5 pontos-chave para montar um plano de carbono zero que vá além das boas intenções
Dentre as 2 mil maiores empresas de capital aberto do mundo, mais de 680 já assumiram compromissos climáticos para zerar suas emissões líquidas de carbono. Mas algumas dessas metas são casos flagrantes de greenwashing – uma espécie de “maquiagem verde”, na qual as empresas anunciam boas intenções quanto à sustentabilidade, mas mudam poucas atitudes na prática. A Exxon, por exemplo, promete reduzir as emissões nas operações internas, mas ignora a poluição dos clientes que queimam seu combustível.
Em um relatório recente, o instituto sem fins lucrativos NewClimate avaliou os planos de emissão zero de 25 grandes empresas e concluiu que, na prática, elas reduziriam as emissões em apenas 40% em média – e não 100%, como alegam. “Nós nos propusemos a descobrir o maior número possível de bons exemplos que fossem replicáveis, mas ficamos desapontados com o alcance real, na maior parte dos casos, das reivindicações das empresas”, lamentou Thomas Day, principal autor do relatório.
Veja o que os especialistas recomendam que as empresas façam para que suas promessas de carbono zero sejam mais viáveis e confiáveis:
- COMPROMETA-SE A ZERAR AS EMISSÕES LÍQUIDAS O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL, MAS INCLUA METAS PROVISÓRIAS
Para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, a economia global precisará atingir a marca de zero emissões líquidas até 2050. Quaisquer emissões remanescentes de gases de efeito estufa podem ser compensadas pela remoção de CO2 da natureza ou da tecnologia. Para as empresas, isso significa zerar as emissões líquidas até, no máximo, a metade deste século. É claro que, quanto mais cedo isso acontecer, melhor.
Algumas estão agindo rapidamente: a Microsoft, por exemplo, prometeu tornar-se negativa em carbono até 2030. As organizações com o objetivo de atingir zero emissões líquidas até 2050 precisam estabelecer metas provisórias claras, para que elas comecem a cair desde já. No relatório, o NewClimate recomenda a definição de uma primeira meta que não ultrapasse o prazo de cinco anos e que demande ação e responsabilidade imediatas.
- FOQUE NA REDUÇÃO RADICAL DAS EMISSÕES, NÃO NA COMPRA DE COMPENSAÇÕES
As empresas precisam fazer cortes profundos em suas próprias emissões, em vez de depender do plantio de árvores ou de outros projetos que ofereçam créditos de carbono. A iniciativa Science Based Targets, que avalia e valida as metas corporativas para reduzir as emissões de acordo com a ciência do clima, tem um Net Zero Standard que explica que, na maioria dos setores, as empresas precisarão cortar diretamente as emissões em 90% ou mais até 2050.
Em alguns, como a agricultura, a meta é uma redução de 80%, já que essas emissões são inerentemente mais difíceis de eliminar. A Ceres, uma organização sem fins lucrativos, divulgou no início deste ano um relatório com orientações para investidores avaliarem a viabilidade dos compromissos carbono zero com o uso de créditos de carbono. Segundo ela, “os créditos de carbono sozinhos não podem ser usados para atingir o ponto ‘zero líquido’ de emissões”.
- CONSIDERE AS EMISSÕES DA CADEIA DE VALOR COMPLETA
A maioria das empresas considera que, depois de vendidos, as emissões dos seus produtos estão fora de seu controle direto (no jargão climático, são emissões de “Escopo 3”). A maior parte da pegada de carbono média de uma calça jeans, por exemplo, vem do cultivo do algodão e da fabricação do tecido, mas também dos consumidores, quando a lavam. Portanto, para realmente combater as emissões, as empresas precisam incluir em suas metas toda a cadeia de valor.
Considerar os fornecedores e trabalhar em parceria com eles também pode ajudar indústrias inteiras a se descarbonizarem mais rapidamente. “Você realmente precisa entender as emissões incorporadas no que está vendendo”, defende Nash. “O que também notamos é que grande parte da inovação pode ocorrer entre os membros business-to-business de uma cadeia de valor, se trabalharem juntos.”
- SEJA TRANSPARENTE
Ceres aconselha as empresas a divulgar publicamente suas metas de curto, médio e longo prazo, juntamente com seus planos de transição para atingir essas metas. “O objetivo final é uma parte do todo, mas é preciso ser capaz de enxergar quais ações concretas uma empresa tomará para conseguir essas reduções”, explica Nash. Também devem ser divulgadas as emissões “residuais”, aquelas que não poderão ser eliminadas, assim como a porcentagem das emissões que serão compensadas por meio de créditos de carbono.
- ESCOLHA CRÉDITOS DE CARBONO CONFIÁVEIS
À medida que as empresas reduzem as emissões o máximo possível, os créditos de carbono que elas comprarão para compensar o restante precisam ser cuidadosamente escolhidos. O mercado voluntário de carbono – que ultrapassou US$ 1 bilhão no ano passado – tem muitas falhas. Alguns projetos são menos consistentes do que outros. Ainda assim, o financiamento proveniente da compensação desempenha um papel importante na proteção das florestas e em outros projetos necessários para atingir as metas climáticas.