Acredite ou não, a extinção de espécies é um problema de negócios

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Ben Lamm 4 minutos de leitura

A cada ano, 30 mil espécies são extintas e uma em cada milhão costuma estar em risco de extinção. Esses cálculos alarmantes foram feitos por E. O. Wilson, biólogo de Harvard.

Como você provavelmente ainda não sente o prejuízo dessas mudanças em seu escritório no centro da cidade, pode acreditar que isso não vai afetar os negócios. Mas a verdade é que a crise de extinção é, sim, uma crise também de negócios.

De acordo com a consultoria Boston Consulting Group (BCG), a economia global perde mais de US$ 5 trilhões por ano devido ao declínio da funcionalidade do ecossistema, com a perda de serviços naturais. Incríveis US$ 44 trilhões – mais da metade do produto interno bruto global –

A extinção, em seu ritmo atual, vai causar o colapso dos mercados financeiros se nenhuma ação urgente for tomada.

dependem da natureza, incluindo alimentos, materiais e combustível, de acordo com o UNPRI (Princípios para o Investimento Responsável, uma rede internacional de instituições financeiras apoiada pelas Nações Unidas).

Ou seja, os impactos econômicos da perda de espécies e da falta de diversidade são também um problema comercial. E isso não é algo que vai acontecer só no futuro. Está acontecendo hoje. 

A falta de biodiversidade afetará os ecossistemas ambientais, o que vai ameaçar a capacidade de produção e as cadeias de suprimentos. Inadimplência, falências e queda no valor de mercado das empresas podem ocorrer, impactando credores, índices de ações e investidores. Empresas, indústrias e economias inteiras estão ameaçadas se os ecossistemas entrarem em colapso.

A extinção de espécies impacta a economia de forma direta, indireta e fatal.

DIRETA

Um exemplo óbvio é a produção de alimentos. Espécies polinizadoras, como as abelhas, estão em constante declínio. No entanto, as plantas que dependem da polinização representam 35% a 75% de todas as culturas.

A extinção dos polinizadores reduzirá severamente a capacidade de plantio dessas culturas. A perda de polinizadores coloca em risco a produção agrícola global anual, uma perda estimada entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões no valor de mercado estimado. 

INDIRETA

Um exemplo mais recente está relacionado à pandemia de Covid-19, que viu a média do PIB global cair 3,9% de 2019 a 2020, tornando-se a pior recessão econômica desde a Grande Depressão. No início de 2022, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou uma queda de US$ 12,5 trilhões na produção global devido à pandemia.

Pesquisa publicada no Lancet Public Health mostra como as atividades antropogênicas impulsionam o surgimento de doenças zoonóticas e como esses efeitos podem exacerbar os gatilhos iniciais, resultando em ciclos de efeitos colaterais que provavelmente causarão futuros surtos. Prevenir o desmatamento e a extinção é fundamental para evitar os custos de futuras pandemias.

FATAL

 Por fim, a extinção e o impacto econômico do declínio das funções reguladoras naturais (ou seja, árvores e plantas que protegem os ambientes) aumentam os desastres ambientais que atingem muito mais do que as indústrias que dependem de insumos naturais para sua produção. Por exemplo, inundações, ondas de calor e clima instável custam trilhões à iniciativa privada.

A falta de biodiversidade afetará os ecossistemas ambientais, o que vai ameaçar a capacidade de produção e as cadeias de suprimentos.

Um relatório recente descobriu que inundações e outros desastres relacionados à água podem custar US$ 5,6 trilhões à economia global até 2050. Condições climáticas extremas, como cheias, tempestades e secas, causaram US$ 224 bilhões em perdas em 2021.

“A extinção, em seu ritmo atual, vai causar o colapso dos mercados financeiros, o que acontecerá pouco antes da extinção da raça humana, se nenhuma ação urgente for tomada”, escreveram Jill Atkins e Barry Atkins no livro "Around the World in 80 Species" (Volta ao mundo em 80 espécies, em tradução livre).

Mas esse não precisa ser o nosso futuro.

BIODIVERSIDADE É UM BOM NEGÓCIO

Investidores e empresas podem começar a pensar na extinção como uma questão de sistemas de negócios e adaptar as atividades de investimento para gerenciar a perda de biodiversidade como um risco sistêmico, em vez de apenas por meio de participações individuais.

Ao mudar a forma como pensamos sobre a extinção, de um problema ambiental para um problema econômico, podemos lidar com as iniciativas e o financiamento de uma nova maneira.

Qualquer perda de espécies enfraquece a funcionalidade de um ecossistema.

A cúpula sobre biodiversidade COP15 foi um passo importante na proteção da natureza. Conforme negócios e investimentos vão avançando de maneira inteligente, também devemos continuar inovando para descobrir a ciência necessária para preservar todas as espécies que conseguirmos.

Quanto mais pudermos proteger espécies específicas, mais chances teremos de proteger todas as variedades. E, para cada espécie que protegemos, mais chances temos de fortalecer as economias, as populações e o planeta.

Qualquer perda de espécies enfraquece a funcionalidade de um ecossistema. O ecossistema ao qual nos referimos quando estamos falando sobre extinção é ambiental, mas é fundamental expandir esse conceito, incluindo também o ecossistema de negócios.

Uma abordagem coletiva para gerenciar e responder às perdas não impede o crescimento do lucro. Na verdade, desenvolver tecnologias para preservar espécies é a única maneira nos mantermos e de incentivar o aumento da receita, da capacidade comercial e dos sistemas econômicos dos quais dependemos.


SOBRE O AUTOR

Ben Lamm é cofundador e CEO da Colossal Biosciences. saiba mais