contar com você, então é bem provável que você seja a ‘mãe’ do escritório”, diz Jackson.
Isso costuma acontecer nas situações mais simples – quando um colega pede sua opinião, busca um conselho ou só quer desabafar.
3. Você é o responsável pela confraternizações
Talvez você seja aquela pessoa que lembra de todas as datas importantes, dos aniversários e até dos bichos de estimação dos colegas. Ou quem sempre acaba organizando os happy hours, as festas da equipe, os chás de bebê e outras comemorações.
Assumir esse papel pode parecer gesto bonito de acolhimento – mas também tem seu lado negativo.
POR QUE ALGUMAS PESSOAS AGEM ASSIM
O comportamento do “pai” ou da “mãe” do escritório geralmente vem de um desejo de agradar os outros. “Pessoas que buscam agradar medem seu próprio valor pelo quanto conseguem ser úteis; o que as motiva é justamente ajudar”, explica a psicóloga organizacional Erica Pieczonka.
É o tipo de pessoa que simplesmente não consegue dizer “não” – e, quando alguém pede ajuda, já se oferece antes mesmo de pensar. Esse padrão pode vir de um comportamento aprendido na infância: a necessidade de agradar figuras de autoridade em busca de aprovação.

Mas, no trabalho, ser o “solucionador oficial” pode atrapalhar sua carreira. “Às vezes, isso te distrai do seu verdadeiro trabalho”, diz Jackson. “É bacana, mas pode virar um problema quando as pessoas começam a se perguntar: ‘afinal, o que exatamente ela faz?’.”
Pieczonka explica que esses profissionais acabam deixando seus próprios objetivos de lado porque estão sempre focados nas necessidades dos outros – e, muitas vezes, têm dificuldade em delegar tarefas. “Elas pensam: ‘se eu pedir ajuda, vou sobrecarregar alguém’ ou ‘é mais fácil eu fazer sozinha’”, aponta a psicóloga.
Além disso, essas pessoas acabam absorvendo a carga emocional da equipe. São as que “organizam os eventos sociais” e aquelas a quem os colegas recorrem “quando estão passando por problemas pessoais”. Com o tempo, esse acúmulo de responsabilidades cobra seu preço. “O burnout é minha maior preocupação”, alerta Pieczonka.
A SOLUÇÃO É IMPOR LIMITES
Jackson aprendeu a lidar com isso criando uma regra: só oferecia ajuda quando podia agendar esse apoio, em vez de estar sempre disponível. “Quando alguém vinha até mim em crise, eu dizia: ‘que tal conversarmos por 15 ou 20 minutos amanhã?’”, conta. “Muitas vezes, a pessoa refletia sobre o assunto nesse meio-tempo e já não precisava mais da conversa.”
Definir limites começa com entender sua própria capacidade. Pergunte a si mesmo: “onde estou investindo meu tempo? Essa é a melhor forma de usá-lo? Quais são minhas verdadeiras prioridades?”.
O comportamento do “pai” ou da “mãe” do escritório geralmente vem de um desejo de agradar os outros.
Pieczonka também recomenda confirmar com a outra pessoa se ela realmente quer – ou precisa – da sua ajuda. “Muitos ‘pais’ do escritório acham que precisam resolver tudo, ou que os outros esperam isso deles, mas nem sempre é o caso.” Ela sugere refletir: “sou a pessoa certa para ajudar nesse momento? Ela quer mesmo a minha ajuda?”.
Por fim, ela reforça que o autocuidado deve ser visto como algo estratégico, não como egoísmo. Pessoas cuidadoras costumam se sentir culpadas por pensar em si mesmas, já que associam o seu valor a cuidar dos outros. Mas é essencial reservar um tempo para si – seja cinco minutos de meditação, uma caminhada ou um treino – e tratar isso como uma prioridade inegociável.
Ser a “mãe” ou o “pai” do escritório vem de uma boa intenção. Mas proteger seu tempo e impor limites é o que garante que você possa continuar ajudando os outros – sem se perder no processo.