A pandemia acabou com o consumo desenfreado?

Crédito: Fast Company Brasil

Adele Peters 2 minutos de leitura

Uma pesquisa recente com milhares de consumidores do mundo inteiro mostrou que metade deles perceberam na pandemia que possuíam roupas demais. Cerca de 44% disseram que quando fazem compras — qualquer uma, não apenas de roupas – marcas estão se tornando cada vez menos importantes; 53% afirmaram que estão mais propensos a consertar objetos e produtos danificados do que comprar um novo. E, enquanto cerca da metade aponta mudanças em seus hábitos de compra por motivos financeiros, quase um terço atribui isso a uma preocupação com sustentabilidade, uma tendência que provavelmente continuará após a pandemia.

A pesquisa, Future Consumer Index promovida pela EY, é a oitava edição de um projeto que começou em abril de 2020, enquanto a Covid-19 se espalhava pelo mundo. “O objetivo era apenas entender quais eram as mudanças fundamentais que estavam ocorrendo”, diz Kristina Rogers, líder global de consumo na empresa de consultoria EY. As pessoas começaram a mudar suas prioridades em relação ao consumo por causa da pandemia, afirma ela, e muitos estão decidindo comprar menos, priorizando produtos com melhor qualidade e que durem mais.

Muitos que trabalham de casa, cercados por produtos e objetos, têm a percepção de que já possuem muita coisa. “Há essa tendência de ser mais atencioso em termos do que comprar no futuro”, diz Rogers. (Apesar de que a quantidade de navios cargueiros atracados nos portos possa indicar que os hábitos reais das pessoas são diferentes do que aponta a pesquisa).

Agora, menos pessoas — apenas 27% — afirmam que compram mais coisas porque isso as deixa felizes. Enquanto 85% dizem levar em conta a sustentabilidade ao fazer compras. “Muitas vezes há uma grande diferença entre a intenção e a ação dos consumidores, então não sabemos qual será o resultado real”, explica Rogers. “Mas estamos vendo agora um número grande de consumidores prontos para fazer compras de forma mais bem informada visando o bem da sociedade. O que significa que há uma demanda maior por marcas e empresas que assumem a responsabilidade de liderar mudanças positivas.”

Marcas talvez queiram repensar seus produtos. “Além das medidas que algumas empresas já estão tomando para cumprir a meta ESG (Environmental, social and corporate governance), elas precisarão prestar atenção nestes dados e continuar a monitorar quais segmentos de consumidores estão utilizando sustentabilidade e direitos dos trabalhistas como critério de compra, bem como sua propensão a pagar mais por produtos de origem sustentável e ética”, destaca.

“À medida que esses segmentos de consumidores crescem e aumentam a demanda por mudanças, as empresas precisarão rever suas práticas de negócios em toda sua cadeia, desde abastecimento até produção e criação de demanda”, acrescenta Rogers. “O fast fashion, por exemplo, propõe um modelo de ‘compra, uso e descarte’ que não é adequado para o futuro. E, uma vez que este modelo de produção e venda não cabe mais, o fast fashion precisa considerar alternativas, como produtos com qualidade superior, itens mais caros, modelos de assinatura, modelos circulares de revenda, etc.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais